À
semelhança do que vai acontecendo, em vários pontos do globo, o descrédito da
população com políticos é tal que ajuda no crescimento da onda populista.
No
Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, aconteceram casos de corrupção,
ao longo de vários anos, o que levou a um enorme desgaste dos partidos
tradicionais. Os eleitores estão cansados de quem os tem governado!
Jair
Bolsonaro (Capitão do Exército, na reserva) já há muito que ansiava a sua
oportunidade. Começou a esfregar as mãos de contente em 2014: arrancou a
Operação Lava Jato (que investiga o enorme escândalo de corrupção, tendo
envolvido 14 partidos). Também o impeachment,
de Dilma Rousseff, e a detenção de Lula foram vitaminas para o fortalecimento
do seu populismo.
No
meio deste pântano, pode-se safar quem for outsider.
Bolsonaro deve ter pensado: “É o momento
certo! Chegou a minha vez!”. Resultado: vence a primeira volta das eleições
presidenciais do Brasil, com 46,03% dos votos. No discurso após este resultado,
continuou a bater na mesma tecla: “Mergulhámos
na mais profunda crise ética, moral e económica. Nunca visto. O nosso país está
à beira do caos.”
O
candidato de extrema-direita, do Partido Social Liberal (PSL), foi andando aos
tropeções (estando para a economia como eu estou para a astrologia), e acabou
por ser favorecido quando menos esperava, uma vez que foi alvo de um atentado e
a sua fragilidade sensibilizou os eleitores.
Algo
surpreendente é a amnésia presente. Como se podem esquecer de tantas afirmações
racistas, homofóbicas e asquerosas de Bolsonaro? Não esqueço, por exemplo, o
que ele disse em 2015: “Mulher deve
ganhar salário menor porque engravida.”
Mais,
Bolsonaro defende a ditadura militar! Bolsonaro defende a tortura! A democracia
pode correr sérios riscos no país de Machado de Assis. Registem a afirmação de
Fernando Bizzarro, investigador na Universidade de Harvard: “Bolsonaro é mais perigoso do que Trump.”
Sem
o carisma do seu adversário, Fernando Haddad rema contra a maré. É verdade que
o Partido dos Trabalhadores (PT) está moribundo e, como Lula consegue mobilizar
uma parte do eleitorado, a estratégia foi “aguentá-lo” como candidato, até à
linha de arranque. No entanto, a colagem a Lula prejudicou seriamente Haddad,
pois não teve espaço para caminhar e foi lançado aos leões, ou melhor, a
Bolsonaro.
O
candidato, que ficou em terceiro lugar na primeira volta, Ciro Gomes, do
Partido Democrático Trabalhista (PDT), pode votar até em Haddad, na segunda
volta, mas, infelizmente, vê-se uma onda de vitória com Bolsonaro que, muito
dificilmente, conseguirá ser travada.
Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (14/10/2018).