segunda-feira, 22 de julho de 2019

MEMÓRIAS DE UM PASSADO BEM PRESENTE


Antes de tirar do armário a minha toalha de praia, o chapéu de palha da minha mulher e o balde da Ladybug da minha filha, abri o jornal e registei várias notas: o sol brilha; a temperatura sobe; acontece o que era expectável e tornou-se inevitável; concretizam-se sonhos e voltam algumas memórias.
Se Assunção Cristas admitiu, finalmente, que a posição do seu partido, em relação aos professores, “foi um erro”, Donald Trump sonhou ser presidente dos Estados Unidos e apresentar-se, no Dia da Independência, numa parada militar com tanques e helicópteros, e não apenas com marchas (os sonhos foram concretizados e houve festa).
Vamos às memórias. Fez quinze anos que Portugal foi derrotado, na final do Campeonato Europeu de Futebol de 2004. Tínhamos vencido Espanha, Inglaterra e Holanda. O pensamento que predominava era, “a final está ganha!”
Há que comemorar num ambiente frenético. Com Nuno Gonçalves, um amigo de infância, seguimos, no seu mítico carro Renault Clio (cor branca), para Braga. Na Praça da República, o ecrã gigante demonstrava o clima de festa, antes do apito inicial. A ansiedade pelos festejos crescia. Tudo pronto para lançar os foguetes. Espumantes no frigorífico, barris de cerveja, em todas as esquinas, e tremoços a escassear. Levantamos os cachecóis. Scolari reza a Nossa Senhora de Caravaggio. Murtosa alisa o seu bigode farfalhudo, com o dedo indicador da mão direita, e olha para uma bancada. Eu olho para o céu. Nuno foi buscar duas cervejas.
Público presente no Estádio da Luz: 62.865 pessoas. A bola começou a rolar.
Roemos unhas. Saltamos. Ricardo não tirou as luvas. Eusébio não acreditava no que estava prestes a acontecer. Nuno foi buscar mais duas cervejas. Todos sabemos o resultado. Várias pessoas emocionadas, abraçadas. Ronaldo chorou. Não chorei. Nuno recolheu os copos de plástico. Dirigimo-nos ao McDonald’s, escolhemos Big Mac e bebemos água (o único aspecto positivo da derrota foi a troca de bebida).
Já no carro, enquanto o Nuno sintonizava a Rádio Alto Ave, recordei as exibições deslumbrantes de Ricardo, Ricardo Carvalho, Maniche, Figo, Rui Costa e Ronaldo. Entrei em casa, perto das 23 horas.
Não sou muito destas coisas, mas o destino… Há dias, as duas selecções voltaram a encontrar-se e Portugal foi, novamente, derrotado (Charisteas, o nosso “carrasco”, também marcou). Mais: vi parte do jogo de estreia da nossa selecção, em Braga, e perdemos; vi os jogos, até à final, na “minha terra amada”, e ganhamos todos, e volto a Braga, para ver a final, e perdemos.
Desde então, voltei várias vezes a Braga, mas nunca para ver um jogo de Portugal, num ecrã gigante. 
Sabem uma coisa? A final não estava ganha, vimo-nos gregos para ultrapassar esta dor e faltou-nos humildade!

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (11/07/2019).