quarta-feira, 20 de junho de 2018

O PINGUE-PONGUE DA EDUCAÇÃO


Com a imensidão de programas sobre o Mundial de futebol, e com todos os caminhos a dar a Kratovo, já aprendi algumas palavras em russo e sonho encontrar-me com José Milhazes na Praça Vermelha.
Entretanto, no nosso país, a temperatura subiu, depois de o primeiro-ministro, António Costa, ter dito que o Governo não tem 600 milhões de euros, por ano, para professores.
Como grande parte dos temas da educação, este dossier é sensível e devemos tratá-lo com pinças. Vamos olhar, tranquilamente, para os dois lados da barricada e, com tanto pingue-pongue, vamos é apresentar os jogadores:
- Mário Nogueira: é o principal rosto dos professores, tendo a singularidade de não dar aulas há mais de 25 anos;
 - Tiago Brandão Rodrigues: foi praticante de karaté. Como ministro da Educação, os golpes não têm sido muito certeiros. A falta de traquejo político prejudica-o.
O jogo começa:
- Mário Nogueira começa logo a esticar a corda: “Queremos recuperar os cerca de 9 anos em que o tempo de serviço esteve congelado, pode ser?”;
- Na bancada, várias pessoas levantam cartazes, que dizem: “E as forças de segurança?”, “E os que não têm carreiras com progressões automáticas?”, “Onde vão buscar os 600 milhões de euros? Os impostos vão subir?”;
- Tiago Brandão Rodrigues responde a Mário Nogueira: “Não! E 2 anos, 9 meses e 18 dias?”;
- O líder da Fenprof rejeita, e acusa-o de “chantagem”;
- O ministro da Educação pede a substituição, e entra António Costa;
- O primeiro-ministro assume que o compromisso foi só o “descongelamento das carreiras na função pública”. Há dúvidas na bancada. Facto: o tão badalado projecto de resolução aprovado no Parlamento, no dia 15 de Dezembro de 2017, é “apenas” uma recomendação ao Governo para que reconhecesse o tempo integral;
- Este jogo terminou.
Parece que foram criadas expectativas que apontavam para o cumprimento das pretensões dos sindicatos, mas também é verdade que o Governo nunca prometeu reconhecer todo o tempo de serviço aos professores.
Vamos esperar que exista bom senso, nas negociações, sabendo-se que a posição actual dos sindicatos é insensata, e que o Governo perde credibilidade se ceder, consideravelmente, na busca de uma solução.
Para terminar, uma pequena nota para a posição de Rui Rio, em todo este processo. No surpreendente livro de David Grossman, “Um Cavalo Entra Num Bar”, registei a seguinte frase: “(...) não fosse a tentação a que é tão difícil resistir – a de espreitar o inferno do outro”. Ou seja, não é a procurar o inferno que se chega ao poder, aliás, tal como fez Passos Coelho, nos últimos meses que esteve à frente do partido, e o resultado foi o que se viu.

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (14/06/2018).