quinta-feira, 19 de março de 2015

"ROTEIROS" COM MUITAS POLÉMICAS À MISTURA

Depois de terem já causado tanta polémica, surgiu outro prefácio do “Roteiros”, do nosso chefe de Estado, a provocar mais um infeliz episódio. 
Cavaco Silva resolveu tocar em dois pontos bem polémicos, ao definir o perfil ideal do próximo Presidente da República, e ao referir que Timor-Leste se empenhou na adesão da Guiné Equatorial às Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e que, assim sendo, era impossível rejeitar esta adesão.
Como dizia Diácono Remédios (personagem interpretada por Herman José): “Não havia necessidade”.
Mas vamos por partes. Pior que atacar, num prefácio do “Roteiros”, um antigo primeiro-ministro de “falta de lealdade institucional”, quando este último tinha já emigrado para estudar, é anotar que um Presidente da República deve, nos dias actuais, ter “alguma experiência no domínio da política externa e uma formação, capacidade e disponibilidade para analisar e acompanhar os dossiês relevantes para o país”.
Não percebo esta afirmação, quando o actual chefe de Estado tem apostado tanto na política externa, como eu na tecnologia aeronáutica, e em vez de estar propriamente activo e disponível, para analisar vários dossiês que têm prejudicado a vida a milhares de portugueses, simplesmente o vemos encostado ao Governo.
Aliás, está tudo dito, quando Cavaco Silva considera praticamente um fait-divers a discussão gerada à volta das dívidas de Passos Coelho à Segurança Social, como se o não pagamento de contribuições de um cidadão fosse um mal menor.
No meio de tudo isto, o pseudo-candidato Santana Lopes tinha de sair imediatamente a terreiro, para dizer que se enquadrava no perfil apontado por Cavaco, no que concerne à experiência ao nível da política externa, realçando, no entanto, toda sua humildade, ao afirmar: “Passe a imodéstia”.
Por favor, não há ninguém que diga ao Santana Lopes que as probabilidades de ele ser Presidente da República são as mesmas que Cavaco pisar a Lua? As suas sete vidas já lá vão!
Noutra parte do prefácio, o Presidente da República também foi algo perigoso: abanou um país que fica a milhares de quilómetros de Portugal, e que é banhado pelo Oceano Índico.
Não é nada elegante sacudir a água do capote, ao alegar que a adesão da Guiné Equatorial, aquele país que é liderado pelo ditador Obiang, à CPLP só teve a aceitação de Portugal apenas para não prejudicar Timor-Leste. No entanto, o ex-presidente timorense, Ramos-Horta, já disse que isso é uma “falsidade”.
Independentemente de tudo, uma coisa é certa: nunca um chefe de Estado pode atirar responsabilidades para um país, sobretudo, quando se trata de um "irmão" de Portugal, por uma posição que é tomada, com clareza, numa cimeira.
Mas, não há que ter peso na consciência. Afinal, a Guiné Equatorial pode ser um dos regimes mais fechados do mundo, porém, há que ter “esperança" que surjam mais fenómenos extraordinários, nomeadamente, na justiça e educação, semelhantes ao que Obiang ganhou, com 103% dos votos (sim, 103% dos votos).
            Com tanta mediocridade, e polémicas atrás de polémicas no seu caminho, Cavaco não deve estar “muy satisfeito”, como esteve Obiang, por exemplo, na badalada cimeira que aprovou a entrada da língua portuguesa no seu país.

Comentário político na "Rádio Alto Ave" e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (12/03/2014).