segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O "ADEUS" DE PORTAS


Depois de quase 16 anos à frente do CDS-PP, o “animal político” Paulo Portas comunicou que não se vai recandidatar à liderança dos centristas. 
Será a despedida definitiva da liderança do partido, ou talvez não, de um político que desperta paixões, mas que, também, liberta ódio quanto baste.
Tratando-se de um homem estratega e inteligente (algo que ninguém o pode negar), preparou habilmente a sua rampa de lançamento n’O Independente. O semanário foi um projecto político, onde soltava a sua enorme repulsa em relação a Cavaco Silva, mas sem o ferir com gravidade, e demonstrava, com alguma excitação, a sua ambição pessoal.
Encaixando várias personalidades, consoante o momento indicasse, o seu lado assombroso e agressivo está bem visível na forma como “assaltou” a liderança, que envolveu um ataque pelas costas a Manuel Monteiro, e no facto de ter apagado nomes na história do partido como Diogo Freitas do Amaral, não respeitando nem tendo honra no passado do partido.
Correndo riscos óbvios, Portas desejou que o CDS-PP fosse “o partido do Paulo”, e moldou-o à sua imagem. Marcou o cenário político nacional, com uma liderança firme e um temperamento difícil, controlando toda a máquina partidária.
Portas sai no momento ideal para ele, mas num péssimo momento para o partido. Tentou liderar o centro-direita de Portugal, conseguindo bons resultados, mas, agora, seria bem diferente.
Depois das medidas que o Governo de coligação PSD/CDS-PP implementou, nomeadamente, cortar pensões e aumentar impostos, o CDS-PP deixou de ser o partido dos pensionistas e dos contribuintes.
Nas próximas eleições legislativas, como é que o actual líder centrista conseguiria manter um parlamento com tantos deputados? Acresce o facto de, o partido com Portas ainda não ter ido a eleições sem qualquer coligação, depois da sua credibilidade ter sido reduzida a cinzas, devido ao episódio da irrevogabilidade.
Com tudo isto, o CDS-PP pode passar a ser apenas a quinta força política. Parece que o histórico centrista queria evitar uma saída a seguir a uma pesada derrota (o seu ego inqueta-o).
Após Portas ter feito alguns ziguezagues ideológicos, enterrando até importantes bandeiras eleitorais que levaram o partido, em 2011, a um resultado fantástico, chegou o momento do partido encontrar e clarificar o seu ADN, quiçá, abraçar novas causas.
Com pouco peso autárquico, o CDS-PP vai entrar numa fase delicada. Dificilmente terá um líder carismático como Portas, mas parece óbvio que Assunção Cristas é a pessoa mais indicada, para avançar e renovar o partido.
O que irá fazer Paulo Portas? Daqui a 10 anos vai concorrer às presidenciais? Ninguém sabe. E pode-se esperar tudo de quem tinha jurado que, por exemplo, nunca iria a votos... Isto a propósito das Eleições Europeias de 1994, e posteriormente.  Só se sabe que a questão dos submarinos, e a sua irrevogabilidade, vão continuar a persegui-lo.

Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (12/01/2016).