“Socialista,
republicano e laico”, assim era Mário Soares. Um homem que
nunca deixou de lutar pela liberdade e pela democracia. A sua enorme capacidade
política e combatividade, características tão singulares, tornaram-no
inesquecível.
O “pai da democracia”, como
era apelidado, sonhou um país livre, e, sendo um homem corajoso e um verdadeiro
estadista, lutou contra a ditadura de Salazar.
Ainda mais importante do que
anotar que foi uma das personalidades mais marcantes do século XX, é destacar
que é devido a Mário Soares, e a mais alguns cidadãos, que, hoje, posso
escrever livremente. Que podemos viver em liberdade!
Arrisco-me a apontar que foi o
político mais consensual.
Naturalmente, não faltaram
momentos polémicos e duros, no seu percurso político. A descolonização foi um
deles, assim como a divisão de Portugal, em resultado do Processo
Revolucionário em Curso (PREC), mas que Soares conseguiu serenar.
Profundamente europeísta,
levou um país fechado à integração europeia. A assinatura do tratado de adesão
de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE) é um dos acontecimentos
que permanece na memória de todos os que o vivenciaram.
Fazendo inúmeras vezes
equilibrismo em cima do arame, enfrentou opositores de grande respeito, como
Álvaro Cunhal, Francisco Sá Carneiro ou Diogo Freitas do Amaral.
Não foi pessoa de se deixar
acomodar, procurando sempre manifestar a sua opinião, nem que tal não fosse do
agrado do partido que fundou e do qual foi o primeiro líder - o Partido
Socialista.
“(...) Num sítio tão frágil como o mundo”, como anotou
a poetisa Sophia de Mello Breyner, atirou
fósforos acessos para palheiros prontos a arder. E sofreu bastante, numa vida
tão preenchida.
Um lutador que nem desarmou quando, nas
presidenciais de 1986, partiu só com 8% dos votos nas sondagens. Acabou a
presidente!
Há momentos que nunca esqueceremos.
Seja o debate com Cunhal; o slogan
“Soares é fixe”; as excitantes eleições contra Freitas do Amaral, ou montado
numa tartaruga gigante, nas Seychelles.
Mário Soares nunca deixou de
lutar e, raramente, abrandou. Os portugueses, estou certo, estão-lhe
eternamente gratos. A sua memória perdurará.
Até sempre, Mário Soares,
lutador sem medo!
Comentário na "Rádio Alto Ave", e jornais "Geresão" e "Notícias de Vieira" (10/01/2017).