segunda-feira, 18 de março de 2019

UMA SÓ PALAVRA: BASTA!


E a 13.ª vítima de violência doméstica de 2019 morreu, perto de minha casa.
A noite do dia 6 de Março era fria. Num ambiente tranquilo, assistíamos aos resumos dos jogos da Liga dos Campeões. Marega foi um poço de força, Lukaku decisivo. Os golos são a pimenta. A paz foi interrompida. À volta da lareira, a minha mulher lia, numa rede social, uma notícia: “Uma mulher foi assassinada...” Ficamos em choque! “Mais uma vítima. Em Salamonde?”
O drama da violência doméstica tem atingido tantas habitações. Desta vez, acontece perto da nossa casa. Habitações impregnadas de violência. Diariamente, os telejornais abrem com notícias sobre crimes hediondos.
O que há a fazer, no combate a este flagelo? Os vizinhos não fazem nada? Não devemos apenas consolar as vítimas, e os familiares das vítimas. Ajuda-me Dulce Maria Cardoso, com a tua obra “Eliete”: “...e ninguém dava conta porque quase nunca se dava conta de nada a não ser quando a realidade nos entrava pelos olhos adentro e, mesmo assim, preferíamos cegar a ver.”
Antigamente, não se podia pôr a colher entre marido e mulher. Estamos em pleno século XXI. A violência doméstica é um crime público! Não quero um retrocesso civilizacional. Não quero a brandura de Neto de Moura e a sua “lista negra.”
A violência doméstica é banalizada. É uma realidade que atinge todas as idades e classes sociais, não se protegendo as vítimas e os seus filhos.
Não quero “recursos de cosmética”, para disfarçar um hematoma facial.
No dia seguinte, é o primeiro dia de luto nacional.
Tenho a noção que a vida é feita de altos e baixos. Realço mais uma frase da “nossa” Dulce Maria Cardoso: “Ser feliz de forma plena era a maneira de experimentar a imortalidade. Mas sendo a felicidade provisória, era mortal, a imortalidade.
No dia 14 de Fevereiro, não é obrigatório oferecer um jantar romântico à luz das velas e partilhar o momento nas redes sociais. Não temos de conhecer as principais canções de amor. Vamos respeitar quem está ao nosso lado nos dias 1, 5, 8, 13, 18, 27... Uma relação de amor também dá trabalho!
Se não concordamos com o rumo que a relação está a seguir, devemos reconhecer que é o momento de trilharmos caminhos diferentes. A obsessão de insistir numa fórmula, que deixou de resultar, pode levar ao desespero. Desespero e loucura. Loucura e ódio. Ódio e vingança.
Dois dias antes de assinalarmos o Dia Internacional da Mulher, a 11.ª mulher vítima de violência doméstica morreu, a 17 quilómetros de minha casa.

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (13/03/2019).