quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

CULTURA E IGUALDADE

A Cultura deve estar vigorosamente enraizada em todas as comunidades. Se já é de louvar a iniciativa do Museu Nacional de Arte Antiga, de expôr quadros nas ruas, o que dizer do “Robin das Artes”?
O que aconteceu foi que, quatro obras da exposição “Coming Out – e se o museu saísse à rua?” foram desviadas do Chiado para a margem Sul, mais propriamente para o Miratejo.
Mais importante que descobrir quem é que deslocou estas obras, é aproveitar e admirar as mesmas. A ideia foi fantástica.
A Cultura também passa por proporcionar, a todas as pessoas, o acesso igualitário à Arte. Aliás, devemos ter o gosto de partilhar criações formidáveis, sabendo que apoiar a Cultura é um acto nobre.
Já não chega apostarmos pouco nesta área, e ainda acabamos sempre por ter os trabalhos artísticos nos mesmos locais. Vamos deixar de lado qualquer preconceito, e transportar a Arte, nomeadamente, para bairros sociais e comunidades rurais.
A título de exemplo, os moradores do bairro que recebeu as obras do “Robin das Artes”, já lá imaginam ver mais algumas criações artísticas.
A Cultura deve ser valorizada, e tem de ser um eixo estratégico do desenvolvimento de um país.
Será oportuno relembrar Vergílio Ferreira: “A cultura é o modo avançado de se estar no Mundo, ou seja a capacidade de se dialogar com ele”.
Também no passado dia 3 de Dezembro, assinalou-se o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. É conveniente recordar, por isso, os bloqueios que têm ainda de ser ultrapassados, e os horizontes por abrir.
O que dizer sobre as barreiras que o novo deputado bloquista, Jorge Falcato, que se desloca numa cadeira de rodas, encontrou na casa da democracia? Uma vergonha!
Como refere o artigo 1° da Declaração Universal dos Direitos do Homem: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”.
É de enaltecer, igualmente, o papel que o desporto adaptado desempenha. A importância da prática desportiva como agente inclusivo é, por demais, evidente. E, neste caso, as instituições escolares podem e devem fazer muito mais, não podendo cruzar os braços e esperar que outros façam esse trabalho.
Seja, ou não, por uma questão de mentalidade, a verdade é que sabemos que não há barreiras inquebráveis.
Em suma, devemos remar, fortemente, na defesa da Cultura e da Igualdade.

Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (10/12/2015).

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

PORTUGAL EM "ÁGUAS AGITADAS"

Era habitual ouvir lamentações de tantos portugueses sobre a política nacional, pelo facto de, por vezes, ser tão tenra e com pouca emoção, que estava mesmo na hora de o panorama começar a aquecer.
Escrevo este comentário no dia em que, precisamente, cai o Governo de direita. A agitação política sobe, inevitavelmente.
Os belgas, dinamarqueses, luxemburgueses, letões e noruegueses sabem que, hoje em dia, uma vitória nas legislativas pode não garantir a governação. E não vem mal nenhum ao mundo que os portugueses, agora, também o saibam. Tudo isto é Democracia!
Os resultados das eleições legislativas foram claros, realçando dois pontos fundamentais: a coligação Portugal à Frente venceu, mas perdeu a maioria absoluta, e o PS perdeu, mas a esquerda conseguiu a maioria dos votos.
Após estes resultados, vários cenários ficaram em aberto. Julgava-se que, o caminho escolhido por António Costa seria o de deixar queimar o Governo, em lume brando, e, em menos de dois anos e meio, apresentar uma moção de censura. Seria um caminho mais seguro e, possivelmente, mais consensual entre os socialistas.
No entanto, o caminho foi outro. Na política, também existe espaço para o dialógo, e há que saber negociar e estabelecer pontes.
Mesmo não se concordando com o caminho que o líder dos socialistas tomou, não se pode reagir com histeria. Aliás, a coligação de centro-direita, com o seu radicalismo ideológico, pôs-se a jeito, para que este cenário pudesse acontecer.
É verdade que, a união da esquerda engloba partidos com ideologias muito diferentes, mas também é verdade que ninguém deve estar excluído do chamado “arco da governação”.
As cedências têm de estar em cima da mesa. Da mesma forma que, o Partido Popular Monárquico não impôs a realização de um referendo, sobre a República como condição para fazer parte da Aliança Democrática, também o BE, PCP e PEV terão que “esquecer” medidas como a nacionalização do sector energético e o regresso ao escudo.
O grande problema é que a corda vai estar sempre esticada. Nos acordos que foram assinados, existem fragilidades que podem abalar o futuro Executivo, pois este não terá a presença do BE, PCP e PEV; os acordos não incluem a garantia de que os partidos à esquerda do PS aprovem os quatro orçamentos da legislatura; não existe uma única palavra nos acordos, em relação ao cumprimento do Tratado Orçamental, e depois de 2016, poucas medidas estão negociadas. Para além disto, terá de prosseguir o processo de consolidação orçamental.
Bem, uma coisa é certa: as negociações serão o prato da casa do futuro Governo.
No meio desta forte agitação política, Costa corre um risco político considerável. O PS afasta-se do centro político, e o secretário-geral socialista sabe que, se o acordo à esquerda falhar, Passos Coelho fica a um “pequeno click” da maioria absoluta.

Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (10/11/2015).

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

PASSOS E SYMONDS



O que têm em comum Passos Coelho e Andy Symonds? O facto de terem conquistado vitórias, no início do mês de Outubro.
Um deles venceu as eleições legislativas, em Portugal, sem maioria absoluta, mas com margem folgada, e o outro venceu de forma imparável o Ultra Trail Atlas Toubkal (UTAT), em Marrocos.
Mas vamos por partes.
Mesmo depois de quatro anos implacáveis de austeridade, levando a resultados por demais evidentes, quase dois milhões de portugueses optaram pela continuidade.
O que provocou este resultado? O governo de coligação PSD/CDS-PP cumpriu a estratégia que foi delineada, independentemente do resultado que viesse a alcançar, e manteve-se coeso, na parte final do mandato.
Já o PS não se mostrou unido, com os seguristas afastados de António Costa, e o actual secretário-geral a ter de “contornar”, sistematicamente, as alusões a José Sócrates.
Os eleitores sabem que o PS não é o Syriza, mas não esquecem os aplausos do partido de Costa ao partido de Tsipras, e Maria de Belém precipitou-se e, consequentemente, empurrou o partido para perto de uma ravina.
No meio disto tudo, Costa fez uma campanha à esquerda, perdendo o centro, e o resultado foi o crescimento do BE e da CDU.
De realçar que, uma boa parte dos eleitores indecisos não confiou na coligação PSD/CDS-PP e no PS, e, uma vez que Catarina Martins esteve assertiva, combativa e determinada, nomeadamente, nos debates pré-eleitorais, acabou por ser a “solução” para esse eleitorado.
Uma pergunta ergue-se: por quanto tempo governará a coligação de centro-direita?
Vários duros acordos parlamentares terão que ser estabelecidos, mas todos sabemos que a probabilidade de termos eleições, em menos de dois anos e meio, é a mesma que o dia de amanhã ter 24 horas.
Mas, agora, rumamos a África, mais propriamente para Marrocos, o país de Hicham El Guerrouj.
O UTAT é uma das provas mais duras do continente africano, que testa o limite dos atletas que têm a ousadia de enfrentrar o Atlas, e que permite explorar os trilhos do povo berbere.
Parece que 105 quilómetros, e 6500 metros de desnível positivo, foi pouco para o britânico Symonds, tal a frescura que apresentava, após esta batalha. Já o francês Chorier chegou 39 minutos depois.
Também para a comitiva portuguesa, que participou nesta aventura, foi uma experiência inesquecível. E eu, como um dos participantes, olho para a pedra que guardei, quando atravessei uma montanha a 3660 metros de altitude, e penso na dureza, no sofrimento, nas alucinações, na alegria e no divertimento que esta odisseia me proporcionou.
          No dia em que escrevo este artigo, 6 de Outubro, tenho a sensação que há algo mágico em Marrocos, que nos diz que ficou muito por conhecer e que teremos de lá voltar. 

Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (06/10/2015).

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

COSTA GANHOU, PASSOS TREMEU

O dia 9 de Setembro foi um dia de embates frenéticos, na Península Ibérica. Em Espanha, Joaquim Rodríguez arrancou para o contra-relógio decisivo, com um segundo de avanço de Aru. Já em Portugal, um importante debate político, que foi transmitido em simultâneo pelas três televisões generalistas, mobilizou o país.
Uma nota: por um segundo se ganha, por um segundo se perde; e por um voto se ganha, por um voto se perde.
Tinha chegado a hora do debate a dois, mas que, afinal, teve três protagonistas. Se Passos entrou nervoso e com uma “estratégia” mais direccionada a Sócrates, o que não deixa de ser “curioso” para alguém que quer continuar a governar Portugal, Costa parece ter entrado com um pensamento ao estilo: “Hoje é um dia decisivo, tenho que manter uma postura de confiança e de ataque, nomeadamente, à austeridade que arrasou os portugueses, para combater a deterioração do meu resultado, nas últimas sondagens”.
O debate não foi excepcional, não trouxe novidades, não se falou de esquerda e de direita, e não ficará nas memórias da nossa história.
A postura claramente defensiva de Pedro Passos Coelho surpreendeu, mostrando que estaria com excesso de confiança, e que, por isso, não seria necessário preparar e avançar o seu poder ofensivo. A opção em colocar Sócrates, de uma forma “obsessiva”, no debate, não beneficiou o atual primeiro-ministro. Contudo, esse foi o pouco sal e pimenta que teve este confronto, saindo beneficiados os telespectadores.
Está visto que Passos foi, inacreditavelmente, aconselhado a levar até à exaustão o tema do ex-primeiro-ministro, o que o levou a desvalorizar o que fará, caso vença as eleições legislativas que se aproximam.
Há mais dois pontos que mostram que o líder laranja não preparou o debate da melhor maneira, pois queimou-se quando atacou Costa, em relação à redução da dívida da Câmara de Lisboa, e não puxou com astúcia um tema sensível para Costa que se chama Syriza.
Já António Costa esteve mais determinado e incisivo, realçando algumas notas fortes, principalmente, o facto de a coligação PSD/CDS ter sido mais “troikista” que a própria “troika” e de ter falhado várias promessas.
Quando o secretário-geral socialista foi tirar o coelho da cartola, até pensei que fosse algo relacionado com a irrevogabilidade de Portas. Ao invés disso, conseguiu surpreender ao esmiuçar o ridículo e irrelevante, mas famoso, programa “VEM”. Passos não contava com esta tirada e ficou sem reacção.
No ringue, a vitória foi de Costa, que não foi por KO, mas que dá força e ânimo para entrar com confiança nas semanas que restam, até ao dia 4 de Outubro.
Em relação a Passos, só há um caminho, e é o de esquecer Sócrates e dizer aos portugueses quais são as políticas, mostrando também as suas contas, que irão avançar, se vencer as eleições.
Com cerca de 20% de indecisos, os discursos a pedir uma maioria absoluta continuarão, naturalmente, presentes.
Como uns gostam de amendoins e outros gostam de tremoços, importa destacar que Joaquim Rodríguez perdeu a última oportunidade de vencer uma grande Volta.

Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (11/09/2014).

quinta-feira, 2 de julho de 2015

UM VERÃO QUENTE E A EUROPA A "ESCALDAR"...


O verão chegou bem quente, e promete não arrefecer.
Também na Europa, mas de uma outra maneira, o “ambiente” tem aquecido, com a completa descoordenação na forma como estão a ser conduzidas as negociações para debater e resolver a caótica situação grega.
O mesmo acontece com a questão dos refugiados da Síria e da Eritreia, onde os nossos líderes europeus tiveram dificuldade em chegar a um entendimento, o que comprova a sua mediocridade, falta de responsabilidade e solidariedade. Isto parece um filme de terror, pois, quando pensamos que as facadas já terminaram, aparecem motosserras e foices a provocar ainda mais danos.
Já por terras lusas, as últimas sondagens vão indicando que o PS e a coligação PSD-CDS estão distantes de uma maioria absoluta. É um sinal que inquieta, sobretudo, António Costa.
Os resultados das sondagens acabam por ser surpreendentes, depois de se ter tido conhecimento do credível plano macroeconómico lançado pelo maior partido da oposição, e que se afigura como uma verdadeira alternativa.
No entanto, António Costa tem “duas pedras no sapato”: Sócrates, por razões óbvias (e agora vamos imaginar o que acontecerá se o “animal feroz” sair da cadeia, no mês de Setembro), e o Syriza (algumas pessoas olham para o que está a acontecer na Grécia e preferem não correr “riscos” com mudanças. Contudo, a verdade é só uma, pois os “Syriza lusos” são o PCP, BE e Livre/Tempo de Avançar).
Para as próximas eleições presidenciais, enquanto Rui Rio e Marcelo Rebelo de Sousa decidem quem avança, Sampaio da Nóvoa, Henrique Neto e Paulo Morais já andam no terreno, virando-se para tudo o que mexe. São pouco conhecidos e o trabalho será, por isso, árduo!
O que já deu para verificar foi que, alguns candidatos gostam de "dar tiros nos pés", e, por muitos quilómetros que façam, “não há marketeer nenhum no mundo que consiga transformar uma lata de atum num ramo de flores”, como disse António Cunha Vaz.
Voltando ao PS, António Costa optou, e muito bem, por não revelar prematuramente o candidato que o partido irá apoiar.
No entanto, é óbvio que, a partir do momento que Guterres e Vitorino não estão disponíveis para uma candidatura, só existe um caminho possível, e que passa por apoiar Sampaio da Nóvoa, mesmo sabendo que, provavelmente, este não é um candidato que consiga cativar vários socialistas.
            Lá mais para a frente, voltarei a este tema.

Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (30/06/2015).

segunda-feira, 15 de junho de 2015

FIFA, JESUS, BRUNO DE CARVALHO E GRÉCIA

     Temos assitido a semanas tão atribuladas, dentro e fora do mundo de futebol, que dá-me vontade de fazer vários dribles. Outros, porém, ficarão para depois.
Começando no futebol, a FIFA estremeceu quando a justiça americana decidiu entrar em acção.
Há muito que se suspeitava que, realizar um Mundial em sítios quase inóspitos, como o Qatar, teria de ter um preço. Sobre este caso, apetece-me ser irónico: o Mundial de 2022 só não será no Iémen, porque este país não conseguiu cobrir a proposta do Qatar.
Realmente, parece que, na FIFA, tudo tem um preço. Havia já uma grande desconfiança a pairar sobre muita coisa, mas nem me passava pela cabeça que as pequenas selecções também podiam receber dinheiro, se rejeitassem avançar com processos contra as selecções mais poderosas.
Este esquema está tão bem montado e controlado que Blatter conseguiu ainda vencer, confortavelmente, outra eleição, quando a ponta do icebergue já estava bem visível.
Assim sendo, é evidente que a FIFA tem de ser totalmente reestruturada. O desporto mais popular do mundo merece homens sérios!
Em Portugal, Jorge Jesus surpreende, uma vez que assina pelo suposto clube do coração. Foi amado no Benfica, mas veremos se será amado no Sporting.
Como benfiquista, claro que preferia que Jorge Jesus continuasse na Luz, uma vez que conseguiu levantar o monstro adormecido. Porém, tenho a sensação que, se fosse sportinguista, não iria ficar feliz com a substituição que Bruno de Carvalho operou.
Parece que Luís Filipe Vieira não queria o “mestre da táctica”, e tentou empurrá-lo para fora do país. No entanto, o tiro saiu-lhe pela culatra e acabou por empurrá-lo, não para fora do país, mas para o outro lado da segunda circular. Foi uma jogada de enorme risco, e, agora, resta aguardar para ver se o Benfica continuará a ganhar sem Jorge Jesus.
Bem, o que também ficou claro foi que, o antigo treinador do Benfica não tem grande mercado. Ficou comprovado o que já se pensava: no futebol europeu de primeira linha, bem mais importante que dominar a sua própria língua, é brilhar dentro e fora de portas. E este é o calcanhar de Aquiles de Jorge Jesus.
Ora vejamos: excepção feita à época 2011/2012, quando o Benfica atingiu os quartos-de-final, as prestações na Liga dos Campeões foram desastrosas. Com Jesus no comando, o clube foi eliminado, na fase de grupos, quatro vezes em cinco presenças. Em relação à Liga Europa, todos sabemos que é pouco importante no futebol europeu, e desinteressante para clubes com a história do Benfica.
O que é certo é que os homens passam, mas as instituições ficam.
Em relação a Bruno de Carvalho, há que dizer uma coisa muito importante. De homem, pouco ou nada tem. É impressionante ver o tratamento que estão a fazer a um treinador sério e honesto que deu a Taça de Portugal ao Sporting, sete anos depois. O despedimento de Marco Silva roça a humilhação, parvoíce, desrespeito, e é ridículo.
Por isso, espero, agora, que Marco Silva recorra e que se faça justiça no Tribunal do Trabalho.
Deixo, aqui, mais duas notas em relação ao presidente do Sporting. A primeira é que, a pouca racionalidade de Bruno de Carvalho é notória, quando se vê uma equipa gastar tanto dinheiro com um treinador, depois de implementar uma estratégia violenta que visa a redução de passivo. E a segunda nota é que, é bem visível o seu carácter, ou a falta dele, quando não comparece na reunião onde Marco Silva é despedido. 
Avançando para a Grécia, e no momento que escrevo este artigo, ainda não foi alcançado um acordo entre o país helénico e os seus credores, principalmente o FMI e União Europeia, mas este acordo tem de ser obtido, urgentemente, de forma a cumprir os pagamentos até ao próximo dia 30 de Junho.
A odisseia continua, e é óbvio que só os credores e o Governo grego sabem, exactamente, o que está a acontecer, mas quem vê de fora, tira algumas conclusões, como o facto de este acordo não ser fácil de obter, porque o FMI e a União Europeia não querem largar a austeridade, e o Governo está a tentar cumprir o que prometeu aos seus eleitores, ou seja, está a tentar cumprir o impossível. A Grécia pretende, por exemplo, um acordo que inclua uma reestruturação abismal da dívida do país.
Cada lado continua a esticar a corda, mas esta pode mesmo rebentar, ou seja, a bancarrota da Grécia é, cada vez mais, uma forte possibilidade.
Para “complicar” a vida ao Governo, verifica-se que os seus cidadãos não querem voltar ao dracma.
Não sei se é pelo facto de a Grécia representar apenas 2% da economia da Zona Euro, mas parece-me que poucas pessoas estão preocupadas com a possível falência do país. No entanto, convém anotar que este impasse já fez com que os juros da dívida de Portugal subissem para máximos do ano.
            O futuro é cada vez mais incerto, e já nem sei se o FMI, a União Europeia e o Governo de Tsipras e Varoufakis querem que isto acabe bem.

Comentário na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (11/06/2015).

sexta-feira, 15 de maio de 2015

CORRER, SENTIR, CONQUISTAR E... VIVER

A vida desportiva, tal como a política, é feita de desafios e muita luta, mas também de conquistas.
Sentindo o enriquecimento de um combate que venci, e sabendo que os feitos desportivos são inspiradores, partilho o testemunho da minha pequena ascensão e conquista, para que possa inspirar mais portugueses a fazer o mesmo.
Não venci, nos campos de ténis de Melbourne, o Open da Austrália, nem derrotei, no recinto MGM Grand Garden Arena, em Las Vegas, o Floyd Mayweather Jr., mas senti algo tão ou mais vibrante ao cruzar a linha de meta da Maratona de Roterdão.
A experiência inesquecível, onde esteve presente um turbilhão de sensações, decorreu no passado dia 12 de Abril, na Holanda. E pensar que tudo começou há cerca de onze meses, quando fui desafiado por dois familiares, para participar na Meia-Maratona do Douro Vinhateiro.
Como sou um homem de desafios, lá aceitei participar na corrida duriense, no entanto, senti que poderia estar a cometer um dos maiores erros da minha vida. Isto porque, não estava preparado, acima de tudo, em termos físicos para um esforço desta natureza (corria só de vez em quando e tinha algum excesso de peso).
Arrastando-me no asfalto, e deixando-me levar pela bela paisagem, lá consegui finalizar a corrida. Mesmo tendo chegado na cauda do pelotão, e sentido o corpo feito num oito, pensei para mim: “Hei-de fazer melhor... Quero mais!”.
Contando com o apoio da grandiosa instituição Boavista Futebol Clube, e cumprindo os planos da equipa técnica liderada pelo conceituado Prof. Paulo Colaço, passei a correr com maior regularidade. Os quilos a mais desapareceram e os resultados das provas, onde fui participando, comprovaram a minha evolução. Assim sendo, a maratona teria de aparecer na minha vida. Queria percorrer a distância mítica de 42 quilómetros e 195 metros, fazendo, desta forma, uma homenagem ao soldado Fidípides.
Fazendo uma previsão para o primeiro semestre de 2015, a opção recaiu sobre a majestosa Maratona de Roterdão, onde o nosso Carlos Lopes bateu o recorde do mundo, em 1985.
Num país onde o desporto-rei não impera, senti uma atmosfera especial: os holandeses nascem com espírito desportivo.
Arrepiei-me, ao ouvir os holandeses cantarem o hino, antes da partida. A corrida iniciou-se depois do disparo de um canhão. Atravessamos a emblemática Ponte Erasmus, e cerca de um milhão de pessoas iam incentivando os milhares de atletas.
Verdadeiramente impressionante foi ver tantas pessoas a gritar o nome dos atletas. É claro que não foi por nos conhecerem, mas sim porque viram os nomes nos dorsais.
É fantástico sentir o carinho e respeito de tantos adeptos do atletismo, e confesso que me senti um campeão olímpico. Os holandeses admiram quem “enlouqueceu” para correr tantos quilómetros.
Além disto, mais de 70 nacionalidades presentes no pelotão. Um bom exemplo desta verdadeira Torre de Babel: tive uma “lebre” irlandesa, fiz cerca de 10 quilómetros ladeado de um luso-descendente, e terminei próximo de um norte-americano.
Foram 30 quilómetros com as pernas, 5 quilómetros com a cabeça e 7 quilómetros e 195 metros com o coração. Enfim, foi delicioso e inesquecível. Tudo isto numa corrida que durou 3 horas, 16 minutos e 21 segundos.
O meu prémio estava reservado para uns metros depois da meta: um abraço reconfortante da minha mulher e filha. Depois disto, acho que era capaz de correr outra maratona.
Mais importante do que terminar na posição número 1388, num grupo de 11882 atletas que finalizaram a corrida, foi participar numa entusiástica festa desportiva e conhecer a beleza arquitectónica da cidade de Rem Koolhaas (vencedor do prémio Pritzker em 2000).
Corram! Tanto faz que seja na estrada ou nos trilhos, mas façam-no! Corram e divirtam-se. Aproveitem ao máximo a vida.
             Vamos tentar inverter o que Oscar Wilde disse, um dia: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”.

Comentário na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (10/05/2015).

quinta-feira, 19 de março de 2015

"ROTEIROS" COM MUITAS POLÉMICAS À MISTURA

Depois de terem já causado tanta polémica, surgiu outro prefácio do “Roteiros”, do nosso chefe de Estado, a provocar mais um infeliz episódio. 
Cavaco Silva resolveu tocar em dois pontos bem polémicos, ao definir o perfil ideal do próximo Presidente da República, e ao referir que Timor-Leste se empenhou na adesão da Guiné Equatorial às Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e que, assim sendo, era impossível rejeitar esta adesão.
Como dizia Diácono Remédios (personagem interpretada por Herman José): “Não havia necessidade”.
Mas vamos por partes. Pior que atacar, num prefácio do “Roteiros”, um antigo primeiro-ministro de “falta de lealdade institucional”, quando este último tinha já emigrado para estudar, é anotar que um Presidente da República deve, nos dias actuais, ter “alguma experiência no domínio da política externa e uma formação, capacidade e disponibilidade para analisar e acompanhar os dossiês relevantes para o país”.
Não percebo esta afirmação, quando o actual chefe de Estado tem apostado tanto na política externa, como eu na tecnologia aeronáutica, e em vez de estar propriamente activo e disponível, para analisar vários dossiês que têm prejudicado a vida a milhares de portugueses, simplesmente o vemos encostado ao Governo.
Aliás, está tudo dito, quando Cavaco Silva considera praticamente um fait-divers a discussão gerada à volta das dívidas de Passos Coelho à Segurança Social, como se o não pagamento de contribuições de um cidadão fosse um mal menor.
No meio de tudo isto, o pseudo-candidato Santana Lopes tinha de sair imediatamente a terreiro, para dizer que se enquadrava no perfil apontado por Cavaco, no que concerne à experiência ao nível da política externa, realçando, no entanto, toda sua humildade, ao afirmar: “Passe a imodéstia”.
Por favor, não há ninguém que diga ao Santana Lopes que as probabilidades de ele ser Presidente da República são as mesmas que Cavaco pisar a Lua? As suas sete vidas já lá vão!
Noutra parte do prefácio, o Presidente da República também foi algo perigoso: abanou um país que fica a milhares de quilómetros de Portugal, e que é banhado pelo Oceano Índico.
Não é nada elegante sacudir a água do capote, ao alegar que a adesão da Guiné Equatorial, aquele país que é liderado pelo ditador Obiang, à CPLP só teve a aceitação de Portugal apenas para não prejudicar Timor-Leste. No entanto, o ex-presidente timorense, Ramos-Horta, já disse que isso é uma “falsidade”.
Independentemente de tudo, uma coisa é certa: nunca um chefe de Estado pode atirar responsabilidades para um país, sobretudo, quando se trata de um "irmão" de Portugal, por uma posição que é tomada, com clareza, numa cimeira.
Mas, não há que ter peso na consciência. Afinal, a Guiné Equatorial pode ser um dos regimes mais fechados do mundo, porém, há que ter “esperança" que surjam mais fenómenos extraordinários, nomeadamente, na justiça e educação, semelhantes ao que Obiang ganhou, com 103% dos votos (sim, 103% dos votos).
            Com tanta mediocridade, e polémicas atrás de polémicas no seu caminho, Cavaco não deve estar “muy satisfeito”, como esteve Obiang, por exemplo, na badalada cimeira que aprovou a entrada da língua portuguesa no seu país.

Comentário político na "Rádio Alto Ave" e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (12/03/2014).

domingo, 15 de fevereiro de 2015

POLÍTICAS E POLÉMICAS EM TERRAS DE ARISTÓTELES

Pode ser perigoso juntar as palavras “excitação” e “políticos”, na mesma frase, mas vou correr esse risco: a excitação tomou conta dos nossos líderes políticos europeus.
Nos últimos tempos, aborda-se tanto o país de Aristóteles que até já sonho finalizar a maratona de Atenas, e ser premiado com uma coroa de pequenos ramos de oliveira.
​         Pior que discutir o "sexo dos anjos", dão relevância à ausência de gravata de Tsipras, anotam o blusão de cabedal e o luxuoso cachecol de Varoufakis.
Pese embora, parte desta discussão, no nosso país, até se percebe porque Portugal é um país de doutores e engenheiros, onde, por vezes, se procura ter uma boa aparência para esconder a podridão interior.
​         Mas abordando algo bem mais interessante, como as políticas de austeridade, que foram impostas por alguns países europeus nos últimos anos, e que levaram finalmente a alguma coisa, isto é, levaram ao poder a extrema-esquerda coligada com a extrema-direita.
​         Não sei se o famoso palhaço Tiririca, do Brasil, apoiou o Syriza, mas muitos gregos se terão lembrado da sua inesquecível pérola: “Vote no Tiririca, pior do que tá não fica”.
​         Se este Governo é perigoso ou suicida, não sei. O que sei é que não será obsessivamente obediente a Merkel como é o Governo de Passos Coelho.
No entanto, orgulhemo-nos: segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), um em cada cinco portugueses está em risco de pobreza, mas... somos obedientes!
​         Aliás, bastava que o nosso primeiro-ministro batesse, uma única vez, o pé a Merkel, em lugar de fazer um ataque baixo às políticas de um Governo que ele não tem nada a ver que, com certeza, passaríamos de um filme de drama para um belo filme de acção, com alguns momentos cor-de-rosa, quiçá transformar-se-ia num “conto de crianças”.
​         Já sabemos que Tsipras e Varoufakis têm recuado, ligeiramente, nas suas intenções perante tantas muralhas, mas mantêm a vontade de tornar a dívida sustentável e afastar a austeridade, que empobreceu e humilhou o povo grego, durante anos. Ou seja, objectivam algo “simples”, como proporcionar melhores condições de vida aos seus cidadãos.
​         O que é caricato, para não dizer vergonhoso, foi o facto de terem caído, imediatamente, várias bombas atómicas, no país helénico, maioritariamente enviadas da Alemanha, mesmo sem terem ouvido as suas propostas.
​        Mas a verdade é que o problema não é só grego, é também um problema europeu, onde predominaram políticas erradas, que colocaram a União Europeia em estado de coma, com prognóstico reservado.
​         O projecto europeu poder estar mesmo em causa. Os actuais líderes políticos não querem saber se a solidariedade esteve na base da construção europeia, revelando, constantemente, toda a sua mediocridade.

        Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (12/02/2015).

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O OLIMPO DO FUTEBOL TEM MAIS UM NOME: CRISTIANO RONALDO!

       

Somos poucos, mas isso não nos impede de sonhar. Já na altura dos Descobrimentos, sonhamos e tornamo-nos num dos países mais ricos e influentes do mundo.            

É óbvio que não basta sonhar, temos também de lutar e acreditar que é possível atingir os objectivos que traçamos.            

O povo português é destemido e aventureiro. Aliás, os lusos, que fazem as malas rumo aos quatro cantos do globo, levam Portugal no coração. E os que continuam cá, têm imenso orgulho em todos os que emigraram, naqueles que são dignos embaixadores do país.         

Nos últimos anos, inúmeros portugueses destacaram-se um pouco por toda a parte. Elevando, incessantemente, a nossa bandeira, triunfamos no desporto, ciência, tecnologia, literatura, ou mesmo na música.            

Entre muitos que dão cartas fora de portas, há um português que é o expoente máximo da vitória, ambição e notoriedade: Cristiano Ronaldo.

O nosso menino de ouro é a marca portuguesa mais valiosa. Começou no Andorinha, e sonhou ser o melhor do mundo. E, para isso, trabalhou e trabalha, incansavelmente, para ser uma lenda do futebol mundial.

Após muito esforço e dedicação, já vai a caminho da quarta Bola de Ouro. Se a sua ambição não tem limites, também é verdade que sente um enorme orgulho por ter nascido no país de Luís de Camões. Como cantou Herman José, numa música escrita pelo saudoso Carlos Paião: “Deixem-se de tretas, força nas canetas que o maior é PORTUGAL”.

O hat-trick de ouro de Cristiano Ronaldo é absolutamente apaixonante. O futebol move multidões, conseguindo despertar amores e ódios, casamentos e divórcios.

Desde que Maradona pendurou as chuteiras, o futebol encontrava-se sem reis. Ronaldo (o fenómeno), Zidane e Ronaldinho Gaúcho foram príncipes, mas Cristiano e Messi estão num patamar superior, superam-se, continuamente, e são verdadeiros reis.

Agradeço a Deus o facto de pertencer à mesma geração de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Como amante do “desporto-rei”, observo, com enorme satisfação, os dribles monstruosos e remates com selo de golo a que já nos habituaram.

Em relação ao futuro, acredito que o nosso craque vai continuar no topo do futebol mundial, por mais cinco anos.

O melhor jogador de sempre? Bem, uma coisa é certa: o seu nome já está no Olimpo do futebol.

Cristiano Ronaldo, obrigado!

Comentário na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (14/01/2014).