Desde o lançamento da primeira
pedra, até à inauguração do Túnel do Marão, Lili Caneças tirou
uma “selfie”, ao lado de Jorge Jesus, o Argozelo conseguiu vencer uma
Taça da Associação de Futebol de Bragança e, nas Presidenciais, Vitorino
Silva conquistou 457 votos, em Rebordosa, concelho de
Paredes. Ah, e a empreitada passou por cinco governos e três
primeiros-ministros.
Vários acontecimentos (uns mais
importantes do que outros) foram decorrendo, ao longo de oito
anos, que pareciam intermináveis, e que iam adiando o sonho,
principalmente dos transmontanos.
O importante momento, que
envolveu o passado dia 7 de Maio, foi tão frenético e excitante
que Passos Coelho, que até já foi presidente da Assembleia
Municipal de Vila Real, mas que preferiu não estar presente
na inauguração, teve uma alucinação e referiu que nunca
participou em inaugurações de obras.
Quem não perdeu uma boa oportunidade,
para reagir a Passos, foi o “animal político”
José Sócrates, indo de encontro ao que disse Lili Caneças: “Estar vivo é o
contrário de estar morto”.
O Túnel do Marão tinha sido uma promessa de
campanha de Sócrates, que foi um dos poucos políticos a lutar
pela construção do túnel, e apareceu “fresco como uma alface”.
De salientar o quanto foi curioso atestar
que o antigo primeiro-ministro socialista consegue ser o centro
de todas as atenções, sempre que aparece em público,
levando a que os microfones tenham nele o seu destinatário
favorito, e fazendo com que António Costa procure, habilmente, fugir
aos holofotes.
Foi uma das inaugurações mais
marcantes, na história da região. Uma região pouco
desenvolvida, sendo, nomeadamente, esquecida pelo poder central e
não, cuidadosamente, valorizada pelo poder local.
O Marão era um bloqueio ao desenvolvimento
de Trás-os-Montes e Alto Douro, e o Túnel do
Marão será alternativa a uma estrada com um percurso montanhoso e
manchada de sangue - o IP4.
Diminuindo desigualdades, e aconchegando o
interior, ao litoral, o túnel sempre traz alguma esperança aos
transmontanos. No entanto, 5 665 metros de alcatrão nunca serão
a “galinha dos ovos de ouro” de uma região, não resolvendo todos os
problemas. Como anotou Manuel Carvalho, no Público: “Para que Trás-os-Montes e
o Alto Douro se desenvolvam, [...] vai ser preciso o que tanto tem
faltado: ousadia, empenho, perseverança, estratégias e investimentos”.
Para terminar, partilho algumas palavras
sentidas de um poeta que tanto se inspirou na Serra do Marão, Teixeira de
Pascoaes:
Chegada de Marânus à Montanha
Amo-te, ó Serra, em tudo o que tu és!
Amo-te, desde a rocha que em ti sofre
Ao tojo bravo e à urze tão mesquinha
De que sempre te vestes, porque, enfim,
Tu és grande, e, portanto, pobrezinha!
Amo-te, desde a rocha que em ti sofre
Ao tojo bravo e à urze tão mesquinha
De que sempre te vestes, porque, enfim,
Tu és grande, e, portanto, pobrezinha!
(Teixeira de Pascoaes, in Marânus)
Comentário político na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira".