terça-feira, 24 de março de 2020

UM NOVO AEROPORTO... SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO!


E tudo começou em 1969.
Posso anotar vários factos marcantes, nesse ano, como Neil Armstrong ter sido o primeiro homem a pisar a Lua, ou ter sido lançado o álbum icónico “Abbey Road” da banda The Beatles, mas vou focar-me numa ocorrência dentro de portas: dois senhores, um chamado Marcello Caetano e outro Américo Tomás, aprovaram a criação do Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa.
É verdade. Por incrível que pareça, o debate sobre este assunto começou há mais de 50 anos. O Diário de Notícias até noticiou, na época, que o aeroporto seria, com 90% de hipóteses, em Rio Frio, e lá receberiam os “gigantes ‘Concorde’”.
Em 1969, já consideravam um “importante problema nacional”.
Estamos em 2020. Rio Frio é alvo de notícia, mas por causa de uma herdade. Os “Concorde” deixaram de voar. Mais 11 homens conseguiram a proeza de pisar a Lua.
Ah! Em homenagem ao nosso fiel amigo, anoto que a construção de um novo aeroporto, na região de Lisboa, ficou em águas de bacalhau.
Uma grande obra pública para começar, no nosso país, passa o cabo dos trabalhos. Os obstáculos surgem, em todo o lado. Uma autêntica novela sem fim à vista. Enredos intrincados. É oportuno: cresci a ver telenovelas latino-americanas. Quem não se recorda da dobragem para português do Brasil? Enquanto frequentava o ensino básico, almocei várias vezes na minha casa. Recordo a Feijoada à Transmontana que a minha mãe confeccionava. Boa combinação: uma garfada de feijão vermelho, chouriço de carne e couve-lombarda e assistia a uma cena da telenovela.
Vários se sentem como Lila, no livro “A Amiga Genial” de Elena Ferrante, quando esteve, possivelmente, “dominada pela urgência de se sentir encerrada numa visão compacta, sem fissuras”.
Aconteceram momentos marcantes, ao longo de tantos anos. O aeroporto já esteve para ficar em 17 locais diferentes. Tantos estudos e anotações! Tempo perdido e dinheiro que voou entre Rio Frio, Tires, Ota, Alcochete…
A construção de um novo aeroporto é urgente! Voltar à estaca zero? Será uma loucura. Os enormes custos que isso também traz. O turismo desespera. Já aterram mais de 31 milhões de passageiros, anualmente, na Portela.
Há pouco tempo, a “troika” varreu para debaixo do tapete a construção de um aeroporto, mas vai ser agora: o Governo de António Costa optou pela solução Portela + Montijo, e a Agência Portuguesa do Ambiente deu luz verde ao novo aeroporto no Montijo. Ou será que não vai ser agora?
Existe uma questão que fez soar, ultimamente, o alarme. Devem-se ter esquecido que a inexistência do parecer favorável de todos os municípios afectados “constitui fundamento para indeferimento”, e vemos autarcas que são contra o aeroporto no Montijo e que sonham com Alcochete.
Sendo no Montijo, há menos custos e a construção é mais rápida? Não vou fazer como o Mário Lino e embrulhar-me em frases tacanhas com a palavra “jamais”. Acredito nos técnicos qualificados que defendem Montijo como a melhor solução.
Chamo, novamente, Lila e vejo-a estreitar os olhos, “como se reduzir os olhos a uma greta lhe permitisse ver de forma mais concentrada”. Vou tentar fazê-lo.
Uma postura arrogante é nefasta. Faz-me cócegas ver o poder central de nariz empinado, perante o poder local, comunicando uma decisão sem acontecer, previamente, um diálogo construtivo (sempre aberto à negociação), entre ambas as partes.
O poder central tem de estar próximo dos autarcas e ouvir a população. Não vou abordar o encerramento do Serviço de Atendimento Permanente (SAP) nocturno dos Centros de Saúde; o encerramento de Tribunais e o encerramento de Repartições de Finanças.
Não sei se está a acontecer um comportamento arrogante, neste processo, só as partes envolvidas o poderão dizer, o que sei é que não se pode querer alterar a lei, quando não dá jeito.
Imperando o bom senso, o Governo e os municípios devem ser elos da mesma corrente, e saber que projectos, de âmbito nacional, não podem ficar presos a caprichos.

Comentário na Rádio Alto Ave, no jornal Geresão e na Cidadania Vieirense (10/03/2020).