segunda-feira, 26 de novembro de 2018

UMA VIAGEM ATÉ MARGARET ATWOOD


No dia 2 de Novembro, leio uma notícia, no sítio da Visão, onde salta à vista a presença de Margaret Atwood no “Fórum do Futuro”, no Porto. Registo! Uma oportunidade única para ouvir a escritora canadiana a quem Kazuo Ishiguro pediu desculpas, quando ganhou o Nobel da Literatura de 2017.
 Atwood é conhecida por lançar distopias que se aproximam da realidade. A vontade cresce, até ao dia 8. Chego a esse dia. Entro na cidade e oiço buzinadelas de um condutor (suponho que pela minha hesitação no local onde estacionar). Encosto o carro, fecho os olhos e penso: Estou em Napóles? Parece-me que cheguei ao sul de Itália.” Olho para placas informativas e percebo que estou perto do Mercado do Bolhão.
O relógio indica 12h21. Coloco a mochila às costas e direcciono-me ao Teatro Rivoli, para levantar o bilhete para o encontro nocturno com a escritora. A bilheteira abre às 13h00 e a fila é considerável. A cultura portuense está em boa forma.
A barriga começa a dar horas e procuro, na Internet, onde fica o restaurante “O Afonso”, uma das referências gastronómicas da Invicta, para o saudoso Anthony Bourdain. Chego e enfrento mais uma fila. Relaxo e delicio-me. Numa escala de 0 a 10, a minha nota é 9,5. Realce para a decoração que domina no restaurante, onde destaca Bourdain e Ayrton Senna. Se um brilhou na cozinha, o outro foi rei nas pistas.
Com a energia no máximo, sigo até à Igreja de São Francisco. A sua construção iniciou-se no século XIV e o conjunto de talha dourada barroca, do século XVIII, é arrebatador. Voltam recordações de Itália: paguei sete euros pela entrada, mais um euro por um pequeno folheto.
O tempo ajuda e a caminhada prossegue. Chego ao Terreiro da Sé e admiro a paisagem deslumbrante, com 15 grandes pinceladas de estruturas metálicas. Sim, avisto 15 gruas! A cidade rejuvenesce!
Chego à Avenida dos Aliados e um aroma intenso persegue-me. Comida indiana? Quero andar mais e oiço: “Olha, quentes e boas.” Não resisto: compro uma dúzia de castanhas assadas! A minha nota é 9.
Começa a chover e anoitece. É o momento de ler algumas páginas do livro que me tem acompanhado - “Reservatório 13”, de Jon McGregor. Meia hora depois, recebo uma mensagem da minha mulher: “A Benedita não quer ir à aula de balé, porque doí-lhe a barriga.” Fecho o livro. Passados alguns minutos, diz-me que foi na mesma. Bravo! Volto a abrir o livro.
Às 21h30, entro no Teatro Rivoli. Num ambiente multicultural, Margaret Atwood apresenta, sempre com boa disposição, imagens da sua infância e lança notas sobre as suas obras, nomeadamente, a relevância que dá à mitologia. Curiosidade: escreveu a sua principal obra, “A História de Uma Serva”, no ano em que nasci, em 1984, e a distância que nos separava era de “apenas” cerca de 2500 quilómetros. Eu em Vieira do Minho e Atwood em Berlim.
Para realçar a importância deste encontro, basta destacar, não os elogios do moderador, Gareth Evans, ao Vinho Verde, mas sim a sua conclusão: “Depois desta conversa, vamos todos para casa, sob a chuva desta noite de Novembro, a pensar no que é que andamos a fazer com as nossas vidas.” A minha nota é 10.

Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (14/11/2018).