José Sócrates teve um
regresso triunfante após dois anos de “retiro espiritual” no “país da
liberdade”. Depois de tantos ataques de que foi alvo nos últimos tempos, o seu
aparecimento era expectável.
É claro que Sócrates não
deixa ninguém indiferente e a prova disso é que se instalou logo um grande
rebuliço mal se soube que ia ser comentador político da RTP. Foi ridículo
vermos milhares de pessoas a assinar petições, recusando a presença do antigo
primeiro-ministro como comentador da estação pública, e tudo isto quando
encontramos Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa nos outros canais
generalistas. Certo é que a entrevista de relançamento que concedeu à RTP foi a
mais vista de sempre, ou seja, muitos cidadãos que subscreveram as petições
assistiram à entrevista, o que não deixa de ser extremamente curioso.
Sócrates teve uma excelente
prestação, justificando, principalmente, o seu passado governativo. Obviamente
que tem algumas responsabilidades no estado do país, mas não lhe podem ser
todas incutidas. Até podem dizer que a despesa pública disparou nos seus
mandatos, o que é verdade por muito que o socialista tente “esquecer”,
nomeadamente, os primeiros meses de 2011. Contudo, é bom lembrar aos mais
distraídos que ele foi o responsável pelo maior crescimento económico da década
passada e que tínhamos um desemprego de “apenas” 12% quando saiu do Governo.
Entre “narrativas” e
“embustes”, deve realçar-se três pontos:
1.º: Enquanto Sócrates
ocupou a chefia do Governo, o PSD ignorou a crise internacional, mas agora
aponta a crise europeia como uma das maiores entraves à recuperação de
Portugal...
2.º: Ninguém sabe se o PEC
IV teria “sucesso” caso tivesse sido aprovado, ou se teríamos, ou não, dinheiro
para pensões e salários sem ajuda externa. O que se sabe é que o rolo
compressor que se chama “troika” não seria tão destruidor com Sócrates no
comando, ou melhor, não seria obsessivamente obediente à “troika” como Passos
Coelho e Vítor Gaspar têm sido. Estão a aplicar uma austeridade doentia e um
exemplo elucidativo é que o memorando não previa cortes no subsídio de férias e
de Natal.
3.º: As duras críticas a
Cavaco Silva já eram esperadas. O nosso chefe de Estado atacou violentamente o
antigo ocupante do Palácio de São Bento depois de este ter emigrado. Existiu falta
de lealdade institucional quando Sócrates omitiu o PEC IV? Sim, se bem que isso
não é nada comparado à quantidade de minas que Cavaco colocou no seu caminho.
Estranhou-se o facto de o
antigo primeiro-ministro ter aguentado tanto tempo afastado da cena política,
dado que ele precisa destes combates como Jackson Martínez precisa de golos. Os
bombardeamentos à coligação serão fortes, “substituindo” Seguro nesse papel.
Ficou mais uma vez
comprovado que Sócrates é um excelente comunicador e que entusiasma inúmeros
portugueses com o seu estilo muito próprio. Consegue despertar paixões e ódio,
não existindo meio-termo, e sabe o que quer, ao contrário de alguns, que não
são carne nem peixe.
Comentário político no jornal "Notícias de Vieira" e "Rádio Alto Ave" (01/04/2013).