quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

AS ÚLTIMAS PERIPÉCIAS DE 2018 COM LIGAÇÃO AO VIEIRA SPORT CLUBE


As últimas semanas de 2018 estão a ser delirantes!
Tudo começa nos últimos dias de Outubro: a deputada Isabel Moreira foi apanhada a pintar as unhas, no Parlamento. Podem-lhe acusar de tudo, até na escolha infeliz da cor, mas que foi original, lá isso foi. Aliás, tendo em conta as intervenções com pouca substância que, por vezes, surgem na Casa da Democracia Portuguesa, uma pincelada nas unhas pode ser a melhor resposta.
Bem pior: alguns deputados têm esquemas para ganhar mais dinheiro, levando-os, por exemplo, a presenças-fantasma e à falsificação de moradas. Vergonha! Comportamento miserável de alguns dos nossos representantes, na Assembleia da República. 
Uma nota surpreendente: Alberto João Jardim disse que “Rio deve viabilizar Governo de Costa, se for o preço a pagar para reformar o país.” Jardim é um homem de Estado? Alguns dirão que é uma questão de bom senso, enquanto outros dirão, categoricamente, que perdeu o juízo. Uma boa reflexão para termos antes de engolir as uvas passas.
Mudo de direcção! É penálti sobre Rochinha!
As exibições e os resultados do Benfica foram desastrosos, e o seu presidente, Luís Filipe Vieira, segura Rui Vitória, justificando-se da seguinte forma: “Foi uma luz que me deu.” Boa!
Temos, na frase do presidente do Benfica, conteúdo para analisar, durante meses. Os poderes da luz são evidentes, mas nunca pensei que tivessem ligações ao mundo da bola. O desespero leva-nos a afirmações engraçadas, largamente desprovidas de sentido, e aproxima-nos do abismo. A sorte é que estamos perto do Natal, e a sua brilhante iluminação ofusca outras luzes.
Avanço! Repito: é penálti sobre Rochinha!
Uma das notícias magníficas foi saber que o cantor romântico Marante já brilhou no futebol, destacando-se no Sport Comércio e Salgueiros. Quem diria que a distância do Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro para os bailes fosse tão curta.
Obrigatoriamente, vou recuar no tempo. No dia 23 de Dezembro de 1993, fiquei em casa. Era quinta-feira. Após eliminar Lordelo, Paredes, Tondela e Lanheses, tinha chegado a hora de o Vieira Sport Clube enfrentar o Salgueiros, na quinta eliminatória da Taça de Portugal. O jogo decorreu no Estádio 1.º de Maio, em Braga. O “meu” Vieira enviou quatro bolas ao poste, mas só é golo quando a bola transpõe, totalmente, a linha de baliza, entre os postes e por baixo da barra. Resultado: Vieira-Salgueiros, 0-3.
A esta hora, e depois de ler o meu comentário, Rui Miguel Tovar, conhecedor profundo da história do futebol, começa a cobiçar os meus dados. Dirijo-lhe uma pergunta: quem marcou o terceiro golo do Salgueiros? Pistas: o jogador em causa foi transferido, na época seguinte, para o Sporting e terminou a carreira no Boavista. Se acertar na resposta, as Couves com Feijões ficam por minha conta.
Golias derrotou David. Eu tinha 9 anos.

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (16/12/2018).

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

UMA VIAGEM ATÉ MARGARET ATWOOD


No dia 2 de Novembro, leio uma notícia, no sítio da Visão, onde salta à vista a presença de Margaret Atwood no “Fórum do Futuro”, no Porto. Registo! Uma oportunidade única para ouvir a escritora canadiana a quem Kazuo Ishiguro pediu desculpas, quando ganhou o Nobel da Literatura de 2017.
 Atwood é conhecida por lançar distopias que se aproximam da realidade. A vontade cresce, até ao dia 8. Chego a esse dia. Entro na cidade e oiço buzinadelas de um condutor (suponho que pela minha hesitação no local onde estacionar). Encosto o carro, fecho os olhos e penso: Estou em Napóles? Parece-me que cheguei ao sul de Itália.” Olho para placas informativas e percebo que estou perto do Mercado do Bolhão.
O relógio indica 12h21. Coloco a mochila às costas e direcciono-me ao Teatro Rivoli, para levantar o bilhete para o encontro nocturno com a escritora. A bilheteira abre às 13h00 e a fila é considerável. A cultura portuense está em boa forma.
A barriga começa a dar horas e procuro, na Internet, onde fica o restaurante “O Afonso”, uma das referências gastronómicas da Invicta, para o saudoso Anthony Bourdain. Chego e enfrento mais uma fila. Relaxo e delicio-me. Numa escala de 0 a 10, a minha nota é 9,5. Realce para a decoração que domina no restaurante, onde destaca Bourdain e Ayrton Senna. Se um brilhou na cozinha, o outro foi rei nas pistas.
Com a energia no máximo, sigo até à Igreja de São Francisco. A sua construção iniciou-se no século XIV e o conjunto de talha dourada barroca, do século XVIII, é arrebatador. Voltam recordações de Itália: paguei sete euros pela entrada, mais um euro por um pequeno folheto.
O tempo ajuda e a caminhada prossegue. Chego ao Terreiro da Sé e admiro a paisagem deslumbrante, com 15 grandes pinceladas de estruturas metálicas. Sim, avisto 15 gruas! A cidade rejuvenesce!
Chego à Avenida dos Aliados e um aroma intenso persegue-me. Comida indiana? Quero andar mais e oiço: “Olha, quentes e boas.” Não resisto: compro uma dúzia de castanhas assadas! A minha nota é 9.
Começa a chover e anoitece. É o momento de ler algumas páginas do livro que me tem acompanhado - “Reservatório 13”, de Jon McGregor. Meia hora depois, recebo uma mensagem da minha mulher: “A Benedita não quer ir à aula de balé, porque doí-lhe a barriga.” Fecho o livro. Passados alguns minutos, diz-me que foi na mesma. Bravo! Volto a abrir o livro.
Às 21h30, entro no Teatro Rivoli. Num ambiente multicultural, Margaret Atwood apresenta, sempre com boa disposição, imagens da sua infância e lança notas sobre as suas obras, nomeadamente, a relevância que dá à mitologia. Curiosidade: escreveu a sua principal obra, “A História de Uma Serva”, no ano em que nasci, em 1984, e a distância que nos separava era de “apenas” cerca de 2500 quilómetros. Eu em Vieira do Minho e Atwood em Berlim.
Para realçar a importância deste encontro, basta destacar, não os elogios do moderador, Gareth Evans, ao Vinho Verde, mas sim a sua conclusão: “Depois desta conversa, vamos todos para casa, sob a chuva desta noite de Novembro, a pensar no que é que andamos a fazer com as nossas vidas.” A minha nota é 10.

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (14/11/2018).

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

DEMOCRACIA EM PERIGO... NO "PAÍS IRMÃO"

À semelhança do que vai acontecendo, em vários pontos do globo, o descrédito da população com políticos é tal que ajuda no crescimento da onda populista.
No Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, aconteceram casos de corrupção, ao longo de vários anos, o que levou a um enorme desgaste dos partidos tradicionais. Os eleitores estão cansados de quem os tem governado!
Jair Bolsonaro (Capitão do Exército, na reserva) já há muito que ansiava a sua oportunidade. Começou a esfregar as mãos de contente em 2014: arrancou a Operação Lava Jato (que investiga o enorme escândalo de corrupção, tendo envolvido 14 partidos). Também o impeachment, de Dilma Rousseff, e a detenção de Lula foram vitaminas para o fortalecimento do seu populismo.
No meio deste pântano, pode-se safar quem for outsider. Bolsonaro deve ter pensado: “É o momento certo! Chegou a minha vez!”. Resultado: vence a primeira volta das eleições presidenciais do Brasil, com 46,03% dos votos. No discurso após este resultado, continuou a bater na mesma tecla: “Mergulhámos na mais profunda crise ética, moral e económica. Nunca visto. O nosso país está à beira do caos.
O candidato de extrema-direita, do Partido Social Liberal (PSL), foi andando aos tropeções (estando para a economia como eu estou para a astrologia), e acabou por ser favorecido quando menos esperava, uma vez que foi alvo de um atentado e a sua fragilidade sensibilizou os eleitores.
Algo surpreendente é a amnésia presente. Como se podem esquecer de tantas afirmações racistas, homofóbicas e asquerosas de Bolsonaro? Não esqueço, por exemplo, o que ele disse em 2015: “Mulher deve ganhar salário menor porque engravida.
Mais, Bolsonaro defende a ditadura militar! Bolsonaro defende a tortura! A democracia pode correr sérios riscos no país de Machado de Assis. Registem a afirmação de Fernando Bizzarro, investigador na Universidade de Harvard: “Bolsonaro é mais perigoso do que Trump.
Sem o carisma do seu adversário, Fernando Haddad rema contra a maré. É verdade que o Partido dos Trabalhadores (PT) está moribundo e, como Lula consegue mobilizar uma parte do eleitorado, a estratégia foi “aguentá-lo” como candidato, até à linha de arranque. No entanto, a colagem a Lula prejudicou seriamente Haddad, pois não teve espaço para caminhar e foi lançado aos leões, ou melhor, a Bolsonaro.
O candidato, que ficou em terceiro lugar na primeira volta, Ciro Gomes, do Partido Democrático Trabalhista (PDT), pode votar até em Haddad, na segunda volta, mas, infelizmente, vê-se uma onda de vitória com Bolsonaro que, muito dificilmente, conseguirá ser travada.

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (14/10/2018).

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

RIO E O PSD, NA SILLY SEASON...


O “meu querido mês de Agosto” é sinónimo, para muitos portugueses, de férias. Rui Rio também teve o seu repouso, mas foi, imediatamente, atacado pela sua duração. Parece que, em Portugal, o silêncio dos políticos é incómodo para alguns sectores. 
Há um passado que me une ao líder do PSD: partilhamos a atracção da velocidade e fomos velocistas, no entanto, não nos cruzamos nas pistas de atletismo. Agora, sou ultramaratonista e Rio tenta afinar a estratégia do partido social-democrata.
Ser líder partidário tem muito que se lhe diga, senão vejamos: o PSD leva a tribunal candidatos do partido, que excederam custos, e corta 60 mil euros à Festa do Pontal (isto, quando o partido deve, segundo o secretário-geral do PSD, José Silvano, “a alguns fornecedores há mais de 10 anos”), e, em vez de receber aplausos vindos, acima de tudo, do partido, recebe várias indicações de que há pontos mais importantes para focar. Isto leva-me, em parte, ao livro “O Quarto de Marte”, de Rachel Kushner: “(...) os ritmos do mundo nem sempre se coordenam com o ritmo da pessoa”.
Parece que o “banho de ética” do antigo presidente da Câmara Municipal do Porto vai continuar em acção, e, para não “dar uma no cravo e outra na ferradura”, o líder do PSD devia afastar Salvador Malheiro, o cacique de Ovar.
Em relação às críticas ao trabalho que Rui Rio tem desenvolvido, no pouco tempo que está à frente do partido, Luís Montenegro e Pedro Duarte são os principais rostos que já anseiam, desesperadamente, por uma queda da actual liderança. Isto faz uma certa confusão a quem deseja elevação na política! Não tiveram coragem de enfrentar Rio nas urnas, mas não se acobardam na hora de mandar “bitaites”. Morais Sarmento bem lembrou, na Universidade de Verão do PSD, que o PSD está sempre em guerra interna.
É verdade que Rui Rio tem cometido alguns erros, nomeadamente, em dar demasiada atenção aos opositores internos, como fez na Festa do Pontal, e deve, isso sim, focar-se mais no seu principal adversário, o Partido Socialista, e apresentar propostas.
Já agora, sabendo-se que o nosso país necessita de uma reforma da justiça, é importante destacar as seguintes palavras de Rio: “Uma reforma da justiça só é possível, no dia em que o líder da oposição quiser”. Assim sendo, se o presidente do PSD promover consensos para que tal reforma se torne possível, está a comportar-se como um estadista, se não o fizer...

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (14/09/2018). 

segunda-feira, 23 de julho de 2018

A PEPPA E O MUNDIAL

O quanto gostaria de escrever umas linhas sobre a trajectória de um pontapé fulminante de Cristiano Ronaldo, aos 88 minutos, no dia 15 de Julho, ocorrido no Estádio Luzhniki, em Moscovo. Pontapé esse que nos daria o título mundial, e que seria um bálsamo refrescante para um país que, fora das quatro linhas mas com vontade de entrar, tem de “levar” com Bruno de Carvalho, Pedro Guerra, Rodolfo Reis, entre outros.
Infelizmente, isso não aconteceu, e Ronaldo já resolveu o seu futuro, de forma a evitar Lopetegui; Quaresma lanchou, imediatamente, com Carlos Queiroz e Bruno Alves regressou, ansiosamente, ao futevólei.
Assim, desde o dia 30 de Junho, que, sentados no sofá, na poltrona, na cadeira ou no chão, ou deitados na cama ou mesmo de pé, tivemos de ver outras selecções a jogar no Campeonato do Mundo de futebol.
E como foi no dia do jogo contra o Uruguai? Surpresa: só vi 80% do jogo. Os preparativos estavam, de facto, lançados (uma garrafa da Quinta de Santiago Alvarinho 2017 no frigorífico, salgados no armário e alguns crustáceos a caminho), mas não contava que a escola da Porquinha Peppa estivesse aberta, ao final da tarde de sábado. Se, há uns anos, saiu o brinde a alguém que concluiu a licenciatura num domingo, a mim, agora, saiu-me a “fava”.
Juntamente com a minha filha, coloquei a família da Peppa, e convidados, na sala de aula, antes do apito inicial dado pelo árbitro César Ramos. Todos os alunos foram apresentados e surge, logo, uma interrupção: Cavani encostou para o fundo das redes, na nossa baliza. A lição avançou: aprendizagem das vogais.
Surge o intervalo e o nervosismo arrefece.
Pouco depois do início da segunda parte, é altura de abrir a garrafa: golo de Pepe. A professora pede atenção e, ainda não tinha dado um único gole, já Cavani voltava a fazer estragos. A mãe da Peppa pede para ir à casa de banho, João Mário volta a “provocar-me” uma aceleração dos batimentos cardíacos e o jogo termina!
Fechei os olhos, durante cinco segundos, desliguei a televisão, recordamos as vogais, a professora e alunos regressam a casa, os crustáceos chegam, finalmente, à “minha” cozinha e a selecção aterra em Portugal, no dia seguinte.
Enfim, não há muito mais a realçar. Patrício, Pepe, Ronaldo e Quaresma merecem um convite especial para a festa de Natal da Porquinha Peppa. Para Fernando Santos, o convite é outro... o concelho de Vieira do Minho está pronto para o receber, desde o dia 10 de Julho de 2016.
Termino felicitando, humildemente, a selecção francesa. 

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (16/07/2018).

quarta-feira, 20 de junho de 2018

O PINGUE-PONGUE DA EDUCAÇÃO


Com a imensidão de programas sobre o Mundial de futebol, e com todos os caminhos a dar a Kratovo, já aprendi algumas palavras em russo e sonho encontrar-me com José Milhazes na Praça Vermelha.
Entretanto, no nosso país, a temperatura subiu, depois de o primeiro-ministro, António Costa, ter dito que o Governo não tem 600 milhões de euros, por ano, para professores.
Como grande parte dos temas da educação, este dossier é sensível e devemos tratá-lo com pinças. Vamos olhar, tranquilamente, para os dois lados da barricada e, com tanto pingue-pongue, vamos é apresentar os jogadores:
- Mário Nogueira: é o principal rosto dos professores, tendo a singularidade de não dar aulas há mais de 25 anos;
 - Tiago Brandão Rodrigues: foi praticante de karaté. Como ministro da Educação, os golpes não têm sido muito certeiros. A falta de traquejo político prejudica-o.
O jogo começa:
- Mário Nogueira começa logo a esticar a corda: “Queremos recuperar os cerca de 9 anos em que o tempo de serviço esteve congelado, pode ser?”;
- Na bancada, várias pessoas levantam cartazes, que dizem: “E as forças de segurança?”, “E os que não têm carreiras com progressões automáticas?”, “Onde vão buscar os 600 milhões de euros? Os impostos vão subir?”;
- Tiago Brandão Rodrigues responde a Mário Nogueira: “Não! E 2 anos, 9 meses e 18 dias?”;
- O líder da Fenprof rejeita, e acusa-o de “chantagem”;
- O ministro da Educação pede a substituição, e entra António Costa;
- O primeiro-ministro assume que o compromisso foi só o “descongelamento das carreiras na função pública”. Há dúvidas na bancada. Facto: o tão badalado projecto de resolução aprovado no Parlamento, no dia 15 de Dezembro de 2017, é “apenas” uma recomendação ao Governo para que reconhecesse o tempo integral;
- Este jogo terminou.
Parece que foram criadas expectativas que apontavam para o cumprimento das pretensões dos sindicatos, mas também é verdade que o Governo nunca prometeu reconhecer todo o tempo de serviço aos professores.
Vamos esperar que exista bom senso, nas negociações, sabendo-se que a posição actual dos sindicatos é insensata, e que o Governo perde credibilidade se ceder, consideravelmente, na busca de uma solução.
Para terminar, uma pequena nota para a posição de Rui Rio, em todo este processo. No surpreendente livro de David Grossman, “Um Cavalo Entra Num Bar”, registei a seguinte frase: “(...) não fosse a tentação a que é tão difícil resistir – a de espreitar o inferno do outro”. Ou seja, não é a procurar o inferno que se chega ao poder, aliás, tal como fez Passos Coelho, nos últimos meses que esteve à frente do partido, e o resultado foi o que se viu.

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (14/06/2018).

quarta-feira, 23 de maio de 2018

MOMENTOS DE OURO DO CAVA...

O CAVA tem proporcionado vários acontecimentos culturais, em Vieira do Minho, mas alguns levam tal força, como se tivessem saído dos pés de Ederson, e que, por isso, merecem especial destaque.
Inicialmente marcada para o dia 20 de Março, entretanto adiada por motivos de saúde do convidado, o maestro António Victorino d’Almeida, a XVI edição das Conferências CAVA ocorreu no dia 8 de Maio, analisando o tema “Os jovens, a dignidade e a arte”.
Quando começamos a preparar o grande dia, juntamente com o Agrupamento de Escolas Vieira de Araújo, ficou logo claro que, uma das principais referências da nossa música, merecia uma recepção radiosa e um cenário arrojado que elevassem a cultura.
O que surgiu de imediato? A melhor recepção para um compositor e maestro passava por desafiar as sociedades filarmónicas de Vieira do Minho e de Vilar Chão, que têm feito percursos de sucesso e prestigiado o nome do concelho, a surpreender o convidado. Resultado: momentos musicais brilhantes, com interpretações como “Hallelujah”, de Leonard Cohen e o “Hino de Vilar Chão”, que mostraram o enorme talento musical dos jovens da nossa terra. Vieira do Minho agradece a colaboração e empenho dos maestros Hélder Ribeiro e Eduardo Carvalho.
Inspirados pela Fundação de Serralves, que envolve praticamente todos os espaços nas suas iniciativas, encontramos, na varanda da Casa Museu Adelino Ângelo, o local indicado para “respirarmos” cultura.
Para um pianista, o cenário só seria completo e admirável se colocássemos um piano. Assim o fizemos e o ilustre não resistiu: sentou-se, em alguns momentos, ao piano e ilustrou, musicalmente, as suas intervenções. E o que dizer da interpretação de uma valsa romântica com os cotovelos, respondendo, assim, ao repto lançado por Fernando Gomes? Registem: foi uma interpretação poderosa!
Com a sua intervenção bem disposta, informal e dialogante, lançou uma teia que envolveu todos os presentes.
Outro marco especial: foi lida uma missiva enviada por Sua Excelência o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que também já esteve presente no nosso ciclo de conferências.
Não posso, ainda, deixar de registar que, antes de descermos as escadas do Salão Nobre da Casa Museu Adelino Ângelo, uma criança pediu, orgulhosamente, à mãe que lhe tirasse uma fotografia com o convidado. Há ápices que duram segundos, mas que permanecem no coração!
Num dia soalheiro, mais de 100 pessoas, sendo na sua maioria alunos do ensino articulado de música, assistiram a momentos memoráveis.
Quando a cultura é trabalhada e “provocada”, sendo apoiada por entidades públicas e privadas, os frutos são doces.

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (13/05/2018).

segunda-feira, 16 de abril de 2018

UM MUNDO AO CONTRÁRIO!

Vivemos num mundo encorpado de anormalidades!
Vivemos num mundo onde alojamentos não permitem a presença de crianças, com menos de 12 anos de idade, mas onde animais de estimação vão poder entrar em restaurantes.
Vivemos num mundo onde a cultura continua a ser desprezada e espezinhada, por quem vai ocupando certos e determinados cargos.
Vivemos num mundo onde a alegria de estar prestes a ser novamente pai não anula tiques ditatoriais e a ira, contra tudo o que mexe. Chamo, como é óbvio, Bruno de Carvalho ao palco. O futebol dentro das quatro linhas não se discute, como tem sido hábito no nosso país, o que interessa é saber se a lombalgia do ainda presidente do Sporting Clube de Portugal irradia para os membros inferiores. Mais do que insólito, isto é ridículo!
Vivemos num mundo onde há quem coloque Lula no mesmo patamar de Mandela, o que é o delírio resultante de tão excitante novela. A vontade de beber caipirinha dispara com tanta emoção. Melhor que isto, só o comentário de um dos nossos antigos primeiros-ministros sobre a detenção de Lula.
Vivemos num mundo onde há quem procure saber o porquê de não terem sido convidados políticos para o casamento do príncipe Harry de Inglaterra com Meghan Markle. Inspirando-me num grande sucesso musical português, anoto: “Feliz de quem, possa dizer / Que tem ainda quem lhe (...)” dê que fazer.
Vivemos num mundo onde a família real espanhola procura disfarçar desentendimentos provocados pelas amêndoas amargas que ingeriram, como aquelas crianças que se abraçam em frente aos pais, depois de um conflito causado por um saco de gomas, mas com o irmão mais velho a pressionar o pé direito no pé esquerdo do irmão mais novo, no momento do abraço. Isto não é linha, é bingo na estupidez!
Vivemos num mundo onde as banalidades são alvo de atenção, e onde o sofrimento humano passa velozmente ao lado.
Vivemos num mundo onde um ataque químico mata famílias, na Síria, e os poucos líderes ferozes que condenam esta monstruosidade são, curiosamente, Trump e Erdogan.
Vivemos num mundo onde lemos notícias com títulos agoniantes, como: “Crianças fazem quimioterapia no corredor do Hospital de São João”.
Vivemos num mundo estúpido! Vamos seguir John Williams, que, no livro Stoner, procurou elevar a personagem principal, “(...) embora por vezes sentisse que era em vão que vergava as costas contra a tempestade fustigante e punha as mãos futilmente em concha para proteger o tremeluzir ténue do seu derradeiro fósforo”.

Comentário na Rádio Alto Ave e jornal Geresão (12/04/2018).

quinta-feira, 15 de março de 2018

A AMBIÇÃO DE CRISTAS


Nos dias anteriores ao congresso do CDS-PP, Assunção Cristas disse, de forma categórica, que quer ser primeira-ministra. Alguns gostaram, mas Rui Rio coçou a cabeça e pensou: “Era só o que me faltava!”
Quando ainda precisamos de uma pedra de granito polida, e de uma vassoura, para praticar uma modalidade oficial dos Jogos Olímpicos de Inverno, o que dizer da ambição de Cristas? A verdade é que, enquanto uns colocam minas no caminho do seu novo líder, outros dão confiança e não dão sinais de divergência.
Liderar o centro-direita, e não apenas a direita, será uma tarefa hercúlea. A actual líder do CDS desperta algumas paixões, mas também precisa de um PSD moribundo, o que não parece ser difícil (nem quero “gastar” palavras com a rídicula escolha de Elina Fraga; realço um vice-presidente que é uma espécie de Miguel Relvas mas doutorado, e a forte instabilidade na bancada parlamentar).
O líder do PSD deve saber que um eleitor que vota, tradicionalmente, no seu partido, mas que agora esteja descontente, avança para o caminho do CDS sem precisar que alguém o empurre. Aliás, sempre que Rio se aproximar do PS, Cristas vai aproveitar a oportunidade para deixar bem claro que a alternativa à “geringonça” é o CDS. 
Hoje em dia, um eleitor não valoriza tanto a ideologia, o que facilita o surgimento de fenómenos políticos que passem a mensagem, de forma simples e clara.
No dia 12 de Janeiro de 2016, referi que Assunção Cristas era a “pessoa mais indicada, para avançar e renovar o partido”. Paulo Portas já lá vai e parece que ninguém se lembra dele. O mérito é da actual líder! Pode não ter o seu carisma, mas vai buscar votos onde Portas não conseguia caçar, depois do ódio libertado em várias direcções, durante anos e anos.
O partido está unido e motivado, aplaudindo a ambição da sua líder e mostrando que quer chegar longe e que tem vontade de vencer.
O resultado das autárquicas, em Lisboa, dá confiança ao CDS, mas umas legislativas levantam desafios extremos para um partido que conseguiu, “apenas”, 11,70% dos votos, nas legislativas de 2011. E as eleições já serão, sensivelmente, daqui a ano e meio.
Assunção Cristas corre vários riscos. E se tiver um resultado poucochinho? A política portuguesa só tem a ganhar com lideranças destemidas; lideranças que provoquem o habitual conservadorismo português.
Entretanto, Nuno Melo já está em jogo para as europeias. É uma boa jogada, mas não é a mais perfeita. Está a fazer um bom trabalho no Parlamento Europeu, contudo Pedro Mota Soares (número dois na lista do partido às europeias) é “vinho de outra pipa”, dado conseguir capitalizar mais votos.
Uma pequena nota para Adolfo Mesquita Nunes. É liberal, brilhou enquanto secretário de Estado do Turismo, vai coordenar o programa eleitoral do partido, cujo futuro passa por ele.

Comentário na Rádio Alto Ave e jornal Geresão (12/03/2018).

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

AS CONQUISTAS DO PAÍS DE CAMÕES

Estou a escrever no dia em que foram registados centenas de sismos nos Açores, o que me leva, imediatamente, a um abalo em Ljubljana, no passado dia 10 de Fevereiro, e que se fez sentir nos 308 municípios de Portugal.
Antes da final, não faltava informação a recordar que em 26 encontros com a Espanha, Portugal só tinha conseguido uma vitória. Nada melhor que um balanço como este para motivar as nossas hostes. Agradecemos!
As estatísticas valem o que valem e os vários truques na manga do “mágico” Ricardinho, o golo de Bruno Coelho, no último minuto do prolongamento, e a enorme defesa de André Sousa, quando faltavam poucos segundos para o fim, valeram o primeiro título europeu de futsal a Portugal. Como disse o primeiro-ministro em exercício no ano de 2007: “Porreiro, pá!”
Não fiquei sem um chinelo nos festejos do golo de Bruno Coelho, como aconteceu quando Eder fuzilou a baliza de Lloris (aliás, em Fevereiro, era de estranhar se estivesse calçado dessa forma), mas, tal como aconteceu no Campeonato Europeu de Futebol de 2016, o melhor do mundo saiu lesionado e tivemos um bom presságio quando, há algumas semanas, o nome do grupo de WhatsApp dos jogadores da selecção foi mudado para “Campeões Europeus”.
O grandioso escritor turco, Orhan Pamuk, anotou, no livro “Uma Estranheza em Mim”, em relação à personagem Mevlut, que “Toda a felicidade e beleza que a vida tinha para oferecer só se revelavam quando o seu espírito derivava para fantasias de um mundo muito afastado do seu”. Bem, sonhamos, lutamos e as conquistas aconteceram.
A auto-estima dos portugueses está em alta! Só sinto alguma mágoa por saber que os Jogos Olímpicos de Inverno não são os mais indicados para países onde a probabilidade de encontrar neve é quase a mesma de ver auroras boreais. Mas, se as 229 cheerleaders norte-coreanas apoiarem os nossos dois atletas, ainda podemos sonhar.
Os feitos extraordinários de portugueses têm sido constantes nos últimos tempos: políticos, cantores, desportistas, chefs de cozinha, entre outros. E a conquista de Marte? É verdade que Elon Musk não é português, mas, no deserto de Omã, seis “astronautas” estão a “aprender” a viver no Planeta Vermelho, e um deles é do país de Camões.
Estamos na luta por vários “pódios”! Orgulhemo-nos!

Comentário na Rádio Alto Ave e jornal Geresão (12/02/2018).

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

MEMÓRIAS DE UMA VIAGEM POR AMOR A VIEIRA DO MINHO

Estamos no início de um novo ano, mas vou olhar para trás.
No início de 2014, o CAVA (Associação de Vieira do Minho) começou a matutar a ideia de impulsionar, no concelho de Vieira do Minho, um projecto de arte pública, tal como se vê em lugares com uma íntima ligação à arte, onde fosse possível construir um módulo expositivo com fotografias de actividades presentes nas vinte e uma comunidades de Vieira do Minho, associando a cada fotografia um comentário de uma individualidade com raízes na comunidade. 
Alguns membros dos órgãos sociais ficaram maravilhados com a ideia, outros pensaram logo nos “riscos”, outros estavam a pensar no próximo jogo do Sport Lisboa e Benfica, mas a verdade é que chegamos à conclusão que o CAVA foi fundado para responder a este tipo de desafios.
Era hora de colocar as mãos na massa.
Nome do projecto: “Uma Viagem por Vieira do Minho”.
Fotógrafo: Tommaso Rada. De origem italiana, é um conhecedor destas terras. Participou em inúmeras publicações nacionais e internacionais, de que são exemplo, Expresso e Washington Post.
Foram escolhidas vinte e uma pessoas que se evidenciam nas áreas de artesanato, agricultura, pecuária e gastronomia: Alexandre Alves, Alice Pereira, Amélia Marques, Aurora Cruz, Benigno Sousa, Bernardino Alves, Carlos Alberto, Cipriano Martinho, Domingos Sousa, Fátima Silva, Firmino Faria, Florbela Morais, José Armando Antunes, Leandro Pereira, Manuel dos Santos, Maria do Carmo, Maria Lopes, Miguel Leite, Paulo Dias, Rui Gonçalves e Zulmira Martins.
Vinte e uma pessoas foram convidadas a comentar as fotografias: Antonieta Dias, Antonieta Machado, Armando Ferreira, Artur Gonçalves Fernandes, Cândida Pinto, Casimiro Soares, Domingos Gonçalves Dias, Elisa Barros, Fernanda Rocha, Francisco Álvares, Graça Veloso, Guilherme Aguiar, Jorge Pereira, José Marques Fernandes, Manuel Lopes, Manuel Moreira, Manuel Travessa de Matos, Nuno Monteiro, Padre Alcino Xavier, Padre Artur Jorge Gonçalves e Pedro Silva.
Posteriormente, construiu-se um módulo expositivo, que percorreu o concelho, desde o dia 22 de Dezembro de 2015 até ao dia 27 de Dezembro de 2017, e estabelecemos uma parceria com dois importantes jornais da nossa região, para a divulgação do projecto.
Adocicando com um pouco de romantismo, posso anotar que foi uma viagem por amor a Vieira do Minho, uma viagem física e afectiva, que promove a identidade do nosso povo e recupera memórias da nossa terra.
Como qualquer viagem de centenas de quilómetros, aconteceram momentos inesquecíveis. Nas sessões fotográficas, o cavalo Garrano fugiu durante nove minutos; Tommaso Rada recebeu um par de meias de lã; eu engordei um quilo e ofereceram-nos garrafas de bagaço.
E o que fizemos quando o módulo, que pesava cerca de 200 quilos, foi derrubado, por causa da chuva e ventos fortes, nas comunidades de Vieira do Minho, Campos e Parada de Bouro? Erguemo-lo, consertamo-lo e a viagem prosseguiu. É uma resposta lógica, mas que me dá um “gozo enorme”, porque as noites mal dormidas, por causa destes três acontecimentos, ficaram registadas.
Em suma, uma fascinante odisseia foi “escrita” por uma associação vieirense, viagem, essa, que prossegue. E sabem uma coisa? O concelho de Vieira do Minho tem pessoas tão encantadoras!

Comentário na Rádio Alto Ave e jornal Geresão (12/01/2018).

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

2017 COM VENTOS DE ÁFRICA



O ano de 2017 está na recta final e leio o que escrevi, no ano em que Marques Mendes pensava que a sondagem de Centeno para a presidência do Eurogrupo «era uma partidinha do dia das mentiras».
Cheguei a uma rápida conclusão: Teodora Cardoso, Donald Trump e Vladimir Putin estão no saco da mediocridade. Mas, poderão perguntar: o que fez a Teodora para acompanhar, desconfortavelmente, estes dois “pesos-pesados”? A presidente do Conselho das Finanças Públicas referiu o seguinte: «Até certo ponto, houve um milagre no défice». Relembro que “milagre” era se, uma vez que em 2015 foi candidata ao Prémio Nobel da Economia, o conseguisse vencer.
Se Trump tudo fez, e continua a fazer, para estar neste saco, Putin, como é mais hábil e inteligente, foi-se “escondendo”, mas depois de a violência doméstica ter deixado de ser crime na Rússia…
Enfim, valha-nos as notas positivas a Macron e Marcelo (não sei se, afinal, dormir pouco é que é a solução para obter bons resultados) e as lufadas de ar fresco das novas lideranças em Angola e Zimbabwe.
Já as eleições autárquicas confirmaram um ano positivo para António Costa (o PS obteve um excelente resultado, a geringonça não está em perigo, a economia está de boa saúde e a eleição de Centeno é prestigiante, se bem que Pedrogão, Tancos e Infarmed...), deram a estocada final a Passos Coelho que andava à deriva (agora, a esquerda deseja Santana Lopes), permitiram a Assunção Cristas ganhar terreno, não abalaram Catarina Martins e colocaram Jerónimo de Sousa em cima de uma placa tectónica.
Um ano também marcado pelo desaparecimento de um lutador sem medo. A memória de Mário Soares perdurará, o que me leva a Imre Kertész: «(...) Os muros estreitos das prisões não conseguem reprimir as asas da imaginação».
A entrega do Prémio Nobel da Literatura a Kazuo Ishiguro também merece nota de destaque. Depois de um terço do mundo ter ficado sem reacção, no ano passado, com o facto de Bob Dylan ter sido galardoado, existia a esperança de que a fasquia voltasse a ser elevada.
Agora, são 00h50. A minha filha dorme, tranquilamente, nos últimos minutos, e, como sou uma espécie de Macron e Marcelo, no que toca às horas de sono, vou tentar seguir a leitura do livro “Os Despojos do Dia”, de Ishiguro.

Boas festas!

            Comentário na Rádio Alto Ave e jornal Geresão (12/12/2017).