segunda-feira, 26 de junho de 2017

MACRON: A VITÓRIA QUE TROUXE "ALÍVIO" AOS FRANCESES


Ainda na ressaca dos apertos e saltos dados nos festejos do golo de Jiménez, começo a escrever algumas notas sobre as eleições presidenciais francesas.
Um pianista, sem partido, tornou-se Presidente de França. Um dos maiores burburinhos foi criado devido à idade de Emmanuel Macron, como se a idade fosse um atestado, nomeadamente, de inteligência. É algo tão admirável como as palavras de Saul Bellow, no livro «Herzog»: «(...) Como se cambaleando pudesse recuperar o equílibrio ou admitindo um grão de loucura pudesse recuperar a razão».
Aliás, tanto ruído e o ex-ministro da Economia nem entrou para o pódio actual dos chefes de Estado mais jovens à frente de um país.
Com mais dúvidas do que certezas, o resultado foi, acima de tudo, um alívio para os cidadãos do país de Victor Hugo. Este alívio está bem expresso nas palavras de um eleitor, ditas, curiosamente, no dia anterior às comemorações do fim da II Guerra Mundial: a Marine Le Pen é como os franceses que “colaboraram com os nazis, durante a Segunda Guerra Mundial”. Bem, no mínimo, palavras aterradoras. 
Macron não terá vida fácil. Enfrentará um duro teste, no próximo mês, com as eleições legislativas. Terá a árdua tarefa de conquistar uma maioria parlamentar para avançar, sem sobressaltos, com o seu programa. Dos seus principais objetivos, constam reduzir a despesa, em cerca de 60 mil milhões de euros, e implementar a controversa reforma da lei do trabalho.
Numa economia quase estagnada, e com uma taxa de desemprego a rondar os 10%, veremos se o pró-europeu Macron irá fortalecer o eixo franco-alemão. Isto, numa Europa marcada pelo nacionalismo e populismo, e pela saída do Reino Unido da União Europeia.
Numas eleições fora do comum, onde os partidos instituídos foram claramente derrotados, devemos perceber todos os sinais. Já anotou também Bellow, no livro «Herzog»: «Um dos trabalhos mais difíceis da vida é simular que não se percebe o que se percebeu logo».
Em relação a Marine Le Pen, é assustador saber que, numa sociedade multicultural, cerca de onze milhões de pessoas confiaram o seu voto numa candidata da extrema-direita. De realçar que Trump, Putin e Erdogan continuam com uma vaga na mesa.
Durante cinco anos, ainda se vai “respirar de alívio”. Para o bem de todos, ou quase todos, espero que o mandato de Macron não seja um falhanço, porque, se for, tenho a terrível sensação de que Le Pen ficará com as portas escancaradas do Palácio do Eliseu.

Comentário na Rádio Alto Ave e jornal Geresão (10/05/2017).