Temos assistido a episódios
verdadeiramente tristes e vergonhosos na vida política nacional quando alguns
já pensavam que tínhamos batido no fundo.
Depois de se efectuar um balanço
desastroso de dois anos de acção governamental, as peças do dominó começaram a
cair assim que Vítor Gaspar se demite, reconhecendo o falhanço da estratégia
orçamental recheada da austeridade que aplicou. Gaspar já se tinha perdido no
caminho há muito tempo. Deixou o país com uma taxa de desemprego a rondar os
18%, enfrentamos uma grave espiral recessiva e a dívida pública disparou
fortemente. É importante realçar que foi o PSD e o CDS que empurraram o país
para eleições e que diziam há pouco tempo que o sol brilhava…
Posteriormente, o líder de um dos
parceiros de coligação bate com a porta. Depois de tantas humilhações, Paulo
Portas pede a demissão, mas não demora a dar sinais de vida porque quer ser
promovido. O cheiro do poder é tão intenso que o que é “irrevogável”
rapidamente deixa de o ser. Não há forma de explicar esta cartada completamente
irresponsável, vinda de um animal político como Portas (ele que tantas vezes
falou em “sentido de Estado”). Esta jogada tirou-lhe as vidas que restavam das
sete…
Os portugueses estão
preocupados com aqueles que vivem num mundo imaginário e não querem mais
malabaristas. Vejamos ao estado a que isto chegou: o PSD ganhou as eleições
mas, no meio desta embrulhada, até já está disponível para entregar os
principais poderes ao CDS. Os últimos acontecimentos feriram gravemente o
Governo, a sua credibilidade é zero, e nada se iria alterar caso avançasse uma
remodelação.
Do outro lado da barricada,
o Presidente da República assistiu a esta calamidade política de forma impávida
e serena durante vários dias, decidindo falar ao país apenas no dia 10 de Julho
(aguarda-se, agora, uma segunda declaração para
explicar com clareza o que foi dito).
A comunicação de Cavaco Silva
surpreendeu, não dando aval ao acordo fictício proposto por Passos Coelho e
Paulo Portas. O chefe de Estado quer um acordo de “salvação nacional” entre
PSD, PS e CDS até a “troika” abandonar o país. Na falta de uma posição corajosa
do Presidente da República, nada a que já não estivéssemos habituados, a
realidade é que as probabilidades de os partidos aguentarem o
barco até Junho de 2014 são praticamente inexistentes. Não percebo como é que os três partidos vão entender-se
quando os parceiros de coligação andam às turras e quando se sabe que o PS não
apoiará o Governo sem eleições. O Executivo ficou ainda mais fragilizado (não
sei o que falta acontecer para Passos Coelho pedir a demissão) e o PS vai
livrar-se desta embrulhada.
As incertezas são muitas e o
melhor era que Cavaco Silva dissesse algo como isto: “Bem, ultrapassamos os
limites. Isto está um caos e agora batemos mesmo no fundo. Vou dissolver o
Parlamento e marcar eleições”. É óbvio que há factores que desaconselham a
realização de eleições antecipadas, como a entrada tardia do Orçamento do
Estado para 2014, no entanto, é uma medida “excepcional” para tempos políticos
“excepcionalmente” caóticos e medíocres.
Em suma, Portugal está
ligado às máquinas e o pessimismo é assustador ao vermos comportamentos que
roçam a garotice, que são pouco responsáveis e que brincam com o esforço de
todos os portugueses.
Comentário político na "Rádio Alto Ave" e jornal "Geresão" (12/07/2013).