O processo de venda
das 85 obras do pintor surrealista Miró
está a ser um verdadeiro desastre, ou melhor, roça mesmo o surrealismo. Tudo
foi tratado com grande leviandade, e nem a lei foi cumprida.
O cúmulo do
descrédito foi saber que, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto
Xavier, tem tanto conhecimento sobre este assunto como qualquer um de nós. O
seu peso político é zero, foi humilhado, e gostaria de perguntar-lhe o
seguinte: “O que falta acontecer, para apresentar a demissão?”.
Como
o Governo acha que a colecção não tem interesse, e como vale uns milhões, quer
despachá-la, o quanto antes. A estratégia de “vender os anéis” sempre causou
arrepios aos portugueses, o que resulta, nomeadamente, de uma total falta de
visão para a Cultura. Se tivessem esta capacidade, ter-se-iam, certamente,
esforçado para que as obras continuassem em Portugal.
É
óbvio que, não basta ficar com as obras e arrumá-las em prateleiras, como se
fossem pacotes de arroz. A colecção teria de ter uma forte dinâmica, e seria
investimento e não custo.
Aliás,
o Turismo poderia ser beneficiado, com uma forte aposta em Arte Contemporânea,
pois Portugal não pode ser conhecido como um país que tem, apenas e só,
excelentes praias.
Independentemente de toda a
polémica, uma coisa é certa: muitas pessoas passaram a saber quem foi Joan Miró - um dos maiores artistas do século XX.
Quem diria que o artista
catalão conseguiria, durante várias semanas, ter grande visibilidade, em
Portugal, como se de um artista da bola se tratasse?
Não é novidade nenhuma que o actual Governo não gosta da
Cultura, daí ter optado pela extinção do ministério da Cultura, e ter
apresentado o mais baixo orçamento de sempre, para o respectivo sector.
Deve-se
assinalar um pequeno parêntesis: o antigo ministro da Cultura do Governo grego, Pavlos Geroulanos, disse, em
2012, que é uma "loucura" Portugal não ter um ministério dedicado à Cultura,
defendendo também que esta área pode gerar “benefícios” e promover a imagem nacional.
O combate às políticas que
visam reduzir a Cultura a cinzas, quer surjam da direita, esquerda ou centro, é
fundamental, assim como a luta pela preservação do nosso Património Cultural.
Como dizia Churchill, se não é para
preservar a Cultura, então para que é que estamos em guerra?
Comentário político na "Rádio Alto Ave" e jornal "Geresão" (10/02/2014)..