terça-feira, 16 de dezembro de 2014

PINCELADAS POLÍTICAS

Encontrando-nos na recta final de 2014, é hora de lançar breves notas, relativamente ao presente ano, e fazer previsões sobre alguns dos nossos políticos.

Cavaco Silva: O chefe de Estado cometeu um equívoco clamoroso, que marcou o ano de 2014, ao dizer que os portugueses podiam "confiar no Banco Espírito Santo”. Passados dez dias, deu-se o colapso do banco. É deveras preocupante chutar para a bancada, num jogo tão importante.
          
Passos Coelho: As verdadeiras reformas estão por fazer, continua a exigir pouco dos seus ministros (ninguém percebe porque ainda arrasta na lama, nomeadamente, Nuno Crato), e o cumprimento do défice para 2015 será conseguido à custa da redução de apenas 4% da despesa. Aliás, Portugal foi, percentualmente, o país intervencionado que menos cortou na despesa. Assim, é fácil governar.          

Paulo Portas: Ainda está a tentar sacudir a sua irrevogabilidade assumida em 2013. Sofrerá sérias consequências, no próximo acto eleitoral, da sua atitude pouco séria e honesta.          

Paulo Macedo: Na actualidade, é, de longe, o ministro mais competente do Governo. Não é todos os dias que vemos um ministro enfrentar, sem medo, a poderosa indústria farmacêutica. Não é todos os dias que vemos um ministro saber negociar, e também não é todos os dias que vemos um ministro a passar mais tempo nos gabinetes, a trabalhar, do que a dar entrevistas.

Miguel Macedo: O mais político dos ministros teve uma saída digna e honrada, levando ao disparo da sua credibilidade política. Um político deste nível tem de voltar à linha da frente.          

António Costa: A fasquia não poderia estar mais alta: é visto como o D. Sebastião. A sua enorme experiência política poderá trazer significativos consensos, o que me leva a acreditar que, se for eleito, conseguirá cumprir a sua missão.
         
Jerónimo de Sousa: Nos últimos anos, o PCP destacou-se pela profunda renovação dos seus quadros dirigentes. Um partido rejuvenescido!

Catarina Martins: Não convence. O barco continua a balançar, e o pior vem aí: eleições legislativas, no próximo ano.          

Durão Barroso: Regozijei-me ao ver um português a avançar para a liderança da Comissão Europeia mas, depois, revoltou-me vê-lo como um dos principais impulsionadores da brutal austeridade que nos arrasou.

António Guterres: Está mais virado para Nova Iorque do que para Belém. Pudera! O cargo de secretário-geral da ONU é prestigiante, enquanto que a nossa política, no momento actual, não é particularmente entusiasmante. Se não for para a ONU, será, obviamente, pressionado pelo PS.          

Rui Rio: Liderança do PSD ou eleições presidenciais de 2016? Acredito que será o substituto de Passos Coelho, no partido “laranja”.

Marcelo Rebelo de Sousa: Desejado por muitos portugueses, penso que só progredirá para as presidenciais, se Guterres rejeitar avançar.          

Mário Soares: Fez 90 anos. Amado por uns, odiados por outros, a verdade é que é um dos pais fundadores da nossa democracia. Bem mais marcante que as afirmações polémicas, nos últimos tempos, é o seu longo passado político.
          
António José Seguro: Ferido depois de um duro combate contra Costa, acredito que não voltará, tão cedo, à vida política. Aprecio a sua seriedade e integridade.

José Sócrates: Vamos deixar a justiça fazer o seu trabalho, no entanto, a forma como o antigo primeiro-ministro foi detido deixa-me bastante preocupado. De realçar que é inocente até ser considerado culpado em sentença judicial condenatória transitada em julgado.

Perante este cenário, e como é possível verificar, o ano de 2015 promete ser explosivo…

Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (10/12/2014).

sábado, 15 de novembro de 2014

UM TRISTE ESPÉCTACULO "CIRCENSE"...

Não é novidade nenhuma que alguns ministérios do nosso Governo andam às voltas à procura de rumo, mas ninguém pensaria que o responsável pela pasta da Economia fosse também afectado pelo mesmo “surto”.
Parece que o Governo está a fazer um “harakiri” colectivo, com Nuno Crato, Paula Teixeira da Cruz e Pires de Lima, na linha da frente.
Os primeiros momentos de pouca lucidez do ministro Pires de Lima surgiram quando apelidou de “brigada do resgate” o grupo de subscritores do documento que apela a uma solução para a PT. É, claramente, um desrespeito golpear homens com reconhecida idoneidade moral, como Bagão Félix, Freitas do Amaral, João Ferreira do Amaral e José Silva Peneda, quando, ainda por cima, objectivam a manutenção da empresa na esfera nacional.
Depois, no dia 6 de Novembro, fez um “espectáculo circense” digno de fazer inveja ao Victor Hugo Cardinali.
Sr. ministro, desculpe “qualquer coisinha”, mas esta actuação decorreu na casa da democracia portuguesa. Admito que já vi um pouco de tudo, na Assembleia da República (AR), mas foram acções esporádicas, que duraram apenas breves segundos, e não um longo e desesperante número a roçar o brejeiro e o sarcasmo.
É óbvio que, numa ida do ministro da Economia à AR, esperamos soluções para a débil situação em que nos encontramos. No entanto, compreendo o actual estado económico do nosso país, quando Pires de Lima consegue juntar, na mesma frase, as seguintes palavras: recuperação do investimento, ketchup, e Ronaldo.
Nem tocando no “basqueiro”, uma das atitudes de mais baixo nível surgiu quando o ministro disse: “Sei que a deputada é uma deputada fina, aqui, das zonas de Lisboa”. Belisquem-me… Não estamos mesmo na República das Bananas? A linguagem é indecente! E, depois, estranham quando verificam que os portugueses andam completamente descontentes com os nossos políticos.
Ainda pior do que tudo isto, mente numa crítica que queria fazer a Manuel Pinho. São atropelos que acontecem, quando não estamos confiantes, no momento da actuação.
Enfim, foi mau demais para ser verdade. Um triste espectáculo que envergonha um Governo desavergonhado.
Anoto que os famosos “cornos” de Manuel Pinho, que o levaram à demissão, poucas horas depois do gesto, não são nada ao lado da palhaçada de Pires de Lima.
Há que ter dignidade, enquanto fazem parte do Governo! 
Agora, uma pergunta para um milhão de euros: o que virá a seguir?

Comentário político na "Rádio Alto Ave" e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (09/11/2014).



quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A "CALDEIRADA" DA JUSTIÇA E DA EDUCAÇÃO


A vida política nacional começou a ferver e, agora, está a gerar um maior interesse.
Finalmente, o Governo irá ter uma oposição forte, com a vitória de António Costa nas primárias do Partido Socialista (PS). 
As eleições legislativas aproximam-se, e há sérias desconfianças sobre a continuidade da coligação.
Temos dois ministros - Paula Teixeira da Cruz e Nuno Crato, especialistas em criar colapsos, que só Passos Coelho saberá as razões pelas quais ainda os mantém em dois dos Ministérios mais importantes, como a Justiça e a Educação. 
Primeiro, tivemos um terramoto na Justiça, onde se avançou com uma reforma, e diga-se, feita em cima do joelho, mandando às urtigas, nomeadamente, os interesses de várias populações e os alertas dos dirigentes sindicais do sector. 
Resultado? Um cenário absurdo e preocupante. 
O distrito mais afectado pela reforma é Vila Real (um dos distritos mais pobres do país); 3,5 milhões de processos desapareceram do sistema (Luís de Matos, isto tem o teu dedo?); muitas empresas não conseguem cobrar as suas dívidas, por causa dos graves problemas do sistema informático Citius; inúmeras obras por concluir, nos tribunais, levaram à instalação de salas de audiências em contentores; a maioria dos tribunais continua a trabalhar em serviços mínimos; faltam centenas e centenas de funcionários judiciais, etc, etc. 
República das bananas? Não, isto está mesmo a acontecer, no país de Camões. 
É de realçar que, por estas e por outras, os investidores estrangeiros fogem de Portugal como o diabo foge da cruz. 
O que há a fazer? Fácil: a ministra da Justiça pede desculpa, e lá continuarão a governar com base, essencialmente, na racionalidade económica. 
Depois, temos também o inacreditável, na Educação. Listas de colocação tardias, e, como se não bastasse, um erro na fórmula matemática que levou à colocação de 880 docentes, de forma incorrecta. 
O resultado foi que, cerca de 150 docentes que estavam já a trabalhar, há duas semanas, voltaram ao desemprego. Algo está mal, ou melhor, a mais, na nossa educação. O que há a fazer? Fácil. O ministro da Educação pede desculpa, e fica tudo resolvido. Parece que o senhor ministro anda a brincar às casinhas, desrespeitando todos aqueles que têm a nobre missão de ensinar.
Se Nuno Crato não gosta de professores, porque não ficou, por exemplo, com a pasta dos Negócios Estrangeiros? 
Da mesma forma que eu não aprecio, particularmente, o bowling, logo, nunca aceitaria um pedido para avançar com uma candidatura à direcção da Associação Portuguesa de Bowling. É, assim, tão difícil de entender? 
Mas a situação ainda piora, quando directores de escolas dizem que o erro podia ter sido detectado até por alunos do 7º ano. Bem, parece que mais pessoas obtiveram equivalências... 
Fica, aqui, uma dica para todos os alunos do 7º ano: se o professor de matemática perguntar quanto é 5 vezes 5, e se responderem 30, façam como o ministro Nuno Crato, ou seja, mantenham a calma e peçam desculpa. Pode ser que resulte. 
O que mais impressiona é que acontece tudo isto, e nem a ministra da Justiça, nem o ministro da Educação se demitem. Estão, verdadeiramente, presos ao lugar, e nem dois sismos de magnitude 10, na escala de Richter, são suficientes para os fazer saltar da cadeira. 
Isto é absolutamente ridículo! Não basta pedir desculpas, há que assumir responsabilidades, perante tanta incompetência. A não ser que a estratégia passe por deixarem-se queimar, em lume brando. 
A teimosia de Passos Coelho continua a ser o seu maior defeito. Arrastou, desnecessariamente, Miguel Relvas na lama, e o mesmo quer fazer com Paula Teixeira da Cruz e Nuno Crato. Aliás, o primeiro-ministro exige muito dos portugueses, mas pouco dos seus ministros.

Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (10/10/2014).


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O "ALVO" GUTERRES...

A vida política nacional está bastante animada com as primárias do Partido Socialista (PS), porém, as próximas eleições presidenciais já fazem, igualmente, correr muita tinta.
Começando pelos candidatos mais prováveis, à direita, temos Santana Lopes, Durão Barroso, Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio.
É fácil prever que, tanto Durão como Santana nunca irão sair vencedores das próximas eleições presidenciais.
Santana Lopes até é considerado uma espécie de “gato de sete vidas”, mas o problema é que os portugueses preferem os cães aos gatos (segundo um estudo feito pelo Euromonitor International).
No caso de Durão Barroso, o povo luso não se esquece que o ex-primeiro ministro pôs-se a milhas do país que colocou, verdadeiramente, de tanga (previa um défice de 2,8%, em 2004, mas as contas públicas deram um enorme trambolhão). Já para não abordar o facto de, o ainda presidente da Comissão Europeia ter sido um dos principais impulsionadores da brutal austeridade que nos arrasou.
Compreende-se o facto de o líder do Partido Social Democrata (PSD), Passos Coelho, preferir Santana ou Durão, pois só assim continuaria a “controlar” o Presidente da República, o que dificilmente conseguirá fazer com Marcelo ou Rio.
Sem dúvida que, o Professor Marcelo e o antigo presidente da Câmara Municipal do Porto serão os melhores candidatos da direita. São homens com perfil de candidato presidencial, mas como Passos não deseja um Presidente interventivo, já pode começar a cravar os primeiros pregos no caixão!
À esquerda, é António Guterres quem tem, claramente, as melhores condições para ganhar as eleições, sendo uma figura extremamente consensual. É um homem de diálogo, que facilmente constrói pontes, e o seu humanismo e reputação internacional fazem dele um candidato praticamente imbatível.
Numa altura em que o PS se encontra fortemente dividido, é certo que Guterres irá conseguir arrastar consigo o partido, assim como, outros esquerdistas, e, além disso, tem a capacidade de conquistar votos do centro-direita.
Há um sinal muito importante que leva a crer que António Guterres será candidato. Em Novembro de 2012, pediu desculpa aos portugueses, assumindo que tem uma quota-parte de responsabilidade, pela situação em que o país se encontra. Isto quer dizer muita coisa. Poder-se-á perceber que, o significado deste pedido de desculpas não é mais do que a vontade de querer “fazer as pazes” com todos os portugueses, reconhecendo, com humildade, os seus erros, o que acaba por demonstrar que ambiciona algo mais, num futuro próximo.
Caso Guterres rejeite ser candidato, o PS vai ter muitas dificuldades em encontrar um candidato tão forte.
António Vitorino e Jaime Gama são as melhores alternativas, mas não têm a mesma força mobilizadora que o actual Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados.
A cerca de um ano e meio das presidenciais, já é evidente que estas terão um “alvo”: Guterres. A esquerda deseja-o, mas a direita atirará, certamente, “pedras” a uma “árvore” que dá frutos.

Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (11/09/2014).

sábado, 12 de julho de 2014

"BITAITES" SOBRE O MUNDIAL...

Desde que a bola começou a rolar no país do samba, parte dos portugueses deixou de acompanhar a actualidade política nacional.
Vamos esquecer, nomeadamente, o Governo (às vezes tem as suas vantagens) e, como milhares de treinadores de bancada, há que mandar uns “bitaites”, como dizia o saudoso Professor Hernâni Gonçalves, sobre o Mundial de futebol.
Uma das coisas que marcou o maior evento de futebol do mundo foi as várias manifestações contra os excessivos gastos. Uma pergunta: será que a organização deste Mundial obteve informações, através do antigo director do Euro 2004?
Nós construímos o Estádio do Algarve, para receber super-especiais do Rali de Portugal, e o Brasil construiu a Arena Amazónia que poderá vir a tornar-se prisão temporária, uma vez que Manaus não tem qualquer equipa nas quatro divisões nacionais do Brasil.
Só não dá vontade de rir porque Portugal gastou cerca de 60 milhões de euros, na construção do dito estádio, e o Brasil gastou mais de 200 milhões de euros, na Arena Amazónia.
Em relação à nossa selecção, podemos afirmar que a tragédia começa no dia 19 de Maio. A convocatória não tinha pés nem cabeça, ou melhor, tudo dependia dos objectivos de Paulo Bento. Se o objetivo era conhecer apenas Salvador, Manaus e Brasília, então acertou em cheio nos jogadores convocados! O melhor jogador do mundo bem tentou conhecer mais estádios do país de Machado de Assis…
Mas, sinceramente, até fiquei surpreendido com a nossa prestação. Apontava para a conquista de dois pontos (empate com EUA e Gana), no entanto, conseguimos uns incríveis quatro pontos.
Uma das coisas que não percebo é a razão do porquê da chegada da Alemanha, ao Brasil, bem mais cedo do que nós.
Também não percebo o facto de a selecção da Bélgica ter chegado ao Brasil, antes de Portugal, mesmo só jogando depois da nossa selecção. O único senão é que, como dizia Thomas Edison: "O génio consiste em um por cento de inspiração, e noventa e nove por cento de transpiração."
Paulo Bento, uma coisa é ter punho firme, roçando a arrogância e irritação, outra coisa é ter falta de humildade em reconhecer os erros.
Admiro homens como Cesare Prandelli. Alguns minutos depois de a Itália ser eliminada, o ex-seleccionador assumiu a culpa e demitiu-se. Palavras para quê? 
A equipa da casa também não teve um comportamento positivo. Foi atropelada pela Alemanha, juntando-se aos “históricos” Zaire e Haiti como as únicas selecções que sofreram cinco golos, na primeira parte. Ficou provado que, uma campanha vitoriosa do Brasil dependeria sempre de Neymar.
De realçar o excelente comportamento da Colômbia, de James Rodríguez, da Argélia, de Slimani, e da Costa Rica, de Bryan Ruiz, ao passo que a Espanha nem se equipou.
Escrevo este comentário na noite que a Argentina venceu a Holanda, nas grandes penalidades. Mesmo sem exibições de encher o olho, o país das pampas conseguiu chegar à final.
Messi já chegou a dar um ar da sua graça, mas a Argentina bem precisa de mais genialidade, para tentar quebrar a organização e estratégia alemã.
E agora? Bem, Gary Lineker já havia dito: "O futebol são onze contra onze e, no final, ganha a Alemanha"...

Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (09/07/2014).

sexta-feira, 13 de junho de 2014

SEGURO, ASSIM ,NÃO!

Contra a maioria das expectativas, o Partido Socialista (PS) conquistou apenas uma vitória magra, nas eleições europeias, quando tinha tudo, ou melhor, quase tudo, para atingir um excelente resultado.
Depois de o Governo de coligação arruinar a economia, destruir postos de trabalho, empobrecer o país, aumentar a dívida pública, e colocar o país mais desigual, a direita tem, obviamente, a maior derrota de sempre, ao passo que o PS não consegue atingir um resultado convincente. A verdade é que os portugueses revelam um enorme descontentamento, em relação ao Governo, mas não confiam em António José Seguro.
É justo realçar um apontamento de Miguel Sousa Tavares, feito há vários meses, no qual referia que Passos Coelho e Seguro são “gémeos separados pelas juventudes partidárias”. Parece que muitos portugueses concordam com esta afirmação.
Naturalmente que muitos socialistas ficaram apreensivos com o resultado, porque estas eleições representavam um duro teste ao Governo e, ao mesmo tempo, um teste também à liderança do PS. Ficou claro que será impossível Seguro conseguir uma maioria absoluta, nas próximas eleições legislativas.
O partido “rosa” aumentou ainda mais o seu ponto de ebulição, quando António Costa se mostrou “disponível” para a liderança do PS. Após a atitude de Costa, Seguro só tinha um caminho: convocar imediatamente um congresso extraordinário.
Quem está na liderança de um partido em profunda agitação, deve mostrar abertura para um confronto e debate de ideias, ouvindo os militantes, e não gerar mais calor do que luz.
Quanto mais adiar o momento de clarificação do partido, mais frágil se irá tornar António José Seguro. Isto porque, lentamente, vai perdendo o apoio de algumas federações e a confiança dos militantes; aos poucos, a maioria dos barões do partido vai-se manifestando a favor de Costa e, em consequência disso, as sondagens serão ainda mais desanimadoras.
Um dos grandes problemas de Seguro é que é fraco contra o Governo (mas consegue ser “forte”, contra os opositores internos).
António Costa tem gerado grandes expectativas, uma vez que transmite maior firmeza, espírito de liderança e confiança, do que Seguro, e conta com uma enorme experiência política.
O actual Presidente da Câmara Municipal de Lisboa está lançado para conquistar a liderança do PS e, de seguida, a maioria absoluta, nas legislativas, uma vez que também tem a capacidade de conquistar votos do centro-direita.

Comentário político na "Rádio Alto Ave" e jornais "Geresão" e "Notícia de Vieira" (11/06/2014).

terça-feira, 13 de maio de 2014

O GOVERNO QUE TEMOS...

Quase tão boa como a irrevogabilidade de Portas, é a afirmação de Passos Coelho, feita em Agosto de 2013: "Não acredito que o país aguente mais impostos".
Aliás, a cerca de 3 semanas da apresentação do Documento de Estratégia Orçamental, o Governo tinha prometido não aumentar impostos. Mas, afinal, o IVA e a TSU irão aumentar, já em 2015. Bem, uma coisa é certa: este Governo não é de fiar, contradiz-se de forma frequente e surpreendente. É oportuno realçar uma frase de um dos fundadores do partido “laranja”, Sá Carneiro: “A política sem ética é uma vergonha”!
Virar a página, com a saída da “troika”, deveria significar mudar de vida, aliviando o elevado peso da austeridade que estamos fartos de carregar, e que tem dado resultados positivos a conta-gotas. Mas isso ainda não vai acontecer.
Uma nota: a austeridade de 30 mil milhões de euros não chegou para cumprir a meta do défice, o que denota um Governo com uma gritante falta de estratégia.
Muito se falou sobre a saída de Portugal do programa de assistência financeira da “troika”. Acabou por ser uma saída limpa, mas o curioso é que a saída com programa cautelar nunca esteve, verdadeiramente, em cima da mesa.
A Europa chegou a isto: a mediocridade dos actuais líderes europeus é notória, e países como a Finlândia não querem saber se a solidariedade está na base da construção europeia.
O Executivo defende que, no ano de 2015, os pensionistas e funcionários públicos vão começar a ser aliviados. É difícil de acreditar que já respirem de alívio, dado não se vislumbrar, num futuro próximo, um descongelamento das pensões, por este depender de factores ambiciosos, e sabendo-se que, só em 2020, a função pública irá recuperar os salários de 2010.
No último congresso do PSD, Passos Coelho garantiu que o país “está melhor” do que em 2011. Com o devido respeito, não sei se será bem assim, senão vejamos o resultado do programa da “troika”: o PIB recuou 6% em termos reais; a economia destruiu 332 mil postos de trabalho; a dívida pública aumentou cerca de 35%; perdemos poder de compra; o risco de pobreza aumentou, e o país ficou mais desigual.
Além disto, a “troika” foi-se embora e as reformas ficaram por fazer, nomeadamente, a reforma do sistema de pensões. Ou seja, a afirmação de Passos Coelho só não dá vontade de rir, porque se trata de um assunto muito sério!

Comentário político na "Rádio Alto Ave" e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (11/05/2014).

quarta-feira, 16 de abril de 2014

AUSTERIDADE, POBREZA E DESIGUALDADE

Os portugueses ficam completamente inquietos, quando olham para as novas previsões do Banco de Portugal que indicam que, entre 2014 e 2016, a economia deverá ter um crescimento acumulado de 4,4%.
Certamente que o Governo terá lançado foguetes mas, nesta situação, levanta-se um ponto muito importante: não podemos ter razões para festejar, porque a economia vai produzir, em termos reais, o mesmo que em 2006. No final de contas, isto significa dizer que, sem margem para dúvidas, batemos no fundo. Obviamente, e como seria expectável, em algum momento, recuperamos, pese embora, esta recuperação não seja directamente proporcional aos imensos sacrifícios feitos pelos portugueses.
Convém realçar que chegamos a este ponto porque a “estratégia” obsessiva do Governo é a austeridade, levando ao empobrecimento massivo, e ao aumento da desigualdade.
Os dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística, relativos a 2012, são um excelente reflexo da actual política, pois quase dois milhões de pessoas estavam em risco de pobreza, atingindo o nível mais elevado desde 2005; 28% das famílias não têm capacidade para manter a casa adequadamente aquecida; cerca de metade da população portuguesa está dependente de apoios sociais, e alargou-se o fosso entre os mais ricos e os mais pobres.
Estes dados são verdadeiramente arrasadores e alarmantes, mas não surpreenderão ninguém. São um claro resultado de um corte brutal nas políticas sociais, que até nos leva à liderança, juntamente com mais três países, nos cortes na despesa social na União Europeia.
Já que o Governo não ouve os portugueses, pode ser que oiça a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que, no seu relatório bienal, recomendou prioridade à protecção dos mais pobres e alerta para a nossa falta de equidade, na distribuição da crise.
O caminho seguido será, obviamente, para manter, dado tratar-se de um Executivo que não possui sensibilidade social, e que não tem como prioridade apoiar quem passa por dificuldades.
Passos Coelho e Paulo Portas conduzem um Governo mais papista do que o Papa, indo muito mais longe do que o que estava previsto no memorando. Por isso, o automóvel já se despistou várias vezes, nas curvas apertadas.
Sabem uma coisa? Regozijemo-nos! Como disse Luís Montenegro, líder da bancada parlamentar do PSD: “A vida das pessoas não está melhor, mas a vida do país está muito melhor…”.
Uma dúvida: Mas a que país se refere? Será àquele país à beira mar plantado, ou ter-se-á referido ao país de Günter Grass?

Comentário político na "Rádio Alto Ave" e jornal "Geresão" (10/04/2014). 

domingo, 16 de março de 2014

A NATALIDADE E A POLÍTICA


         No dia 20 de Novembro de 2013, o jornal Expresso noticiava que, “Portugal é o segundo país europeu com a taxa de natalidade mais baixa”. Suou o alarme?! O alarme já suou há muito tempo, mas parece que o Governo só acordou agora.
Os números sobre a natalidade, em Portugal, são verdadeiramente impressionantes. O ano de 2013 teve o menor número de nascimentos, desde que há registo, e, segundo o relatório "World Population Prospects: The 2012 Revision", publicado pelas Nações Unidas, Portugal vai perder mais de 3 milhões de pessoas, até 2100.
É óbvio que necessitamos de mais políticas de promoção da natalidade executadas pelo poder central e pelo poder local.
O Governo só agora começou a preparar um plano de acção na área da natalidade, mas importa realçar que, se o número de nascimentos já era baixo, com algumas políticas impostas pelo Executivo actual, ainda desceu mais, nomeadamente, aumentaram o tempo de trabalho e a precariedade; diminuíram o rendimento; retiraram benefícios fiscais na educação e saúde, e cortaram no abono de família.
Por essas e outras, os casais adiam, cada vez mais, a decisão de ter filhos.
Há que esperar que o Governo cumpra o Guião da Reforma do Estado, onde aponta que a reforma do IRS deve "valorizar o trabalho e proteger a família". Aguarda-se, por exemplo, mais estabilidade laboral e também uma política fiscal favorável.
O poder local tem também de fazer a sua parte. As verdadeiras medidas de incentivo à natalidade podem, e devem, surgir de todos os quadrantes políticos. Municípios como a Póvoa de Lanhoso (PSD), Murça (PS) e Mora (CDU) têm posto em prática políticas para aumentar o número de nascimentos. 
No entanto, convém realçar que, atribuir incentivo por escalões de rendimento não pode ser considerada como uma política de incentivo à natalidade, mas sim um subsídio ao nascimento. Uma coisa é incentivar e outra, totalmente diferente, é subsidiar.
Há que ter a noção de que atribuir apoios financeiros, por si só, não é suficiente para “convencer” os casais a terem filhos, mas faz parte de um conjunto de medidas de promoção da natalidade, em que os municípios devem apostar.

Comentário político na "Rádio Alto Ave" e jornal "Geresão" (10/03/2014).

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

REFERENDO À CO-ADOPÇÃO É INCONSTITUCIONAL!


Uma manobra vergonhosa e incompreensível conduzida por Hugo Soares resultou num chumbo óbvio do TC. 

Misturar dois assuntos diferentes (adopção e co-adopção) descredibiliza e envergonha quem se lembrou de o fazer… Apetece-me dizer: "Não fizeram bem o “trabalho de casa”".

Depois de ver o primeiro proponente do referendo afirmar que “todos os direitos das pessoas podem ser referendados”, o que falta acontecer em Portugal? Ver um porco a andar de bicicleta?

Sr. Deputado Hugo Soares, os direitos humanos não são referendáveis! Sugiro uma leitura: Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Em democracia, não vale tudo!

Uma nota: Em determinadas questões, os deputados devem obedecer à sua consciência (a disciplina de voto tem muito que se lhe diga)...

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

UM NEGÓCIO "SURREAL"...


           O processo de venda das 85 obras do pintor surrealista Miró está a ser um verdadeiro desastre, ou melhor, roça mesmo o surrealismo. Tudo foi tratado com grande leviandade, e nem a lei foi cumprida.
O cúmulo do descrédito foi saber que, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, tem tanto conhecimento sobre este assunto como qualquer um de nós. O seu peso político é zero, foi humilhado, e gostaria de perguntar-lhe o seguinte: “O que falta acontecer, para apresentar a demissão?”.
Como o Governo acha que a colecção não tem interesse, e como vale uns milhões, quer despachá-la, o quanto antes. A estratégia de “vender os anéis” sempre causou arrepios aos portugueses, o que resulta, nomeadamente, de uma total falta de visão para a Cultura. Se tivessem esta capacidade, ter-se-iam, certamente, esforçado para que as obras continuassem em Portugal.
É óbvio que, não basta ficar com as obras e arrumá-las em prateleiras, como se fossem pacotes de arroz. A colecção teria de ter uma forte dinâmica, e seria investimento e não custo.
Aliás, o Turismo poderia ser beneficiado, com uma forte aposta em Arte Contemporânea, pois Portugal não pode ser conhecido como um país que tem, apenas e só, excelentes praias.
Independentemente de toda a polémica, uma coisa é certa: muitas pessoas passaram a saber quem foi Joan Miró - um dos maiores artistas do século XX.
Quem diria que o artista catalão conseguiria, durante várias semanas, ter grande visibilidade, em Portugal, como se de um artista da bola se tratasse?
Não é novidade nenhuma que o actual Governo não gosta da Cultura, daí ter optado pela extinção do ministério da Cultura, e ter apresentado o mais baixo orçamento de sempre, para o respectivo sector.
Deve-se assinalar um pequeno parêntesis: o antigo ministro da Cultura do Governo grego, Pavlos Geroulanos, disse, em 2012, que é uma "loucura" Portugal não ter um ministério dedicado à Cultura, defendendo também que esta área pode gerar “benefícios” e promover a imagem nacional.
O combate às políticas que visam reduzir a Cultura a cinzas, quer surjam da direita, esquerda ou centro, é fundamental, assim como a luta pela preservação do nosso Património Cultural.
Como dizia Churchill, se não é para preservar a Cultura, então para que é que estamos em guerra?

Comentário político na "Rádio Alto Ave" e jornal "Geresão" (10/02/2014)..

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

EUSÉBIO CHOROU POR PORTUGAL, O MUNDO CHORA, AGORA, POR ELE

Em Dezembro do ano passado, o mundo perdeu o maior símbolo da luta pela liberdade - Nelson Mandela, e, agora, perdeu um dos maiores futebolistas de sempre - Eusébio da Silva Ferreira.
África viu nascer estes dois grandes homens que tinham vontade de mudar o mundo, e que marcaram pela sua humildade e simplicidade. São eternos, mas deixam saudades.  
Eusébio era uma figura extremamente consensual. Amado por todos os adeptos apaixonados pelo desporto-rei, admirado pelos restantes. Até os maiores rivais do “pantera negra” lhe batiam palmas, quando se cruzavam com ele, dentro das quatro linhas.
Um verdadeiro líder dentro de campo, que tinha várias paixões, nomeadamente, marcar golos. O seu “pontapé-canhão” furou as redes de balizas, por esse mundo fora, tendo-o levado a fantásticas explosões de alegria. Quem já marcou um golo, sabe como é fácil ficar em êxtase…
Além de ter apontado centenas de golos extraordinários, e de ter levado a bandeira de Portugal aos quatros cantos do mundo, inspirou, e continua a inspirar, várias gerações.
Para quem teve a infelicidade de não o ver jogar ao vivo, serve de “consolação” as palavras de quem teve a satisfação de o ver jogar: “Eusébio é o rei”.
Há que realçar também o facto de Eusébio ter sido bastante acarinhado e reconhecido, nos últimos anos, pelo seu clube do coração. Isto deveu-se, essencialmente, à acção do actual presidente do Sport Lisboa e Benfica, Luís Filipe Vieira, quando se sabe que outros tentaram esquecê-lo, mesmo sabendo-se que o “pantera negra” era único!
Fora de Portugal, Eusébio era, igualmente, muito respeitado. Tinha uma quantidade de fãs de fazer inveja a qualquer actor de Hollywood, e, para onde quer que fosse, tinha de calçar as chuteiras. A homenagem que o Manchester United lhe fez, no passado dia 5, com os adeptos a aplaudirem Eusébio de pé, é um bom exemplo da admiração que sentiam e do respeito que tinham por ele.
Um dos momentos que perdurará, na memória de Portugal, é a imagem de Eusébio em lágrimas, em Wembley, no ano de 1966. O “rei” chorou por Portugal. Agora, o mundo chora o seu desaparecimento físico. O lugar no Panteão Nacional é totalmente merecido e inquestionável.
É, por tudo isto, e muito mais, que o jornalista Ferreira Fernandes apontou o seguinte: “Nunca passei por ele sem dizer ‘obrigado’”.

Comentário na "Rádio Alto Ave" e jornal "Geresão" (08/01/2014).