Vivemos
num mundo encorpado de anormalidades!
Vivemos
num mundo onde alojamentos não permitem a presença de crianças, com menos de 12
anos de idade, mas onde animais de estimação vão poder entrar em restaurantes.
Vivemos
num mundo onde a cultura continua a ser desprezada e espezinhada, por quem vai
ocupando certos e determinados cargos.
Vivemos
num mundo onde a alegria de estar prestes a ser novamente pai não anula tiques
ditatoriais e a ira, contra tudo o que mexe. Chamo, como é óbvio, Bruno de
Carvalho ao palco. O futebol dentro das quatro linhas não se discute, como tem
sido hábito no nosso país, o que interessa é saber se a lombalgia do ainda
presidente do Sporting Clube de Portugal irradia para os membros inferiores.
Mais do que insólito, isto é ridículo!
Vivemos
num mundo onde há quem coloque Lula no mesmo patamar de Mandela, o que é o
delírio resultante de tão excitante novela. A vontade de beber caipirinha
dispara com tanta emoção. Melhor que isto, só o comentário de um dos nossos
antigos primeiros-ministros sobre a detenção de Lula.
Vivemos
num mundo onde há quem procure saber o porquê de não terem sido convidados
políticos para o casamento do príncipe Harry de Inglaterra com Meghan Markle.
Inspirando-me num grande sucesso musical português, anoto: “Feliz de quem,
possa dizer / Que tem ainda quem lhe (...)” dê que fazer.
Vivemos
num mundo onde a família real espanhola procura disfarçar desentendimentos
provocados pelas amêndoas amargas que ingeriram, como aquelas crianças que se
abraçam em frente aos pais, depois de um conflito causado por um saco de gomas,
mas com o irmão mais velho a pressionar o pé direito no pé esquerdo do irmão
mais novo, no momento do abraço. Isto não é linha, é bingo na estupidez!
Vivemos
num mundo onde as banalidades são alvo de atenção, e onde o sofrimento humano
passa velozmente ao lado.
Vivemos
num mundo onde um ataque químico mata famílias, na Síria, e os poucos líderes
ferozes que condenam esta monstruosidade são, curiosamente, Trump e Erdogan.
Vivemos
num mundo onde lemos notícias com títulos agoniantes, como: “Crianças fazem quimioterapia no corredor do
Hospital de São João”.
Vivemos num mundo estúpido! Vamos seguir John Williams,
que, no livro Stoner, procurou elevar a personagem principal, “(...) embora por vezes sentisse que era em vão que vergava
as costas contra a tempestade fustigante e punha as mãos futilmente em concha
para proteger o tremeluzir ténue do seu derradeiro fósforo”.
Comentário na Rádio Alto Ave e jornal Geresão (12/04/2018).