Com a
imensidão de programas sobre o Mundial de futebol, e com todos os caminhos a
dar a Kratovo, já aprendi algumas palavras em russo e sonho encontrar-me com
José Milhazes na Praça Vermelha.
Entretanto,
no nosso país, a temperatura subiu, depois de o primeiro-ministro, António
Costa, ter dito que o Governo não tem 600 milhões de euros, por ano, para
professores.
Como grande
parte dos temas da educação, este dossier é sensível e devemos tratá-lo com
pinças. Vamos olhar, tranquilamente, para os dois lados da barricada e, com tanto pingue-pongue,
vamos é apresentar os jogadores:
- Mário Nogueira: é o principal
rosto dos professores, tendo a singularidade de não dar aulas há mais de 25 anos;
- Tiago Brandão
Rodrigues: foi praticante de karaté. Como ministro da
Educação, os golpes não têm sido muito certeiros. A falta de traquejo político
prejudica-o.
O jogo
começa:
- Mário Nogueira começa logo
a esticar a corda: “Queremos recuperar os cerca de 9 anos em que o tempo de
serviço esteve congelado, pode ser?”;
- Na
bancada, várias pessoas levantam cartazes, que dizem: “E as forças
de segurança?”, “E os que não têm carreiras com progressões
automáticas?”, “Onde vão buscar os 600 milhões de euros? Os impostos vão
subir?”;
- Tiago Brandão Rodrigues
responde a Mário Nogueira: “Não! E 2
anos, 9 meses e 18 dias?”;
- O líder da Fenprof rejeita, e acusa-o de “chantagem”;
- O
ministro da Educação pede a substituição, e entra António Costa;
- O
primeiro-ministro assume que o compromisso foi só o “descongelamento das
carreiras na função pública”. Há dúvidas na bancada. Facto: o tão badalado projecto de resolução aprovado
no Parlamento, no dia 15 de Dezembro de 2017, é “apenas” uma recomendação ao
Governo para que reconhecesse o tempo integral;
- Este jogo
terminou.
Parece que
foram criadas expectativas que apontavam para o cumprimento das pretensões dos
sindicatos, mas também é verdade que o Governo nunca prometeu reconhecer todo o
tempo de serviço aos professores.
Vamos
esperar que exista bom senso, nas negociações, sabendo-se que a posição actual
dos sindicatos é insensata, e que o Governo perde credibilidade se ceder,
consideravelmente, na busca de uma solução.
Para
terminar, uma pequena nota para a posição de Rui Rio, em todo este processo. No
surpreendente livro de David Grossman, “Um Cavalo Entra Num Bar”, registei a
seguinte frase: “(...) não fosse a tentação a que é tão difícil resistir – a de
espreitar o inferno do outro”. Ou seja, não é a procurar o inferno que se chega
ao poder, aliás, tal como fez Passos Coelho, nos últimos meses que esteve à
frente do partido, e o resultado foi o que se viu.
Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (14/06/2018).