Pode ser
perigoso juntar as palavras “excitação” e “políticos”, na mesma frase, mas vou
correr esse risco: a excitação tomou conta dos nossos líderes políticos
europeus.
Nos últimos
tempos, aborda-se tanto o país de Aristóteles que até já sonho finalizar a
maratona de Atenas, e ser premiado com uma coroa de pequenos ramos de oliveira.
Pior
que discutir o "sexo dos anjos", dão relevância à ausência de gravata
de Tsipras, anotam o blusão de cabedal e o luxuoso cachecol de Varoufakis.
Pese embora,
parte desta discussão, no nosso país, até se percebe porque Portugal é um país
de doutores e engenheiros, onde, por vezes, se procura ter uma boa aparência
para esconder a podridão interior.
Mas
abordando algo bem mais interessante, como as políticas de austeridade, que
foram impostas por alguns países europeus nos últimos anos, e que levaram
finalmente a alguma coisa, isto é, levaram ao poder a extrema-esquerda coligada
com a extrema-direita.
Não sei
se o famoso palhaço Tiririca, do Brasil, apoiou o Syriza, mas muitos gregos se
terão lembrado da sua inesquecível pérola: “Vote no Tiririca, pior do que tá
não fica”.
Se este
Governo é perigoso ou suicida, não sei. O que sei é que não será obsessivamente
obediente a Merkel como é o Governo de Passos Coelho.
No entanto,
orgulhemo-nos: segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), um em cada
cinco portugueses está em risco de pobreza, mas... somos obedientes!
Aliás,
bastava que o nosso primeiro-ministro batesse, uma única vez, o pé a Merkel, em
lugar de fazer um ataque baixo às políticas de um Governo que ele não tem nada
a ver que, com certeza, passaríamos de um filme de drama para um belo filme de
acção, com alguns momentos cor-de-rosa, quiçá transformar-se-ia num “conto de
crianças”.
Já
sabemos que Tsipras e Varoufakis têm recuado, ligeiramente, nas suas intenções
perante tantas muralhas, mas mantêm a vontade de tornar a dívida sustentável e
afastar a austeridade, que empobreceu e humilhou o povo grego, durante anos. Ou
seja, objectivam algo “simples”, como proporcionar melhores condições de vida
aos seus cidadãos.
O que é
caricato, para não dizer vergonhoso, foi o facto de terem caído, imediatamente,
várias bombas atómicas, no país helénico, maioritariamente enviadas da
Alemanha, mesmo sem terem ouvido as suas propostas.
Mas a
verdade é que o problema não é só grego, é também um problema europeu, onde
predominaram políticas erradas, que colocaram a União Europeia em estado de
coma, com prognóstico reservado.
O
projecto europeu poder estar mesmo em causa. Os actuais líderes políticos não
querem saber se a solidariedade esteve na base da construção europeia,
revelando, constantemente, toda a sua mediocridade.
Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (12/02/2015).