terça-feira, 26 de abril de 2016

INTERVENÇÃO NA SESSÃO SOLENE EVOCATIVA DO 42.º ANIVERSÁRIO DO 25 DE ABRIL


Intervenção na Sessão Solene evocativa do 42.º aniversário do 25 de Abril, que decorreu no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Vieira do Minho.


REVOLUÇÃO

Como casa limpa 
Como chão varrido 
Como porta aberta

Como puro início 
Como tempo novo 
Sem mancha nem vício

Como a voz do mar 
Interior de um povo

Como página em branco 
Onde o poema emerge

Como arquitectura 
Do homem que ergue 
Sua habitação

Este poema, escrito por Sophia de Mello Breyner Andresen, dois dias depois da Revolução, lança a nova face de um país que estava preso a um regime ditatorial, de um país fechado sobre si mesmo, e que sofria de uma forte repressão social.
Os portugueses sonhavam com um país livre e justo, e, a partir daqui, teve início uma nova vida.
Nasci cerca de 10 anos depois da Revolução dos Cravos e, desde cedo, me instruíram que a Revolução teve, no Capitão Salgueiro Maia, o seu grande herói. O seu célebre discurso, na madrugada de 25 de Abril de 1974, será eternamente recordado, por todos os que desejaram Abril, e que começa assim:
“Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos!”
As palavras mobilizaram 240 homens, que permitiram que a minha geração nascesse num país livre; num país que mudou imediatamente após o 25 de Abril, e que conseguiu diversas e importantes conquistas, na sociedade.
Constantes reivindicações levaram o país a importantes transformações políticas e sociais. No ano de 1974, avança o salário mínimo, a pensão social e o “13º mês”, para os pensionistas; em 1975, é atribuído o subsídio de desemprego; em 1979, é criado o Serviço Nacional de Saúde; em 1980, o Regime Não Contributivo da Segurança Social e, em 1984, é instituída a Lei de Bases da Segurança Social.
Noutras áreas, o sistema de educação mudou, diminuindo, drasticamente, a literacia e a reforma agrária avançou.
Estas importantes conquistas reflectem um conjunto de mudanças imediatas, logo após a entrada da democracia, estabelecendo-se uma relação entre Governo e cidadãos, bem diferente do que acontecia até então, registando-se, também, os direitos que as mulheres ganharam.
Os portugueses almejavam uma vida melhor. Como anotei anteriormente, os portugueses sonhavam com um país livre e justo.
Com tudo isto, posso apontar com clareza que, Abril não falhou! É óbvio que foram cometidos vários erros, numa das democracias mais jovens da Europa, de que são exemplo, a pobreza, a exclusão social e as desigualdades, que continuam a ser grandes preocupações e que têm obrigado a emigrar milhares de portugueses, mas Abril não falhou!
Já nasci num país sem censura. Vivi sempre em democracia. Não passei as angústias e sofrimento que muitos de vocês viveram.
Fica, por isso, aqui, o meu reconhecimento a todos os que combateram a ditadura; a todos os que auxiliaram a abrir as portas da democracia; a todos os que responderam às injustiças sociais, e a todos os que defenderam e defendem um país melhor.
Num povo que já foi a maior potência mundial, numa sociedade que sofre, nomeadamente, uma perda de valores, enfrentando uma crise de identidade, deixo uma mensagem de esperança, terminando com outro poema de Sophia de Mello Breyner Andresen:

25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo 


VIVA O 25 DE ABRIL!
VIVA A LIBERDADE!
VIVA VIEIRA DO MINHO!
(Fotografia: Município de Vieira do Minho).