segunda-feira, 22 de abril de 2019

A IMPORTÂNCIA DE VIVER OS SONHOS, NÃO DEIXANDO DE APROVEITAR AS OPORTUNIDADES...


Era uma vez um menino marroquino que sonhava ser jogador de futebol.
Nasceu, a 24 de Maio de 1989, em Fez (uma das quatro cidades imperiais de Marrocos e é lá que está, segundo alguns, a universidade mais antiga do mundo). Tão bonito quando, em poucas palavras, cruzamos sonho com história.
        O nosso menino chama-se Adel e tinha um animal de estimação, que o acompanhava para todo o lado: um camelo. Há quem vá a Marrocos visitar a tia de camelo e volte de comboio, mas Adel não largava o seu camelo chamado Youssef.
         Cresceu a dar toques na bola. Formou uma dupla imbatível, nos torneios, com Tahar (não confundir com o Tahar que jogou no Benfica, e que me marcou mais pelo que disse, do que pelo jogou. Recordo uma pérola: “Na minha transferência, Vale e Azevedo ficou com o dinheiro”).
         Adel ambicionava jogar na selecção nacional conhecida por “leões do Atlas”. Isto leva-me ao dia 3 de Outubro de 2015, quando corri nas montanhas do Atlas e, no período nocturno, tive alucinações ao chegar aos 3660 metros de altitude (não é ficção, há uma testemunha: Cédric Fruchart).
Num país que eleva a gastronomia, e depende fortemente do turismo, nunca passou pela cabeça de Adel ser chef de cozinha, como um tio paterno. Queria era ser como Hadji, a estrela marroquina de futebol que passou pelo Sporting. Imitar a sua técnica era o passatempo. Nestes momentos, Tahar desenhava roupas, inspirando-se em Yves Saint Laurent, “o rei da moda” que desenvolveu uma paixão com Marrocos mas que, infelizmente, nunca se cruzaram.
Um momento mudou as suas vidas, para sempre. Estavam a beber chá de menta, nos arredores de Fez. Aparecem dois empresários, com óculos de sol americanos a brilhar; relógios suíços acertados; fatos italianos engomados e sapatos portugueses engraxados: um ligado ao futebol; outro à moda.
Cada um seguiu a sua paixão, para o país de Napoleão. Adel avançou para Lens, cidade a norte, e o amigo Tahar seguiu para Nice, cidade situada a sul. O futebol e a moda estão, por vezes, tão distantes...
Tarik, o irmão mais novo de Adel, ficou encarregue de cuidar do camelo.
A partir daqui, importa registar o seguinte: Adel brilha e avança, no início de 2007, para terras de Sua Majestade. Por lá fica, com mais altos que baixos, até ao início de 2014. Depois, uma curta passagem no Milan, e regressa a Inglaterra, onde os momentos baixos começam a ser superiores aos altos.
No Verão de 2015, Adel chega a Lisboa. Apresentado no Benfica, com 8 quilos a mais, o presidente começa a friccionar a cabeça. Quem não friccionava? Resultado: equipa B, Génova e regresso a Lisboa.
Está quase a fazer 30 anos. Emagreceu. Há quem diga que nasceu outra vez. Na Wikipédia, ainda se pode ler: “Grande promessa a ganhar a Bola de Ouro”. Vai conseguir?
Uma mistura de realidade e ficção, que realça o facto de Adel ainda não ter potenciado, ao máximo, a sua qualidade, desperdiçando oportunidades pelas quais sempre sonhou.
Perguntarão: e o que é feito de Tahar? Tem um bigode como Salvador Dalí e fundou uma empresa, em Milão, que foi destaque na Semana da Moda de Nova Iorque.
Sim, Tahar está a aproveitar as suas oportunidades.

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (15/04/2019).