E a 13.ª vítima de violência
doméstica de 2019 morreu, perto de minha casa.
A noite do dia 6 de Março era fria.
Num ambiente tranquilo, assistíamos aos resumos dos jogos da Liga dos Campeões.
Marega foi um poço de força, Lukaku decisivo. Os golos são a pimenta.
A paz foi interrompida. À volta da lareira, a minha mulher lia, numa rede
social, uma notícia: “Uma mulher foi assassinada...” Ficamos em choque! “Mais
uma vítima. Em Salamonde?”
O drama da violência doméstica
tem atingido tantas habitações. Desta vez, acontece perto da nossa casa.
Habitações impregnadas de violência. Diariamente, os telejornais abrem com
notícias sobre crimes hediondos.
O que há a fazer, no combate a
este flagelo? Os vizinhos não fazem nada? Não devemos apenas consolar as
vítimas, e os familiares das vítimas. Ajuda-me Dulce Maria Cardoso, com a tua
obra “Eliete”: “...e ninguém dava conta
porque quase nunca se dava conta de nada a não ser quando a realidade nos
entrava pelos olhos adentro e, mesmo assim, preferíamos cegar a ver.”
Antigamente, não se podia pôr
a colher entre marido e mulher. Estamos em pleno século XXI. A violência
doméstica é um crime público! Não quero um
retrocesso civilizacional. Não quero a brandura de Neto
de Moura e a sua “lista negra.”
A violência doméstica é
banalizada. É uma realidade que atinge todas as idades e classes sociais, não
se protegendo as vítimas e os seus filhos.
Não quero “recursos de cosmética”, para disfarçar um hematoma
facial.
No dia seguinte, é o primeiro
dia de luto nacional.
Tenho a noção que a vida é feita de altos e baixos. Realço mais uma frase
da “nossa” Dulce Maria Cardoso: “Ser
feliz de forma plena era a maneira de experimentar a imortalidade. Mas sendo a
felicidade provisória, era mortal, a imortalidade.”
No dia 14 de Fevereiro, não é obrigatório oferecer um
jantar romântico à luz das velas e partilhar o momento nas redes sociais. Não
temos de conhecer as principais canções de amor. Vamos respeitar quem está ao
nosso lado nos dias 1, 5, 8, 13, 18, 27... Uma relação de amor também dá
trabalho!
Se não concordamos com o rumo
que a relação está a seguir, devemos reconhecer que é o momento de trilharmos
caminhos diferentes. A obsessão de insistir numa fórmula, que deixou de
resultar, pode levar ao desespero. Desespero e loucura. Loucura e ódio. Ódio e
vingança.
Dois dias antes de
assinalarmos o Dia Internacional da Mulher, a 11.ª mulher vítima de violência
doméstica morreu, a 17 quilómetros de minha casa.
Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (13/03/2019).