quarta-feira, 14 de outubro de 2015

PASSOS E SYMONDS



O que têm em comum Passos Coelho e Andy Symonds? O facto de terem conquistado vitórias, no início do mês de Outubro.
Um deles venceu as eleições legislativas, em Portugal, sem maioria absoluta, mas com margem folgada, e o outro venceu de forma imparável o Ultra Trail Atlas Toubkal (UTAT), em Marrocos.
Mas vamos por partes.
Mesmo depois de quatro anos implacáveis de austeridade, levando a resultados por demais evidentes, quase dois milhões de portugueses optaram pela continuidade.
O que provocou este resultado? O governo de coligação PSD/CDS-PP cumpriu a estratégia que foi delineada, independentemente do resultado que viesse a alcançar, e manteve-se coeso, na parte final do mandato.
Já o PS não se mostrou unido, com os seguristas afastados de António Costa, e o actual secretário-geral a ter de “contornar”, sistematicamente, as alusões a José Sócrates.
Os eleitores sabem que o PS não é o Syriza, mas não esquecem os aplausos do partido de Costa ao partido de Tsipras, e Maria de Belém precipitou-se e, consequentemente, empurrou o partido para perto de uma ravina.
No meio disto tudo, Costa fez uma campanha à esquerda, perdendo o centro, e o resultado foi o crescimento do BE e da CDU.
De realçar que, uma boa parte dos eleitores indecisos não confiou na coligação PSD/CDS-PP e no PS, e, uma vez que Catarina Martins esteve assertiva, combativa e determinada, nomeadamente, nos debates pré-eleitorais, acabou por ser a “solução” para esse eleitorado.
Uma pergunta ergue-se: por quanto tempo governará a coligação de centro-direita?
Vários duros acordos parlamentares terão que ser estabelecidos, mas todos sabemos que a probabilidade de termos eleições, em menos de dois anos e meio, é a mesma que o dia de amanhã ter 24 horas.
Mas, agora, rumamos a África, mais propriamente para Marrocos, o país de Hicham El Guerrouj.
O UTAT é uma das provas mais duras do continente africano, que testa o limite dos atletas que têm a ousadia de enfrentrar o Atlas, e que permite explorar os trilhos do povo berbere.
Parece que 105 quilómetros, e 6500 metros de desnível positivo, foi pouco para o britânico Symonds, tal a frescura que apresentava, após esta batalha. Já o francês Chorier chegou 39 minutos depois.
Também para a comitiva portuguesa, que participou nesta aventura, foi uma experiência inesquecível. E eu, como um dos participantes, olho para a pedra que guardei, quando atravessei uma montanha a 3660 metros de altitude, e penso na dureza, no sofrimento, nas alucinações, na alegria e no divertimento que esta odisseia me proporcionou.
          No dia em que escrevo este artigo, 6 de Outubro, tenho a sensação que há algo mágico em Marrocos, que nos diz que ficou muito por conhecer e que teremos de lá voltar. 

Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (06/10/2015).