O que têm em comum Passos
Coelho e Andy Symonds? O facto de terem conquistado vitórias, no início do mês
de Outubro.
Um deles venceu as eleições
legislativas, em Portugal, sem maioria absoluta, mas com margem folgada, e o
outro venceu de forma imparável o Ultra Trail Atlas Toubkal (UTAT), em
Marrocos.
Mas vamos por partes.
Mesmo depois de quatro anos
implacáveis de austeridade, levando a resultados por demais evidentes, quase
dois milhões de portugueses optaram pela continuidade.
O que provocou este
resultado? O governo de coligação PSD/CDS-PP cumpriu a estratégia que foi
delineada, independentemente do resultado que viesse a alcançar, e manteve-se
coeso, na parte final do mandato.
Já o PS não se mostrou
unido, com os seguristas afastados de António Costa, e o actual
secretário-geral a ter de “contornar”, sistematicamente, as alusões a José Sócrates.
Os eleitores sabem que o PS
não é o Syriza, mas não esquecem os aplausos do partido de Costa ao partido de
Tsipras, e Maria de Belém precipitou-se e, consequentemente, empurrou o partido
para perto de uma ravina.
No meio disto tudo, Costa
fez uma campanha à esquerda, perdendo o centro, e o resultado foi o crescimento
do BE e da CDU.
De realçar que, uma boa
parte dos eleitores indecisos não confiou na coligação PSD/CDS-PP e no PS, e,
uma vez que Catarina Martins esteve assertiva, combativa e determinada,
nomeadamente, nos debates pré-eleitorais, acabou por ser a “solução” para esse
eleitorado.
Uma pergunta ergue-se: por
quanto tempo governará a coligação de centro-direita?
Vários duros acordos
parlamentares terão que ser estabelecidos, mas todos sabemos que a
probabilidade de termos eleições, em menos de dois anos e meio, é a mesma que o
dia de amanhã ter 24 horas.
Mas, agora, rumamos a África,
mais propriamente para Marrocos, o país de Hicham El Guerrouj.
O UTAT é uma das provas mais duras do continente africano,
que testa o limite dos atletas que têm a ousadia de enfrentrar o Atlas, e que
permite explorar os trilhos do povo berbere.
Parece que 105 quilómetros, e 6500 metros de desnível
positivo, foi pouco para o britânico Symonds, tal a frescura que apresentava,
após esta batalha. Já o francês Chorier chegou 39 minutos depois.
Também para a comitiva portuguesa, que participou
nesta aventura, foi uma experiência inesquecível. E eu, como um dos
participantes, olho para a pedra que guardei, quando atravessei uma montanha a
3660 metros de altitude, e penso na dureza, no sofrimento, nas alucinações, na
alegria e no divertimento que esta odisseia me proporcionou.
No dia em que escrevo este artigo, 6 de Outubro, tenho
a sensação que há algo mágico em Marrocos, que nos diz que ficou muito por
conhecer e que teremos de lá voltar.
Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (06/10/2015).