No dia 24 de Janeiro, Marcelo Rebelo de Sousa confirmou o favoritismo e
venceu as Eleições Presidenciais.
Num caminho recheado de debates, maioritariamente desinteressantes
e desnecessários, e numa campanha pouco estimulante, foi notório que só Sampaio
da Nóvoa desejava que o dia das eleições não chegasse depressa. Marcelo tinha a
vitória num bolso, e o antigo reitor da Universidade de Lisboa estava, lentamente,
a recuperar terreno. Já Maria de Belém estava no meio de uma avalanche.
Sampaio da Nóvoa ainda ganhou alguma força e
esperança, após encostar Marcelo Rebelo de Sousa às cordas, nos debates.
Contudo, tinha um grande “calcanhar de Aquiles”, que um Presidente da República
não pode ter, e que era, precisamente, a ausência de experiência política.
Mesmo assim, conseguiu uma votação
simpática e, como anunciava antes da campanha, foi mesmo “bonito”, mas esteve
longe de unir a esquerda.
Em relação a Maria de Belém, o mistério continua a ser
o porquê desta candidatura. A sua falta de carisma e empatia com os portugueses
sempre foi evidente, e, a agravar este cenário, foi atropelada pela decisão do
Tribunal Constitucional, a respeito das subvenções vitalícias. Sai,
dispensavelmente, pela porta pequena.
De realçar que, nestas Presidenciais, o PS estava numa posição difícil.
No entanto, e depois de Maria de Belém ter entrado também na corrida, o partido
fez bem em não apoiar nenhum candidato, pois iria lançar álcool sobre várias
feridas.
Depois de se saber que António Guterres e António Vitorino não seriam
candidatos, as portas de Belém abriram-se, escancaradas, para Marcelo. Desde
cedo, criou uma dinâmica de vitória, conquistando votos também no
centro-esquerda.
Muitos consideram que o candidato vencedor chegou onde
chegou porque teve palco, na televisão, durante vários anos, mas sejamos
moderados. Marques Mendes e Pacheco Pereira “entram” nas nossas casas, há já
vários anos, e a questão impõe-se: Caso se candidatassem, será que
conquistariam mais votos do que Marisa Matias?
A presidência de Marcelo será diferente de Cavaco Silva. Sem o
preconceito ideológico do ainda Presidente da República, o antigo comentador
deve procurar manter o seu estilo descontraído e genuíno, humanizando Belém e
procurando estabelecer pontes. Um dos grandes desafios passa já por serenar as
relações entre Belém e São Bento.
Várias notas finais: Marisa Matias surpreendeu, transmitindo uma
mensagem em conformidade com a linha do Bloco. Edgar Silva foi uma má escolha
do PCP, não conseguindo, sequer, agarrar os comunistas que são, por norma,
fiéis ao partido. E quanto a Vitorino Silva, uma das sensações destas
Presidenciais, podem tecer-lhe muitas críticas que, ainda assim, confirmou-se,
nos resultados eleitorais, o facto de um homem humilde e honesto valer mais do
que um pseudo-intelectual.
Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira".