segunda-feira, 18 de novembro de 2019

NA NATUREZA, SOMOS FELIZES!

Desde que cabeceei, triunfalmente, para o fundo das redes do Sequeirense Futebol Clube, quando era juvenil do Vieira Sport Clube, fui “parteiro” de movimentos de cidadania; abracei causas sociais, entusiasmei-me com a cultura. Ah! E descobri o mundo encantado (não dos brinquedos), mas dos cogumelos silvestres.
As diferentes cores, os aromas, texturas e sabores dos cogumelos proporcionam inúmeros estímulos. É um regresso à biologia, onde os cogumelos têm um importante papel na reciclagem de nutrientes; é um desafio físico, que permite caminhar alguns quilómetros; é um incitamento na culinária, pois parte da refeição fica por minha conta, e é uma viagem a várias terras, nomeadamente aos seus campos, prados e montes.
Sinto um despertar de emoções, quando avisto cogumelos. Levanto folhas de carvalho-português e encontro um boleto. Desvio silvas e vislumbro dois choteiros, a 15 metros. As condições climáticas nunca são adversas, quando se trata de arrebatamentos. O frio é como se fizesse parte do ritual. A chuva é uma bênção!
É um encantamento que não tem um momento certo para o viver e desfrutar. Posso procurá-los de dia, no seu esplendor máximo, ou posso procurá-los, com a ajuda de uma lanterna, à noite. Posso ir sozinho ou posso ir acompanhado.
Nesta altura do ano, predominam, também, as folhas amarelas, castanhas e vermelhas. Os dias ficam mais curtos. Vem o frio, começamos a transportar lenha, e os esquilos armazenam bolotas para o Inverno. Tudo em movimento. Não há melancolia!
Numa tarde típica de Outono, fui com a minha filha a um carvalhal. Com impermeável e calçado adequado, levamos uma cesta. Pisamos uma manta de folhas secas e recolhemos pinhas; castanhas; bolotas e folhas de carvalho-português. De facto, não encontramos cogumelos, mas uma ida à natureza é sempre mágica, mesmo que parte da caminhada exija esforço extra, o que foi o caso, pois carreguei a herdeira, aos ombros, durante alguns minutos. Prevaleceram, entre vários valores, o cuidado e o respeito a manter pelo património biológico.
Dois dias depois, o material recolhido seguiu, na sua mochila, para a escola, com o objectivo de incluí-los na Área do Conhecimento do Mundo - um cantinho de biologia que a educadora de infância tão bem aprimora.
Na natureza, recebemos brindes e afastamo-nos das trevas.
Assim, não assisto ao circo em que se tornou o “Brexit”.
Deste modo, não leio comentários de ódio, face à gaguez da Joacine Katar Moreira e à saia de Rafael Esteves Martins (com a nova composição da Assembleia da República, a dignidade do debate político anda pelas ruas da amargura).
Também não oiço contínuas trocas de acusações entre a esquerda e a direita, em relação ao chumbo de propostas para proteger vidas, no Mediterrâneo. Isto leva-me à polaca Olga Tokarczuk, vencedora do Prémio Nobel da Literatura de 2018, quando a narradora Janina Duszejko, no livro “Conduz o Teu Arado sobre os Ossos dos Mortos”, anota o seguinte: “Cantámos assim cerca de uma hora, sempre o mesmo até as palavras deixarem de ter significado e parecerem aquelas pedrinhas do mar que, girando infinitamente com o movimento das ondas, se arredondam e ficam parecidas umas com as outras, como dois grãos de areia”.
Na natureza, somos felizes!

Comentário na Rádio Alto Ave, no jornal Geresão e na Cidadania Vieirense (13/11/2019).

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

DE BOTICAS A SANTANA... REFLEXÕES SOBRE AS LEGISLATIVAS


Passei o dia de reflexão em Terras de Barroso, dando uma volta de bicicleta com o meu amigo Gil Rocha. Enquanto subia uma estrada com inclinação de 11,3% (em direcção à Carreira da Lebre, em Boticas), olhei para o guiador, depois para um carvalho-português e pensei: Quem terá pedalada para, no dia de amanhã, reagir, exemplarmente, aos resultados eleitorais?
Bem, realizaram-se as eleições e o grande vencedor foi o Partido Socialista, que saiu fortalecido. Não foi por maioria absoluta, mas também não foi por “poucochinho”.
O tema Tancos não abalou António Costa. Nos debates, manteve-se firme, numa posição defensiva, conseguindo resistir às investidas dos outros candidatos.
Costa festejou e tem vários parceiros à escolha, para dançar o tango. Com um acordo global (geringonça 2.0) ou negociação ano a ano, com maior ou menor jogo de cintura, sabemos que se avistam negociações “amigáveis”.
No centro-direita, aconteceu o que era previsível - uma enorme derrota. Rui Rio tem que assumir, humildemente, a sua quota-parte de responsabilidade, no resultado.
Tenho estranhado ver o líder de um partido como o do PSD com pouca garra e ambição. Fiquei de boca aberta com a reacção caricata à derrocada. Disse que, “não houve grande derrota” e apontou baterias à Comunicação Social; sondagens. O facto é que, foi um dos piores resultados da história do PSD.
Tudo isto leva ao copo meio cheio ou meio vazio. Senão, vejamos com mais pormenor: é verdade que a oposição interna nunca lhe deu paz, e o resultado não ficou na casa dos 20%, mas também é verdade que, na crise dos professores, a estratégia foi um desastre; o “banho de ética” de Rio não atingiu José Silvano, o homem das presenças-fantasma; avançou com julgamento em praça pública (quando critica quem o faz) na questão de Tancos... e fico por aqui.
Ainda mais incrível que saber que a Volkswagen vende mais salsichas do que carros, foi olhar para quem esteve ao lado de Rio, na noite eleitoral. Arrepiou-me ver Elina Fraga; Salvador Malheiro e Mónica Quintela. Com estas companhias, os resultados dificilmente seriam brilhantes!
Em relação ao CDS, aconteceu a hecatombe eleitoral. Assunção Cristas fez o que tinha de fazer. Demitiu-se.
A líder do CDS tinha a ambição de ser primeira-ministra, o que saudei porque provocou o habitual conservadorismo nacional, no entanto, não resultou. Muita coisa correu mal e a campanha, no Porto, foi o principal sinal do que estava para vir. Prejudicada, seriamente, por ter pertencido ao Governo liderado por Passos Coelho, e com uma postura, por vezes, arrogante, foi por pouco que não voltou ao “partido do táxi”.
O Bloco consolida-se como terceira força política e conseguiu um dos seus objectivos, isto é, travar uma maioria absoluta do PS. Catarina Martins ainda esticou a corda, por causa da paternidade da geringonça, mas não houve ganhos.
Com a geringonça, o PCP derrapou e afundou. Começou nas autárquicas, depois europeias e, agora, legislativas. Jerónimo de Sousa já deveria ter abandonado a liderança. Está, claramente, sem energia e dinamismo para a exigência que o cargo requer. Os comunistas perdem força na Europa. Até quando é que o PCP será o que mais resiste?
O PAN sorri. Colocou, verdadeiramente, no centro de debate a defesa do ambiente e dos animais; elegeu quatro deputados e Heloísa Apolónia não foi eleita.
A realidade é que, uma mensagem clara, que pensa na vida quotidiana das pessoas, é extremamente eficaz. Os grandes partidos estão a perder esta capacidade e abrem espaço ao surgimento de outras forças políticas. Ora atentemos no seguinte: os partidos de menor dimensão conquistaram mais de 500 mil votos. E, entre os pequenos partidos que conseguiram entrar na Assembleia da República, classifico como interessantes os resultados da Iniciativa Liberal, que desejam menos Estado, e do Livre, que será a “esquerda feminista radical”. São visões políticas diferentes, que vão enriquecer o debate parlamentar, ao contrário do Chega que só traz duas coisas - racismo e xenofobia.
Termino a escrever no dia 9 de Outubro, e não consegui anotar algo sobre o Aliança. Olho para Santana Lopes e penso no que escreveu o narrador Nathaniel, no livro “A Luz da Guerra”, do escritor Michael Ondaatje: “Tantos estilhaços sem rótulo na minha memória”.

Comentário na Rádio Alto Ave e no jornal Geresão (9/10/2019).

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

LEITURAS E ACONTECIMENTOS "MAIS QUENTES"

Nas férias, tive a companhia indispensável dos livros. Tinha terminado “Este País não é para Velhos”, do americano Cormac McCarthy, e de uma escrita descarnada e violenta, passo a enfrentar o lirismo da escrita do canadiano Michael Ondaatje, com “A Luz da Guerra”.
Entre transportes de baldes de areia húmida; corridas para apanhar o guarda-sol levado pelo vento; vinte e sete sacudidelas de grãos de areia da toalha da Benedita e um abrandar da sua efervescência por visitar, proximamente, um parque de dinossauros, consegui avançar na leitura. De realçar que a capa do livro passou a ter outra beleza: protector solar, no centro, e creme de bola de Berlim, no canto superior esquerdo.
Uma história de abandono dá o pontapé de saída do romance, onde Ondaatje, com o calor das suas palavras, resgata a memória. O livro lança um certo assombro, na fase inicial, quando o narrador, que se chama Nathaniel, anota que, “As pessoas não são quem nós pensamos, nem estão onde julgamos que estão”, referindo, posteriormente, que, “Omissões e silêncios tinham rodeado o nosso crescimento”.
Bem, a caminho do fim da leitura do livro, estou encantado pela magia de Ondaatje. Perguntarão: e autores portugueses? Aguardo a segunda parte de “Eliete”, o romance de Dulce Maria Cardoso. A primeira parte foi surpreendente!
Vou mudar o holofote. Por vezes, o sol não foi abrasador, mas três acontecimentos, em áreas distintas, elevaram a minha temperatura corporal. Senão vejamos:
- Pisava eu terras transmontanas, quando soube que José Cid vai receber um Grammy Latino de Excelência Musical. Irreverente, polémico, oiço-o poucas vezes, mas reconheço-lhe enorme talento. Esqueçam quando posou nu com um disco de ouro a tapar-lhe as partes íntimas. É mais uma vitória para a música nacional;
- Jorge Fonseca foi pai, aos 17 anos; aos 22, venceu um tumor e, aos 26, foi o primeiro português campeão mundial de judo. Falta ser polícia e ganhar uma medalha olímpica. Eu acredito! Os feitos no desporto são verdadeiramente inspiradores. Se pensam desistir de lutar, falem com o Jorge Fonseca;
- O Papa Francisco anunciou a nomeação do arcebispo português Tolentino de Mendonça a Cardeal. Um momento de regozijo, não só para os católicos. Aos 53 anos, o poeta e teólogo Tolentino é o segundo membro mais jovem do Colégio Cardinalício. Momento para olhar para o futuro e sonhar, sendo oportuno recordar Pedro Hispano, o Papa português João XXI, a quem o poeta Dante, com “A Divina Comédia”, colocou a alma no Paraíso. A simplicidade une, também, Tolentino de Mendonça a Pedro Hispano.
Para terminar, um salto a Lobios. Se é verdade que as águas quentes de Lobios “dão para cozer batatas”, como disse a minha filha, também é verdade que não vi o Julio Iglesias (um amigo disse-me que costuma vê-lo por lá). Aliás, músico só vi um - o António Sousa, natural de Vila Praia de Âncora.

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (12/09/2019).

segunda-feira, 22 de julho de 2019

MEMÓRIAS DE UM PASSADO BEM PRESENTE


Antes de tirar do armário a minha toalha de praia, o chapéu de palha da minha mulher e o balde da Ladybug da minha filha, abri o jornal e registei várias notas: o sol brilha; a temperatura sobe; acontece o que era expectável e tornou-se inevitável; concretizam-se sonhos e voltam algumas memórias.
Se Assunção Cristas admitiu, finalmente, que a posição do seu partido, em relação aos professores, “foi um erro”, Donald Trump sonhou ser presidente dos Estados Unidos e apresentar-se, no Dia da Independência, numa parada militar com tanques e helicópteros, e não apenas com marchas (os sonhos foram concretizados e houve festa).
Vamos às memórias. Fez quinze anos que Portugal foi derrotado, na final do Campeonato Europeu de Futebol de 2004. Tínhamos vencido Espanha, Inglaterra e Holanda. O pensamento que predominava era, “a final está ganha!”
Há que comemorar num ambiente frenético. Com Nuno Gonçalves, um amigo de infância, seguimos, no seu mítico carro Renault Clio (cor branca), para Braga. Na Praça da República, o ecrã gigante demonstrava o clima de festa, antes do apito inicial. A ansiedade pelos festejos crescia. Tudo pronto para lançar os foguetes. Espumantes no frigorífico, barris de cerveja, em todas as esquinas, e tremoços a escassear. Levantamos os cachecóis. Scolari reza a Nossa Senhora de Caravaggio. Murtosa alisa o seu bigode farfalhudo, com o dedo indicador da mão direita, e olha para uma bancada. Eu olho para o céu. Nuno foi buscar duas cervejas.
Público presente no Estádio da Luz: 62.865 pessoas. A bola começou a rolar.
Roemos unhas. Saltamos. Ricardo não tirou as luvas. Eusébio não acreditava no que estava prestes a acontecer. Nuno foi buscar mais duas cervejas. Todos sabemos o resultado. Várias pessoas emocionadas, abraçadas. Ronaldo chorou. Não chorei. Nuno recolheu os copos de plástico. Dirigimo-nos ao McDonald’s, escolhemos Big Mac e bebemos água (o único aspecto positivo da derrota foi a troca de bebida).
Já no carro, enquanto o Nuno sintonizava a Rádio Alto Ave, recordei as exibições deslumbrantes de Ricardo, Ricardo Carvalho, Maniche, Figo, Rui Costa e Ronaldo. Entrei em casa, perto das 23 horas.
Não sou muito destas coisas, mas o destino… Há dias, as duas selecções voltaram a encontrar-se e Portugal foi, novamente, derrotado (Charisteas, o nosso “carrasco”, também marcou). Mais: vi parte do jogo de estreia da nossa selecção, em Braga, e perdemos; vi os jogos, até à final, na “minha terra amada”, e ganhamos todos, e volto a Braga, para ver a final, e perdemos.
Desde então, voltei várias vezes a Braga, mas nunca para ver um jogo de Portugal, num ecrã gigante. 
Sabem uma coisa? A final não estava ganha, vimo-nos gregos para ultrapassar esta dor e faltou-nos humildade!

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (11/07/2019).

domingo, 23 de junho de 2019

A UNIÃO FAZ A FORÇA... TAMBÉM NA POLÍTICA!


Passou um acto eleitoral e vejo três pessoas a quererem mostrar que estão mais activas que nunca. Refiro-me a José Castelo Branco; Rui Rio e Assunção Cristas, se bem que, por razões diferentes.
Castelo Branco que, em Nova Iorque, se tem debruçado sobre a realidade do nosso país, quer concorrer às eleições legislativas. Será um sonho de criança?
No Mosteiro, antes de adormecer, também penso no impacto das políticas sociais de Jüri Ratas, primeiro-ministro da Estónia. Só que eu não posso candidatar-me às legislativas da antiga República Soviética, já Castelo Branco…
Entretanto, já há troca de acusações com o líder do partido Chega. Uma coisa é certa: a sensibilidade vai estar mais presente, na nossa política. Senão, vejamos como começa a resposta de Castelo Branco a André Ventura, o tal que faltou ao debate das europeias, porque tinha de comentar futebol: “Meu querido...”.
Adiante! Vamos abordar um tema sério, com recurso a factos.
As recentes eleições europeias tornaram claro que o centro-direita está enfraquecido. O PSD e CDS recolheram, em conjunto, uma votação inferior a 30%. Resultado anunciado?
Nas europeias de 2014, o resultado dos dois partidos, que representam o centro e a direita, foi fraco, mas justificaram com a Troika (o que até se compreende), e focaram demasiada atenção no “poucochinho”.
Nas legislativas de 2015, acontece o que todos sabemos e a estratégia da oposição passa por dizer, sistematicamente, que António Costa não ganhou as eleições; que é um Governo ilegítimo, e que “vem aí o diabo”. Os portugueses fartaram-se destes comportamentos e António Costa e Mário Centeno aproveitaram.
Nas autárquicas de 2017, PSD e CDS não deram bem as mãos e o PS saiu reforçado.
Nas europeias de 2019, o PSD teve o pior resultado de sempre, em eleições, e o CDS foi quase ultrapassado pelo… PAN.
Os candidatos Paulo Rangel e Nuno Melo foram um fiasco. Rangel esteve sempre aos berros e a atacar, mas nem se percebeu que mensagem queria fazer passar, e nem sequer chegou à baliza. Melo fez o impensável, e chamou, insistentemente, Sócrates (ainda deve sonhar com ele), e teve a coragem de reagir à derrota da seguinte forma: “A direita tende a ir à praia, a esquerda tende a ir às urnas”. Assim sendo, foi “Porreiro, pá!”.
Tudo isto somado resulta numa crise no centro-direita, com muita sacudidela de água do capote.
Está à vista de todos que, com as lideranças de Rui Rio e Assunção Cristas, cada um segue o seu próprio caminho. Rio quer é tentar unir o partido e definir a sua linha estratégica, e Cristas quer é ser primeira-ministra. Ou seja, poucas condições para uma forte coligação pré-eleitoral, tipo PàF 2 (Portugal à Frente 2).
É importante relembrar aos líderes dos dois partidos uma pequena nota. Há muito que se sabe que, só com maioria de 116 deputados, conseguirão governar.
O centro-direita tem de estar unido, procurando uma cooperação estratégica, para apontar baterias à esquerda.
Uma das coisas que mais impressiona é que, por vezes, a oposição, em vez de aplaudir a recuperação económica e a redução do défice, podendo até recolher alguns dos louros porque os primeiros passos foram dados pelo anterior primeiro-ministro, chegam a criticar o défice actual. Não se pode seguir uma linha de orientação estratégica, quando se está no poder, e seguir outra, quando se está na oposição. Os eleitores ficam confusos.
Impõe-se uma análise profunda do centro-direita ao que aconteceu, nos últimos anos, para, depois, tentarem sintonizar os passos de dança, até Outubro.

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (13/06/2019).

quarta-feira, 29 de maio de 2019

O REINO UNIDO... OUTRA VEZ!



O Reino Unido anda a perseguir-me! Há meses que me saturo de ver Theresa May, na televisão, e sofro sustos constantes (não pelo seu aspecto físico, mas pela desorientação que demonstra em relação ao “Brexit”); vou ao cinema e a minha filha escolhe o filme “Cai na Real, Corgi”, que eleva a paixão da rainha Isabel II pelos cães de raça Corgi; no dia 7 de Maio, ligo a televisão, enquanto tomo o pequeno-almoço, e noticiam o nascimento do bebé real, o que emocionou britânicos e entreteve tantos, em vários pontos do mundo…
Ah! E, há dias, assistimos ao facto incrível de, no futebol, quatro equipas inglesas irem disputar as finais europeias. Com “remontadas” à mistura, destaco um apanha-bolas chamado Oakley Cannonier. Um jovem que teve um papel determinante, no quarto golo do Liverpool.
No dia seguinte, não vejo notícias de Cannonier. A vida é isto: holofotes para as famílias com poder, mesmo para aqueles que, ainda, não andam nem falam, e a sociedade esquece-se daqueles que vivem na sombra. Parece que Cannonier teve indicações para entregar, rapidamente, as bolas e cumpriu com sucesso. Herói? Um prémio justo: bilhete para a final da Liga dos Campeões, mas para a tribuna e não para apanhar bolas.
Vou recuar! No passado dia 5 de Maio, pedi que me enchessem quatro bidões de gasóleo, preparando-me para o que pudesse vir por aí, e chego a casa para ouvir Rui Rio. Ajuda-me Bocage e diz que é “pior a emenda que o soneto”.
Quer se goste, ou não, BE e PCP foram coerentes com aquilo que têm defendido (recuperação do tempo de serviço dos professores), mas PSD e CDS fizeram uma jogada desastrada, que pensavam ser de mestre. Depois, Rio e Cristas procuraram defender o indefensável, e andaram preocupados em dizer que não recuaram.
É claro que existiu um recuo. No desenrolar do processo na Comissão de Educação e Ciência, sabemos que o famoso travão financeiro esteve na proposta inicial, mas, posteriormente, o travão desapareceu. A verdade é que nem o PSD nem o CDS tinham dito que dependia de algo mais (como um travão) a proposta conjunta aprovada, na especialidade, também com os votos do BE e PCP.
Sim, o PSD e CDS recuaram, no dia 10 de Maio, ao chumbar a recuperação do tempo dos professores. Parece que o rigor das contas públicas só serve para alguns momentos.
Se isto não é um recuo, informo Rio e Cristas que, no dia 1 de Junho, estarei no Campo Paroquial do Mosteiro, a partir das 10 horas, e podem aparecer para explicar-me o que é um recuo. O almoço fica por minha conta.
Mais, o líder da bancada do PSD, Fernando Negrão, co-responsabiliza o líder do partido por todos os passos deste processo. Afinal de contas, houve “articulação”.
Há guerras que duram mais de 100 anos, e crises políticas que não ultrapassam os 8 dias.
A política é surpreendente. Rui Rio toma posse e chama, inexplicavelmente, Salvador Malheiro e Elina Fraga; Luís Montenegro provoca terramoto que não causa danos; a “familygate” leva Rio a esfregar as mãos e, agora, faz isto. Quando era adolescente, ouvia Britney Spears cantar: “Oops!... I Did It Again”. Ah, Britney não é britânica!

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (13/05/2019).

Fotografia: Andy Rain/EPA.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

A IMPORTÂNCIA DE VIVER OS SONHOS, NÃO DEIXANDO DE APROVEITAR AS OPORTUNIDADES...


Era uma vez um menino marroquino que sonhava ser jogador de futebol.
Nasceu, a 24 de Maio de 1989, em Fez (uma das quatro cidades imperiais de Marrocos e é lá que está, segundo alguns, a universidade mais antiga do mundo). Tão bonito quando, em poucas palavras, cruzamos sonho com história.
        O nosso menino chama-se Adel e tinha um animal de estimação, que o acompanhava para todo o lado: um camelo. Há quem vá a Marrocos visitar a tia de camelo e volte de comboio, mas Adel não largava o seu camelo chamado Youssef.
         Cresceu a dar toques na bola. Formou uma dupla imbatível, nos torneios, com Tahar (não confundir com o Tahar que jogou no Benfica, e que me marcou mais pelo que disse, do que pelo jogou. Recordo uma pérola: “Na minha transferência, Vale e Azevedo ficou com o dinheiro”).
         Adel ambicionava jogar na selecção nacional conhecida por “leões do Atlas”. Isto leva-me ao dia 3 de Outubro de 2015, quando corri nas montanhas do Atlas e, no período nocturno, tive alucinações ao chegar aos 3660 metros de altitude (não é ficção, há uma testemunha: Cédric Fruchart).
Num país que eleva a gastronomia, e depende fortemente do turismo, nunca passou pela cabeça de Adel ser chef de cozinha, como um tio paterno. Queria era ser como Hadji, a estrela marroquina de futebol que passou pelo Sporting. Imitar a sua técnica era o passatempo. Nestes momentos, Tahar desenhava roupas, inspirando-se em Yves Saint Laurent, “o rei da moda” que desenvolveu uma paixão com Marrocos mas que, infelizmente, nunca se cruzaram.
Um momento mudou as suas vidas, para sempre. Estavam a beber chá de menta, nos arredores de Fez. Aparecem dois empresários, com óculos de sol americanos a brilhar; relógios suíços acertados; fatos italianos engomados e sapatos portugueses engraxados: um ligado ao futebol; outro à moda.
Cada um seguiu a sua paixão, para o país de Napoleão. Adel avançou para Lens, cidade a norte, e o amigo Tahar seguiu para Nice, cidade situada a sul. O futebol e a moda estão, por vezes, tão distantes...
Tarik, o irmão mais novo de Adel, ficou encarregue de cuidar do camelo.
A partir daqui, importa registar o seguinte: Adel brilha e avança, no início de 2007, para terras de Sua Majestade. Por lá fica, com mais altos que baixos, até ao início de 2014. Depois, uma curta passagem no Milan, e regressa a Inglaterra, onde os momentos baixos começam a ser superiores aos altos.
No Verão de 2015, Adel chega a Lisboa. Apresentado no Benfica, com 8 quilos a mais, o presidente começa a friccionar a cabeça. Quem não friccionava? Resultado: equipa B, Génova e regresso a Lisboa.
Está quase a fazer 30 anos. Emagreceu. Há quem diga que nasceu outra vez. Na Wikipédia, ainda se pode ler: “Grande promessa a ganhar a Bola de Ouro”. Vai conseguir?
Uma mistura de realidade e ficção, que realça o facto de Adel ainda não ter potenciado, ao máximo, a sua qualidade, desperdiçando oportunidades pelas quais sempre sonhou.
Perguntarão: e o que é feito de Tahar? Tem um bigode como Salvador Dalí e fundou uma empresa, em Milão, que foi destaque na Semana da Moda de Nova Iorque.
Sim, Tahar está a aproveitar as suas oportunidades.

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (15/04/2019).

segunda-feira, 18 de março de 2019

UMA SÓ PALAVRA: BASTA!


E a 13.ª vítima de violência doméstica de 2019 morreu, perto de minha casa.
A noite do dia 6 de Março era fria. Num ambiente tranquilo, assistíamos aos resumos dos jogos da Liga dos Campeões. Marega foi um poço de força, Lukaku decisivo. Os golos são a pimenta. A paz foi interrompida. À volta da lareira, a minha mulher lia, numa rede social, uma notícia: “Uma mulher foi assassinada...” Ficamos em choque! “Mais uma vítima. Em Salamonde?”
O drama da violência doméstica tem atingido tantas habitações. Desta vez, acontece perto da nossa casa. Habitações impregnadas de violência. Diariamente, os telejornais abrem com notícias sobre crimes hediondos.
O que há a fazer, no combate a este flagelo? Os vizinhos não fazem nada? Não devemos apenas consolar as vítimas, e os familiares das vítimas. Ajuda-me Dulce Maria Cardoso, com a tua obra “Eliete”: “...e ninguém dava conta porque quase nunca se dava conta de nada a não ser quando a realidade nos entrava pelos olhos adentro e, mesmo assim, preferíamos cegar a ver.”
Antigamente, não se podia pôr a colher entre marido e mulher. Estamos em pleno século XXI. A violência doméstica é um crime público! Não quero um retrocesso civilizacional. Não quero a brandura de Neto de Moura e a sua “lista negra.”
A violência doméstica é banalizada. É uma realidade que atinge todas as idades e classes sociais, não se protegendo as vítimas e os seus filhos.
Não quero “recursos de cosmética”, para disfarçar um hematoma facial.
No dia seguinte, é o primeiro dia de luto nacional.
Tenho a noção que a vida é feita de altos e baixos. Realço mais uma frase da “nossa” Dulce Maria Cardoso: “Ser feliz de forma plena era a maneira de experimentar a imortalidade. Mas sendo a felicidade provisória, era mortal, a imortalidade.
No dia 14 de Fevereiro, não é obrigatório oferecer um jantar romântico à luz das velas e partilhar o momento nas redes sociais. Não temos de conhecer as principais canções de amor. Vamos respeitar quem está ao nosso lado nos dias 1, 5, 8, 13, 18, 27... Uma relação de amor também dá trabalho!
Se não concordamos com o rumo que a relação está a seguir, devemos reconhecer que é o momento de trilharmos caminhos diferentes. A obsessão de insistir numa fórmula, que deixou de resultar, pode levar ao desespero. Desespero e loucura. Loucura e ódio. Ódio e vingança.
Dois dias antes de assinalarmos o Dia Internacional da Mulher, a 11.ª mulher vítima de violência doméstica morreu, a 17 quilómetros de minha casa.

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (13/03/2019).

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

PEQUENAS GRANDES LIÇÕES... DE VIDA!


É dia 10 de Fevereiro. Acabamos de almoçar e é hora de a minha filha pedalar. Tudo calmo, no Mosteiro. Não é dia de jogo. Chegamos ao recinto desportivo. Põe capacete. Tira capacete. Pedala. Não pedala. Corre. Não corre. Aproveito para esticar as pernas.
No regresso a casa, sai da bicicleta. A breve pausa destina-se a saudar os cães que os vizinhos têm. Retomamos o caminho e chega o momento habitual: na descida, faz uma corrida veloz (velocista como o pai?), e eu, com a bicicleta na mão, a gritar: “Cuidado, Benedita!”
Entramos em casa. Vemos a nossa musa atarefada e começam as negociações, entre o pai e a filha. Foi conseguido um acordo. A bola começa a rolar. Estádio da Luz pronto para homenagear o “pequeno génio.” O primeiro salto no sofá (e primeiro susto para a menina) não demorou. Todos sabemos o resultado final: 10-0.
Sabem o que mais me impressionou? Não foram os 10 golos, mas a emoção dos jogadores da equipa adversária. Choraram! Humilhados! Há derrotas e derrotas. Não é verdade quando se diz: “É o mesmo perder por 1 ou por 10.”
Levados ao tapete, a nobreza deste desporto, que é, infelizmente, cada vez mais rara, veio ao de cima. Que grande a dignidade daqueles que, em vez de correrem para os adeptos, foram abraçar os jogadores de uma equipa esmagada.
A lição para a minha filha foi esta: “São tão grandes os que vencem, como os que são derrotados.”
Vou recuar um dia.
Acordo, ligo a televisão e vejo Pedro Santana Lopes. Penso: “Pois, é o congresso do Aliança. O antigo líder do PSD vai entrar nas nossas casas no decorrer do fim-de-semana. Só um acontecimento pode anular este cenário. No caso, a chegada de Mourinho ao aeroporto.”
Conhecemos algumas pessoas que se revêem no Aliança. Une-os o ressabiamento com vários partidos. Será uma espécie de ajuste de contas? O quanto um projecto pode ser frágil, quando não é o resultado da união de pessoas por um mesmo ideal.
Agora, vejamos o comportamento do seu líder. Perde as eleições, no Partido Social Democrata, no início de Janeiro de 2018, e, imediatamente, começa a preparar um novo partido. Tudo isto é tão rápido e incrível! Tinha acabado de lutar para persuadir os militantes do PSD a votar no seu projecto. O que vai na mente de quem confiou nele?
Para Santana, não há períodos de reflexão. Só se consegue seguir este caminho, quando se sobrepõe a tudo o interesse pessoal. Com sinceridade, dirijo-me ao líder do Aliança: “Nesta, como noutras, não me convences.”

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (13/02/2019). 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

BALANÇOS DO ANO VELHO... E AS PRIMEIRAS CONTRADIÇÕES DO ANO NOVO!

            Ano novo, vida nova? Só para alguns. Pois, para outros, continua tudo na mesma.
Vida nova para Rui Vitória. Registo uma evidência: os poderes da luz não têm, definitivamente, ligações ao mundo da bola. Luís Filipe Vieira ainda me fez duvidar sobre esta ligação, mas, em Portimão, tudo ficou claro... até o mancar de Jackson Martínez.
Mourinho não vem. Óptimo! Ia custar-me ver Silvino sentado no banco do Benfica. Já a ele, não lhe iria custar, porque é o tal que chegou a ser suplente de um cantor.
Como curiosidade, registo a sincronia entre Benfica e Vieira Sport Clube em várias vitórias, e, agora, também na hora da mudança de treinadores.
Deixem-me voltar a 2018, para partilhar algumas das minhas leituras. Comecei o ano com José Saramago - “As Intermitências da Morte”; depois Pamuk, Naipaul, Ian McEwan, Rachel Kushner. Foram belas leituras, mas não entram no pódio. A nota máxima vai para “Agarra o Dia”, de Saul Bellow, com um final memorável, escrito por este grande génio; “Um Cavalo Entra num Bar”, de David Grossman, onde a tragédia e o humor dão as mãos, e “Reservatório 13”, de Jon McGregor, sobre o ritmo da vida.
No meu quarto, tenho 104 livros, nas prateleiras. Podiam estar noutro sítio. Encaixotados. Mas, antes de adormecer, quero vê-los. Ver a lombada daqueles que ainda vou ler. Recordar o que li. Recordar a emoção, no aeroporto de Frankfurt, quando terminei a leitura de “A Estrada”, de Cormac McCarthy. O meu favorito é “Ensaio sobre a Cegueira”, de Saramago.
Adiante. Marcelo não me ligou! E, agora, temos uma guerra nas manhãs.
Manuel Luís Goucha recebeu, no seu programa, o nazi Mário Machado. Várias vezes condenado e preso por diversos crimes, é o líder do movimento Nova Ordem Social.
Os movimentos de extrema-direita estão a crescer de forma preocupante e o melhor é ajudá-los no seu fortalecimento. Boa, Goucha! Com bigode e com o apoio da Teresa Guilherme, o apresentador pode ser um bom candidato.
Um ponto importante: uma coisa é ouvir todas as partes, outra coisa é dar palco a um convidado, sem estar preparado para o confrontar com contradições. Não pode valer tudo, numa guerra de audiências!
Sabem onde continua tudo na mesma? Na Rússia e na Venezuela.
Na recta final do ano passado, ocorreu o tradicional jogo de hóquei no gelo, na Praça Vermelha, em Moscovo. A equipa de Putin ganhou. Nem os 5 golos do presidente constituem surpresa.
A Venezuela mantém uma grave situação de pobreza e medo. Um país que está à beira do colapso. Nicolás Maduro vive num mundo à parte. A riqueza petrolífera de um país não vale nada, quando estão energúmenos à sua frente.
Já tenho vontade de voltar ao novo presidente do Brasil, mas, por agora, não!

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (14/01/2019).