No dia
2 de Novembro, leio uma notícia, no sítio da Visão, onde salta à vista a
presença de Margaret Atwood no “Fórum
do Futuro”, no Porto. Registo! Uma oportunidade única para ouvir a escritora
canadiana a quem Kazuo Ishiguro pediu
desculpas, quando ganhou o Nobel da Literatura de 2017.
Atwood
é conhecida por lançar distopias que se aproximam da realidade. A vontade
cresce, até ao dia 8. Chego a esse dia. Entro na cidade e oiço buzinadelas de
um condutor (suponho que pela minha hesitação no local onde estacionar).
Encosto o carro, fecho os olhos e penso: “Estou em Napóles? Parece-me que cheguei ao
sul de Itália.” Olho para placas informativas e percebo que estou perto do
Mercado do Bolhão.
O
relógio indica 12h21. Coloco a mochila às costas e direcciono-me ao Teatro
Rivoli, para levantar o bilhete para o encontro nocturno com a escritora. A
bilheteira abre às 13h00 e a fila é considerável. A cultura portuense está em
boa forma.
A
barriga começa a dar horas e procuro, na Internet, onde fica o restaurante “O
Afonso”, uma das referências gastronómicas da Invicta, para o saudoso Anthony Bourdain. Chego e enfrento mais
uma fila. Relaxo e delicio-me. Numa escala de 0 a 10, a minha nota é 9,5.
Realce para a decoração que domina no restaurante, onde destaca Bourdain e Ayrton Senna. Se um brilhou na cozinha, o outro foi rei nas pistas.
Com a
energia no máximo, sigo até à Igreja de São Francisco. A sua construção
iniciou-se no século XIV e o conjunto de talha dourada barroca, do século
XVIII, é arrebatador. Voltam recordações de Itália: paguei sete euros pela
entrada, mais um euro por um pequeno folheto.
O
tempo ajuda e a caminhada prossegue. Chego ao Terreiro da Sé e admiro a
paisagem deslumbrante, com 15 grandes pinceladas de estruturas metálicas. Sim,
avisto 15 gruas! A cidade rejuvenesce!
Chego
à Avenida dos Aliados e um aroma intenso persegue-me. Comida indiana? Quero andar
mais e oiço: “Olha, quentes e boas.”
Não resisto: compro uma dúzia de castanhas assadas! A minha nota é 9.
Começa
a chover e anoitece. É o momento de ler algumas páginas do livro que me tem
acompanhado - “Reservatório 13”, de Jon
McGregor. Meia hora depois, recebo uma mensagem da minha mulher: “A Benedita não quer ir à aula de balé,
porque doí-lhe a barriga.” Fecho o livro. Passados alguns minutos, diz-me
que foi na mesma. Bravo! Volto a abrir o livro.
Às
21h30, entro no Teatro Rivoli. Num ambiente multicultural, Margaret Atwood apresenta, sempre com boa disposição, imagens da
sua infância e lança notas sobre as suas obras, nomeadamente, a relevância que
dá à mitologia. Curiosidade: escreveu a sua principal obra, “A História de Uma
Serva”, no ano em que nasci, em 1984, e a distância que nos separava era de
“apenas” cerca de 2500 quilómetros. Eu em Vieira do Minho e Atwood em Berlim.
Para
realçar a importância deste encontro, basta destacar, não os elogios do
moderador, Gareth Evans, ao Vinho
Verde, mas sim a sua conclusão: “Depois
desta conversa, vamos todos para casa, sob a chuva desta noite de Novembro, a
pensar no que é que andamos a fazer com as nossas vidas.” A minha nota é
10.
Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (14/11/2018).