quarta-feira, 3 de abril de 2013

O REGRESSO DO "ANIMAL FEROZ"


José Sócrates teve um regresso triunfante após dois anos de “retiro espiritual” no “país da liberdade”. Depois de tantos ataques de que foi alvo nos últimos tempos, o seu aparecimento era expectável.
É claro que Sócrates não deixa ninguém indiferente e a prova disso é que se instalou logo um grande rebuliço mal se soube que ia ser comentador político da RTP. Foi ridículo vermos milhares de pessoas a assinar petições, recusando a presença do antigo primeiro-ministro como comentador da estação pública, e tudo isto quando encontramos Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa nos outros canais generalistas. Certo é que a entrevista de relançamento que concedeu à RTP foi a mais vista de sempre, ou seja, muitos cidadãos que subscreveram as petições assistiram à entrevista, o que não deixa de ser extremamente curioso.
Sócrates teve uma excelente prestação, justificando, principalmente, o seu passado governativo. Obviamente que tem algumas responsabilidades no estado do país, mas não lhe podem ser todas incutidas. Até podem dizer que a despesa pública disparou nos seus mandatos, o que é verdade por muito que o socialista tente “esquecer”, nomeadamente, os primeiros meses de 2011. Contudo, é bom lembrar aos mais distraídos que ele foi o responsável pelo maior crescimento económico da década passada e que tínhamos um desemprego de “apenas” 12% quando saiu do Governo.
Entre “narrativas” e “embustes”, deve realçar-se três pontos:
1.º: Enquanto Sócrates ocupou a chefia do Governo, o PSD ignorou a crise internacional, mas agora aponta a crise europeia como uma das maiores entraves à recuperação de Portugal...
2.º: Ninguém sabe se o PEC IV teria “sucesso” caso tivesse sido aprovado, ou se teríamos, ou não, dinheiro para pensões e salários sem ajuda externa. O que se sabe é que o rolo compressor que se chama “troika” não seria tão destruidor com Sócrates no comando, ou melhor, não seria obsessivamente obediente à “troika” como Passos Coelho e Vítor Gaspar têm sido. Estão a aplicar uma austeridade doentia e um exemplo elucidativo é que o memorando não previa cortes no subsídio de férias e de Natal.  
3.º: As duras críticas a Cavaco Silva já eram esperadas. O nosso chefe de Estado atacou violentamente o antigo ocupante do Palácio de São Bento depois de este ter emigrado. Existiu falta de lealdade institucional quando Sócrates omitiu o PEC IV? Sim, se bem que isso não é nada comparado à quantidade de minas que Cavaco colocou no seu caminho.
Estranhou-se o facto de o antigo primeiro-ministro ter aguentado tanto tempo afastado da cena política, dado que ele precisa destes combates como Jackson Martínez precisa de golos. Os bombardeamentos à coligação serão fortes, “substituindo” Seguro nesse papel.
Ficou mais uma vez comprovado que Sócrates é um excelente comunicador e que entusiasma inúmeros portugueses com o seu estilo muito próprio. Consegue despertar paixões e ódio, não existindo meio-termo, e sabe o que quer, ao contrário de alguns, que não são carne nem peixe. 

Comentário político no jornal "Notícias de Vieira" e "Rádio Alto Ave" (01/04/2013).