segunda-feira, 15 de julho de 2013

CAOS POLÍTICO

Temos assistido a episódios verdadeiramente tristes e vergonhosos na vida política nacional quando alguns já pensavam que tínhamos batido no fundo.
Depois de se efectuar um balanço desastroso de dois anos de acção governamental, as peças do dominó começaram a cair assim que Vítor Gaspar se demite, reconhecendo o falhanço da estratégia orçamental recheada da austeridade que aplicou. Gaspar já se tinha perdido no caminho há muito tempo. Deixou o país com uma taxa de desemprego a rondar os 18%, enfrentamos uma grave espiral recessiva e a dívida pública disparou fortemente. É importante realçar que foi o PSD e o CDS que empurraram o país para eleições e que diziam há pouco tempo que o sol brilhava…
Posteriormente, o líder de um dos parceiros de coligação bate com a porta. Depois de tantas humilhações, Paulo Portas pede a demissão, mas não demora a dar sinais de vida porque quer ser promovido. O cheiro do poder é tão intenso que o que é “irrevogável” rapidamente deixa de o ser. Não há forma de explicar esta cartada completamente irresponsável, vinda de um animal político como Portas (ele que tantas vezes falou em “sentido de Estado”). Esta jogada tirou-lhe as vidas que restavam das sete…
Os portugueses estão preocupados com aqueles que vivem num mundo imaginário e não querem mais malabaristas. Vejamos ao estado a que isto chegou: o PSD ganhou as eleições mas, no meio desta embrulhada, até já está disponível para entregar os principais poderes ao CDS. Os últimos acontecimentos feriram gravemente o Governo, a sua credibilidade é zero, e nada se iria alterar caso avançasse uma remodelação.
Do outro lado da barricada, o Presidente da República assistiu a esta calamidade política de forma impávida e serena durante vários dias, decidindo falar ao país apenas no dia 10 de Julho (aguarda-se, agora, uma segunda declaração para explicar com clareza o que foi dito).
A comunicação de Cavaco Silva surpreendeu, não dando aval ao acordo fictício proposto por Passos Coelho e Paulo Portas. O chefe de Estado quer um acordo de “salvação nacional” entre PSD, PS e CDS até a “troika” abandonar o país. Na falta de uma posição corajosa do Presidente da República, nada a que já não estivéssemos habituados, a realidade é que as probabilidades de os partidos aguentarem o barco até Junho de 2014 são praticamente inexistentes. Não percebo como é que os três partidos vão entender-se quando os parceiros de coligação andam às turras e quando se sabe que o PS não apoiará o Governo sem eleições. O Executivo ficou ainda mais fragilizado (não sei o que falta acontecer para Passos Coelho pedir a demissão) e o PS vai livrar-se desta embrulhada.
As incertezas são muitas e o melhor era que Cavaco Silva dissesse algo como isto: “Bem, ultrapassamos os limites. Isto está um caos e agora batemos mesmo no fundo. Vou dissolver o Parlamento e marcar eleições”. É óbvio que há factores que desaconselham a realização de eleições antecipadas, como a entrada tardia do Orçamento do Estado para 2014, no entanto, é uma medida “excepcional” para tempos políticos “excepcionalmente” caóticos e medíocres.
Em suma, Portugal está ligado às máquinas e o pessimismo é assustador ao vermos comportamentos que roçam a garotice, que são pouco responsáveis e que brincam com o esforço de todos os portugueses.

Comentário político na "Rádio Alto Ave" e jornal "Geresão" (12/07/2013).