Antes de tirar do armário a
minha toalha de praia, o chapéu de palha da minha mulher e o balde da Ladybug da
minha filha, abri o jornal e registei várias notas: o sol brilha; a temperatura
sobe; acontece o que era expectável e tornou-se inevitável; concretizam-se
sonhos e voltam algumas memórias.
Se Assunção Cristas admitiu,
finalmente, que a posição do seu partido, em relação aos professores, “foi um
erro”, Donald Trump sonhou ser presidente dos Estados Unidos e apresentar-se,
no Dia da Independência, numa parada militar com tanques e helicópteros, e não
apenas com marchas (os sonhos foram concretizados e houve festa).
Vamos às memórias. Fez quinze
anos que Portugal foi derrotado, na final do Campeonato Europeu de Futebol de
2004. Tínhamos vencido Espanha, Inglaterra e Holanda. O pensamento que
predominava era, “a final está ganha!”
Há que comemorar num ambiente frenético.
Com Nuno Gonçalves, um amigo de infância, seguimos, no seu mítico carro Renault
Clio (cor branca), para Braga. Na Praça da República, o ecrã gigante
demonstrava o clima de festa, antes do apito inicial. A ansiedade pelos festejos
crescia. Tudo pronto para lançar os foguetes. Espumantes no frigorífico, barris
de cerveja, em todas as esquinas, e tremoços a escassear. Levantamos os cachecóis.
Scolari reza a Nossa Senhora de Caravaggio. Murtosa alisa o seu bigode farfalhudo,
com o dedo indicador da mão direita, e olha para uma bancada. Eu olho para o
céu. Nuno foi buscar duas cervejas.
Público presente no Estádio da
Luz: 62.865 pessoas. A bola começou a rolar.
Roemos unhas. Saltamos. Ricardo
não tirou as luvas. Eusébio não acreditava no que estava prestes a acontecer.
Nuno foi buscar mais duas cervejas. Todos sabemos o resultado. Várias pessoas emocionadas,
abraçadas. Ronaldo chorou. Não chorei. Nuno recolheu os copos de plástico. Dirigimo-nos
ao McDonald’s, escolhemos Big Mac e bebemos água (o único aspecto positivo da
derrota foi a troca de bebida).
Já no carro, enquanto o Nuno sintonizava
a Rádio Alto Ave, recordei as exibições deslumbrantes de Ricardo, Ricardo
Carvalho, Maniche, Figo, Rui Costa e Ronaldo. Entrei em casa, perto das 23
horas.
Não sou muito destas coisas, mas o destino… Há dias, as duas selecções voltaram
a encontrar-se e Portugal foi, novamente, derrotado (Charisteas, o nosso
“carrasco”, também marcou). Mais: vi parte do jogo de estreia da nossa selecção,
em Braga, e perdemos; vi os jogos, até à final, na “minha terra amada”, e ganhamos
todos, e volto a Braga, para ver a final, e perdemos.
Desde então, voltei várias vezes a Braga, mas nunca para ver um jogo de
Portugal, num ecrã gigante.
Sabem
uma coisa? A final não estava ganha, vimo-nos gregos para ultrapassar esta dor e
faltou-nos humildade!
Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (11/07/2019).