segunda-feira, 16 de novembro de 2015

PORTUGAL EM "ÁGUAS AGITADAS"

Era habitual ouvir lamentações de tantos portugueses sobre a política nacional, pelo facto de, por vezes, ser tão tenra e com pouca emoção, que estava mesmo na hora de o panorama começar a aquecer.
Escrevo este comentário no dia em que, precisamente, cai o Governo de direita. A agitação política sobe, inevitavelmente.
Os belgas, dinamarqueses, luxemburgueses, letões e noruegueses sabem que, hoje em dia, uma vitória nas legislativas pode não garantir a governação. E não vem mal nenhum ao mundo que os portugueses, agora, também o saibam. Tudo isto é Democracia!
Os resultados das eleições legislativas foram claros, realçando dois pontos fundamentais: a coligação Portugal à Frente venceu, mas perdeu a maioria absoluta, e o PS perdeu, mas a esquerda conseguiu a maioria dos votos.
Após estes resultados, vários cenários ficaram em aberto. Julgava-se que, o caminho escolhido por António Costa seria o de deixar queimar o Governo, em lume brando, e, em menos de dois anos e meio, apresentar uma moção de censura. Seria um caminho mais seguro e, possivelmente, mais consensual entre os socialistas.
No entanto, o caminho foi outro. Na política, também existe espaço para o dialógo, e há que saber negociar e estabelecer pontes.
Mesmo não se concordando com o caminho que o líder dos socialistas tomou, não se pode reagir com histeria. Aliás, a coligação de centro-direita, com o seu radicalismo ideológico, pôs-se a jeito, para que este cenário pudesse acontecer.
É verdade que, a união da esquerda engloba partidos com ideologias muito diferentes, mas também é verdade que ninguém deve estar excluído do chamado “arco da governação”.
As cedências têm de estar em cima da mesa. Da mesma forma que, o Partido Popular Monárquico não impôs a realização de um referendo, sobre a República como condição para fazer parte da Aliança Democrática, também o BE, PCP e PEV terão que “esquecer” medidas como a nacionalização do sector energético e o regresso ao escudo.
O grande problema é que a corda vai estar sempre esticada. Nos acordos que foram assinados, existem fragilidades que podem abalar o futuro Executivo, pois este não terá a presença do BE, PCP e PEV; os acordos não incluem a garantia de que os partidos à esquerda do PS aprovem os quatro orçamentos da legislatura; não existe uma única palavra nos acordos, em relação ao cumprimento do Tratado Orçamental, e depois de 2016, poucas medidas estão negociadas. Para além disto, terá de prosseguir o processo de consolidação orçamental.
Bem, uma coisa é certa: as negociações serão o prato da casa do futuro Governo.
No meio desta forte agitação política, Costa corre um risco político considerável. O PS afasta-se do centro político, e o secretário-geral socialista sabe que, se o acordo à esquerda falhar, Passos Coelho fica a um “pequeno click” da maioria absoluta.

Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (10/11/2015).