Ainda na ressaca dos apertos e saltos dados nos
festejos do golo de Jiménez, começo a escrever algumas notas sobre as eleições
presidenciais francesas.
Um pianista, sem partido, tornou-se Presidente de
França. Um dos maiores burburinhos foi criado devido à idade de Emmanuel
Macron, como se a idade fosse um atestado, nomeadamente, de inteligência. É
algo tão admirável como as palavras de Saul Bellow, no livro «Herzog»: «(...) Como se cambaleando pudesse recuperar
o equílibrio ou admitindo um grão de loucura pudesse recuperar a razão».
Aliás, tanto ruído e o ex-ministro da Economia nem
entrou para o pódio actual dos chefes de Estado mais jovens à frente de um
país.
Com mais dúvidas do que certezas, o resultado foi,
acima de tudo, um alívio para os cidadãos do país de Victor Hugo. Este alívio
está bem expresso nas palavras de um eleitor, ditas, curiosamente, no dia
anterior às comemorações do fim da II Guerra Mundial: a Marine Le Pen é como os
franceses que “colaboraram com os nazis, durante a Segunda Guerra Mundial”.
Bem, no mínimo, palavras aterradoras.
Macron não terá vida fácil. Enfrentará um duro teste,
no próximo mês, com as eleições legislativas. Terá a árdua tarefa de conquistar
uma maioria parlamentar para avançar, sem sobressaltos, com o seu programa. Dos
seus principais objetivos, constam reduzir a despesa, em cerca de 60 mil
milhões de euros, e implementar a controversa reforma da lei do trabalho.
Numa economia quase estagnada, e com uma taxa de
desemprego a rondar os 10%, veremos se o pró-europeu Macron irá fortalecer o
eixo franco-alemão. Isto, numa Europa marcada pelo nacionalismo e populismo, e
pela saída do Reino Unido da União Europeia.
Numas eleições fora do comum, onde os partidos
instituídos foram claramente derrotados, devemos perceber todos os sinais. Já
anotou também Bellow, no livro «Herzog»: «Um
dos trabalhos mais difíceis da vida é simular que não se percebe o que se
percebeu logo».
Em relação a Marine Le Pen, é assustador saber que,
numa sociedade multicultural, cerca de onze milhões de pessoas confiaram o seu
voto numa candidata da extrema-direita. De realçar que Trump, Putin e Erdogan
continuam com uma vaga na mesa.
Durante cinco anos, ainda se vai “respirar de alívio”.
Para o bem de todos, ou quase todos, espero que o mandato de Macron não seja um
falhanço, porque, se for, tenho a terrível sensação de que Le Pen ficará com as
portas escancaradas do Palácio do Eliseu.
Comentário na Rádio Alto Ave e jornal Geresão (10/05/2017).