A vida
desportiva, tal como a política, é feita de desafios e muita luta, mas
também de conquistas.
Sentindo o
enriquecimento de um combate que venci, e sabendo que os feitos desportivos são
inspiradores, partilho o testemunho da minha pequena ascensão e conquista, para
que possa inspirar mais portugueses a fazer o mesmo.
Não venci,
nos campos de ténis de Melbourne, o Open da Austrália, nem derrotei, no recinto
MGM Grand Garden Arena, em Las Vegas, o Floyd Mayweather Jr., mas senti algo
tão ou mais vibrante ao cruzar a linha de meta da Maratona de Roterdão.
A experiência inesquecível,
onde esteve presente um turbilhão de sensações, decorreu no passado dia 12 de
Abril, na Holanda. E pensar que tudo começou há cerca de onze meses, quando fui
desafiado por dois familiares, para participar na Meia-Maratona do Douro
Vinhateiro.
Como sou um homem
de desafios, lá aceitei participar na corrida duriense, no entanto, senti que
poderia estar a cometer um dos maiores erros da minha vida. Isto porque, não
estava preparado, acima de tudo, em termos físicos para um esforço desta
natureza (corria só de vez em quando e tinha algum excesso de peso).
Arrastando-me
no asfalto, e deixando-me levar pela bela paisagem, lá consegui
finalizar a corrida. Mesmo tendo chegado na cauda do pelotão, e sentido o
corpo feito num oito, pensei para mim: “Hei-de fazer melhor... Quero mais!”.
Contando com
o apoio da grandiosa instituição Boavista Futebol Clube, e cumprindo os planos
da equipa técnica liderada pelo conceituado Prof. Paulo Colaço, passei a correr
com maior regularidade. Os quilos a mais desapareceram e os resultados das
provas, onde fui participando, comprovaram a minha evolução. Assim sendo, a
maratona teria de aparecer na minha vida. Queria percorrer a distância
mítica de 42 quilómetros e 195 metros, fazendo, desta forma, uma homenagem
ao soldado Fidípides.
Fazendo uma
previsão para o primeiro semestre de 2015, a opção recaiu sobre a majestosa
Maratona de Roterdão, onde o nosso Carlos Lopes bateu o recorde do mundo, em
1985.
Num país
onde o desporto-rei não impera, senti uma atmosfera especial: os holandeses nascem
com espírito desportivo.
Arrepiei-me,
ao ouvir os holandeses cantarem o hino, antes da partida. A corrida iniciou-se
depois do disparo de um canhão. Atravessamos a emblemática Ponte Erasmus, e
cerca de um milhão de pessoas iam incentivando os milhares de atletas.
Verdadeiramente
impressionante foi ver tantas pessoas a gritar o nome dos atletas. É claro que
não foi por nos conhecerem, mas sim porque viram os nomes nos dorsais.
É fantástico
sentir o carinho e respeito de tantos adeptos do atletismo, e confesso que me
senti um campeão olímpico. Os holandeses admiram quem “enlouqueceu” para correr
tantos quilómetros.
Além disto,
mais de 70 nacionalidades presentes no pelotão. Um bom exemplo desta
verdadeira Torre de Babel: tive uma “lebre” irlandesa, fiz cerca de 10
quilómetros ladeado de um luso-descendente, e terminei próximo de um
norte-americano.
Foram 30
quilómetros com as pernas, 5 quilómetros com a cabeça e 7 quilómetros e 195
metros com o coração. Enfim, foi delicioso e inesquecível. Tudo isto numa
corrida que durou 3 horas, 16 minutos e 21 segundos.
O meu prémio
estava reservado para uns metros depois da meta: um abraço reconfortante da
minha mulher e filha. Depois disto, acho que era capaz de correr outra
maratona.
Mais
importante do que terminar na posição número 1388, num grupo de 11882 atletas
que finalizaram a corrida, foi participar numa entusiástica festa desportiva e
conhecer a beleza arquitectónica da cidade de Rem Koolhaas (vencedor do prémio Pritzker
em 2000).
Corram!
Tanto faz que seja na estrada ou nos trilhos, mas façam-no! Corram e
divirtam-se. Aproveitem ao máximo a vida.
Vamos tentar
inverter o que Oscar Wilde disse, um dia: “Viver é a coisa mais rara do mundo.
A maioria das pessoas apenas existe”.
Comentário na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (10/05/2015).