sexta-feira, 27 de maio de 2022

AS "RAÍZES" DO SR. REIS (SEGUNDA PARTE)



Com 18 anos de idade, decorria o ano de 1952, começou a trabalhar na limpeza da floresta, na Serra da Cabreira, onde ganhava, por dia, 18 escudos. Este trabalho não durou muito, uma vez que o padrinho arranjou um emprego mais bem pago e, assim, avançou para a freguesia de Salamonde, onde estavam a construir a barragem.
No novo destino, trabalhou na zona das escombreiras, até uma tragédia fazer estremecer a sua vida. No dia 4 de Outubro de 1952, presenciou um grave acidente de trabalho e uma ambulância arrancou em direcção ao Porto, para examinarem o amigo Manuel José Gil de Bárbara, no Hospital, mas não chegaram ao destino. Manuel sucumbiu, nas proximidades de Vila Nova de Famalicão; a ambulância inverteu a marcha e o Sr. Reis foi o mensageiro da fatalidade à família.
Perante tamanha dor, pediu para mudar de funções e começou a plantar cedros, nas limitações da albufeira. Porém, sem grande demora, queriam que fosse trabalhar para a construção da barragem de Caniçada. O amparo do pai falou mais alto. Como ficava mais longe que Salamonde, o progenitor não deixou e, assim, regressou a casa, em Fevereiro de 1953.
Mudanças constantes, na actividade profissional, polvilharam a vida, no resto da década de 50.
Voltou à floresta, nos serviços de limpeza, no Sutinho e em Campos, neste último que é, como o Turio, um dos seus territórios de eleição. Passado pouco tempo, puxou dos seus galões, na matemática, sendo um dos capatazes na construção da estrada entre Lamas de Maria e Paradinho, e, depois, deu uma saltada a Ferral, concelho de Montalegre, durante quatro meses, para limpeza das condutas.
Tinha chegado a hora de prestar serviço militar, em Braga. Fê-lo, desde o dia 2 de Abril de 1955 até ao dia 31 de Julho de 1956 e, felizmente, chegou a ajudante de cozinha, onde o deslumbramento acontecia. Isto, quando poucos tinham acesso a uma alimentação rica.
Chamou-o uma das terras que amava e foi trabalhar para os serviços florestais de Campos. Continuou a entregar, aos pais, todo o dinheiro que recebia, mas começou a ganhar algum para si, quando agarrou a oportunidade do guarda-florestal Barnabé, não esquecendo as suas palavras: “Vais à missa, a Ruivães. Depois, passas em casa para comer uma malga de água de azeite com pão de milho moído. Traz uma merenda e dás a volta ao cantão”.
Os pais deixavam que ele ficasse com o dinheiro deste trabalho, que fazia aos domingos.
Esteve na casa dos pais, até ao dia 12 de Maio de 1960, data em que surgiu um acontecimento que viria a influenciar o resto da sua vida. “Um senhor com muitos conhecimentos, que se chamava Amadeu e vivia em Ruivães, avisou-me do concurso para guarda-florestal, e lá fui fazer o curso a Sintra”, recorda.
Começou a exercer as funções de guarda-florestal, em Gave, freguesia do concelho de Melgaço, e, no dia 9 de Novembro de 1960, regressou ao concelho onde nasceu. O engenheiro Ernâni da Silva, que foi Administrador Florestal em Vieira do Minho, era uma “pessoa muito boa” e bem lhe tinha dito que ia ficar pouco tempo em Melgaço, uma vez que surgiria uma vaga, em breve, em Vieira do Minho.
Tinha chegado o momento de conhecer aquela que viria a ser a sua casa, até ao dia 23 de Setembro de 1983 - a Casa de Guarda do Turio, construída entre 1923 e 1925. Está tudo resumido numa frase, que me disse com emoção: “A vida correu sempre muito bem, no Turio”.
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Opinião de Filipe de Oliveira na Rádio Alto Ave, n'O Jornal de Vieira e na Cidadania Vieirense.