Nas férias, tive a companhia indispensável dos livros.
Tinha terminado “Este País não é para Velhos”, do americano Cormac McCarthy, e
de uma escrita descarnada e violenta, passo a enfrentar o lirismo da escrita do
canadiano Michael Ondaatje, com “A Luz da Guerra”.
Entre transportes de baldes de areia húmida; corridas para
apanhar o guarda-sol levado pelo vento; vinte e sete sacudidelas de grãos de
areia da toalha da Benedita e um abrandar da sua efervescência por visitar,
proximamente, um parque de dinossauros, consegui avançar na leitura. De realçar
que a capa do livro passou a ter outra beleza: protector solar, no centro, e
creme de bola de Berlim, no canto superior esquerdo.
Uma história de abandono dá o pontapé de saída do romance,
onde Ondaatje, com o calor das suas palavras, resgata a memória. O livro lança
um certo assombro, na fase inicial, quando o narrador, que se chama Nathaniel,
anota que, “As pessoas não são quem nós pensamos, nem estão onde julgamos que
estão”, referindo, posteriormente, que, “Omissões e silêncios tinham rodeado o
nosso crescimento”.
Bem, a caminho do fim da leitura do livro, estou encantado
pela magia de Ondaatje. Perguntarão: e autores portugueses? Aguardo a segunda
parte de “Eliete”, o romance de Dulce Maria Cardoso. A primeira parte foi
surpreendente!
Vou mudar o holofote. Por vezes, o sol não foi abrasador,
mas três acontecimentos, em áreas distintas, elevaram a minha temperatura corporal.
Senão vejamos:
- Pisava eu terras transmontanas, quando soube que José Cid
vai receber um Grammy Latino de Excelência Musical. Irreverente, polémico,
oiço-o poucas vezes, mas reconheço-lhe enorme talento. Esqueçam quando posou nu
com um disco de ouro a tapar-lhe as partes íntimas. É mais uma vitória para a
música nacional;
- Jorge Fonseca foi pai, aos 17 anos; aos 22, venceu um
tumor e, aos 26, foi o primeiro português campeão mundial de judo. Falta ser
polícia e ganhar uma medalha olímpica. Eu acredito! Os feitos no desporto são
verdadeiramente inspiradores. Se pensam desistir de lutar, falem com o Jorge
Fonseca;
- O Papa Francisco anunciou a nomeação do arcebispo
português Tolentino de Mendonça a Cardeal. Um momento de regozijo, não só para
os católicos. Aos 53 anos, o poeta e teólogo Tolentino é o segundo membro mais
jovem do Colégio Cardinalício. Momento para olhar para o futuro e sonhar, sendo
oportuno recordar Pedro Hispano, o Papa português João XXI, a quem o poeta
Dante, com “A Divina Comédia”, colocou a alma no Paraíso. A simplicidade une,
também, Tolentino de Mendonça a Pedro Hispano.
Para terminar, um salto a Lobios. Se é verdade que as águas
quentes de Lobios “dão para cozer batatas”, como disse a minha filha, também é
verdade que não vi o Julio Iglesias (um amigo disse-me que costuma vê-lo por
lá). Aliás, músico só vi um - o António Sousa, natural de Vila Praia de Âncora.
Comentário na Rádio Alto Ave e Geresão (12/09/2019).