Quem
diria que, no ano de 2016, a minha filha deixaria de chorar, quando visse o
Ruca; a nossa selecção nacional venceria o Campeonato da Europa de Futebol, e
um português fosse escolhido para secretário-geral da Organização das Nações
Unidas (ONU). O que falta? Portugal tornar-se numa das maiores economias
europeias.
O mais alto cargo diplomático do mundo irá ser,
assim, ocupado por um homem que nasceu na Europa Ocidental.
Entrando
nos bastidores desta eleição, ou melhor, nos mexericos, o jornal The Wall Street Journal declarou apoio a
Vuk Jeremic, e as jogadas de Merkel, Putin e Juncker não resultaram.
Parece
que Merkel nos traiu, sendo uma das pessoas que mais lutou para que Guterres
não conseguisse vencer. Provavelmente, influenciada por um
provérbio português: "As palavras são como as cerejas, vêm umas atrás das outras", procurou descarregar
a sua verborreia, e influência, em alguns amigos para que vencesse a candidata
Kristalina Georgieva. Uma curiosa coincidência:
“Toni” passou grande parte da sua infância na aldeia de Donas, no Fundão (a
cereja é a imagem de marca do concelho).
As
manias da “superioridade” de algumas pessoas são repugnantes. Portugal é o
país de José Saramago e a Alemanha é o país de Günter Grass. Portugal
é o país de Egas Moniz e a Alemanha é o país de Albert Einstein. Portugal
é o país de Cristiano Ronaldo e a Alemanha é o país de Franz Beckenbauer. Mas
o próximo secretário-geral da ONU é português!
Depois
desta vitória, a minha vontade é atravessar o Portão de Brandemburgo, vestindo
uma camisola da selecção portuguesa, com o nome GUTERRES gravado nas costas.
Esta
eleição é uma das maiores satisfações que algum dia poderíamos ter. É
extraordinário ver o que conseguiu um candidato de um país pequeno no tamanho,
mas grande na alma.
E,
precisamente, no dia em que se assinalou a Implantação da República Portuguesa,
a 5 de Outubro, sabe-se que, um dos nossos grandes republicanos irá ocupar um
cargo tão prestigiante. Que feliz coincidência!
António
Guterres foi Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados e
primeiro-ministro de Portugal. É um homem inteligente, humilde e de
diálogo, que facilmente constrói pontes, e o seu humanismo e reputação internacional
fazem dele a pessoa certa para a liderança da ONU.
Os
desafios serão imensos, ou não existisse a crise dos refugiados; o conflito na
Síria; focos de preocupação na Líbia, Iraque, Iémen e Sudão do Sul; ameaça do
terrorismo global, da islamofobia e dos
nacionalismos populistas; programa nuclear da Coreia do Norte; alterações
climáticas, ou o combate à pobreza. Mas estou certo de que, Guterres tem todas
as capacidades, para responder com grandiosidade a todos estes desafios.
Comentário na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (10/10/2016).