sexta-feira, 15 de maio de 2015

CORRER, SENTIR, CONQUISTAR E... VIVER

A vida desportiva, tal como a política, é feita de desafios e muita luta, mas também de conquistas.
Sentindo o enriquecimento de um combate que venci, e sabendo que os feitos desportivos são inspiradores, partilho o testemunho da minha pequena ascensão e conquista, para que possa inspirar mais portugueses a fazer o mesmo.
Não venci, nos campos de ténis de Melbourne, o Open da Austrália, nem derrotei, no recinto MGM Grand Garden Arena, em Las Vegas, o Floyd Mayweather Jr., mas senti algo tão ou mais vibrante ao cruzar a linha de meta da Maratona de Roterdão.
A experiência inesquecível, onde esteve presente um turbilhão de sensações, decorreu no passado dia 12 de Abril, na Holanda. E pensar que tudo começou há cerca de onze meses, quando fui desafiado por dois familiares, para participar na Meia-Maratona do Douro Vinhateiro.
Como sou um homem de desafios, lá aceitei participar na corrida duriense, no entanto, senti que poderia estar a cometer um dos maiores erros da minha vida. Isto porque, não estava preparado, acima de tudo, em termos físicos para um esforço desta natureza (corria só de vez em quando e tinha algum excesso de peso).
Arrastando-me no asfalto, e deixando-me levar pela bela paisagem, lá consegui finalizar a corrida. Mesmo tendo chegado na cauda do pelotão, e sentido o corpo feito num oito, pensei para mim: “Hei-de fazer melhor... Quero mais!”.
Contando com o apoio da grandiosa instituição Boavista Futebol Clube, e cumprindo os planos da equipa técnica liderada pelo conceituado Prof. Paulo Colaço, passei a correr com maior regularidade. Os quilos a mais desapareceram e os resultados das provas, onde fui participando, comprovaram a minha evolução. Assim sendo, a maratona teria de aparecer na minha vida. Queria percorrer a distância mítica de 42 quilómetros e 195 metros, fazendo, desta forma, uma homenagem ao soldado Fidípides.
Fazendo uma previsão para o primeiro semestre de 2015, a opção recaiu sobre a majestosa Maratona de Roterdão, onde o nosso Carlos Lopes bateu o recorde do mundo, em 1985.
Num país onde o desporto-rei não impera, senti uma atmosfera especial: os holandeses nascem com espírito desportivo.
Arrepiei-me, ao ouvir os holandeses cantarem o hino, antes da partida. A corrida iniciou-se depois do disparo de um canhão. Atravessamos a emblemática Ponte Erasmus, e cerca de um milhão de pessoas iam incentivando os milhares de atletas.
Verdadeiramente impressionante foi ver tantas pessoas a gritar o nome dos atletas. É claro que não foi por nos conhecerem, mas sim porque viram os nomes nos dorsais.
É fantástico sentir o carinho e respeito de tantos adeptos do atletismo, e confesso que me senti um campeão olímpico. Os holandeses admiram quem “enlouqueceu” para correr tantos quilómetros.
Além disto, mais de 70 nacionalidades presentes no pelotão. Um bom exemplo desta verdadeira Torre de Babel: tive uma “lebre” irlandesa, fiz cerca de 10 quilómetros ladeado de um luso-descendente, e terminei próximo de um norte-americano.
Foram 30 quilómetros com as pernas, 5 quilómetros com a cabeça e 7 quilómetros e 195 metros com o coração. Enfim, foi delicioso e inesquecível. Tudo isto numa corrida que durou 3 horas, 16 minutos e 21 segundos.
O meu prémio estava reservado para uns metros depois da meta: um abraço reconfortante da minha mulher e filha. Depois disto, acho que era capaz de correr outra maratona.
Mais importante do que terminar na posição número 1388, num grupo de 11882 atletas que finalizaram a corrida, foi participar numa entusiástica festa desportiva e conhecer a beleza arquitectónica da cidade de Rem Koolhaas (vencedor do prémio Pritzker em 2000).
Corram! Tanto faz que seja na estrada ou nos trilhos, mas façam-no! Corram e divirtam-se. Aproveitem ao máximo a vida.
             Vamos tentar inverter o que Oscar Wilde disse, um dia: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”.

Comentário na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (10/05/2015).