Depois de quase 16 anos à frente do CDS-PP, o “animal
político” Paulo Portas comunicou que não se vai recandidatar à liderança dos
centristas.
Será a despedida definitiva da liderança
do partido, ou talvez não, de um político que desperta paixões, mas que,
também, liberta ódio quanto baste.
Tratando-se de um homem estratega e inteligente (algo que ninguém o pode
negar), preparou habilmente a sua rampa de lançamento
n’O Independente. O semanário foi um projecto político, onde soltava a sua
enorme repulsa em relação a Cavaco Silva, mas sem o ferir com gravidade, e
demonstrava, com alguma excitação, a sua ambição pessoal.
Encaixando várias personalidades,
consoante o momento indicasse, o seu lado assombroso e agressivo está bem
visível na forma como “assaltou” a liderança, que envolveu um ataque pelas
costas a Manuel Monteiro, e no facto de ter apagado nomes na história do
partido como Diogo Freitas do Amaral, não respeitando nem tendo honra no
passado do partido.
Correndo riscos óbvios, Portas desejou que
o CDS-PP fosse “o partido do Paulo”, e moldou-o à sua imagem. Marcou o cenário
político nacional, com uma liderança firme e um temperamento difícil,
controlando toda a máquina partidária.
Portas sai no momento ideal para ele, mas num péssimo
momento para o partido. Tentou liderar o centro-direita de Portugal,
conseguindo bons resultados, mas, agora, seria bem diferente.
Depois das medidas que o Governo de coligação
PSD/CDS-PP implementou, nomeadamente, cortar pensões e aumentar impostos, o
CDS-PP deixou de ser o partido dos pensionistas e dos contribuintes.
Nas próximas eleições legislativas, como é que o actual líder
centrista conseguiria manter um parlamento com tantos deputados? Acresce o
facto de, o partido com Portas ainda não ter ido a eleições sem qualquer
coligação, depois da sua credibilidade ter sido reduzida a cinzas, devido ao
episódio da irrevogabilidade.
Com tudo isto, o CDS-PP pode passar a ser apenas a
quinta força política. Parece que o histórico centrista queria evitar uma saída
a seguir a uma pesada derrota (o seu ego inqueta-o).
Após Portas ter feito alguns ziguezagues ideológicos, enterrando até
importantes bandeiras eleitorais que levaram o partido, em 2011, a um resultado
fantástico, chegou o momento do partido encontrar e clarificar o seu ADN,
quiçá, abraçar novas causas.
Com pouco peso autárquico, o CDS-PP vai entrar numa fase
delicada. Dificilmente terá um líder carismático como Portas, mas parece óbvio
que Assunção Cristas é a pessoa mais indicada, para avançar e renovar o
partido.
O que irá fazer Paulo Portas? Daqui a 10
anos vai concorrer às presidenciais? Ninguém sabe. E pode-se esperar tudo de
quem tinha jurado que, por exemplo, nunca iria a votos... Isto a propósito das
Eleições Europeias de 1994, e posteriormente.
Só se sabe que a questão dos submarinos, e a sua irrevogabilidade, vão
continuar a persegui-lo.
Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (12/01/2016).