segunda-feira, 13 de março de 2023

AS "RAÍZES" DO SR. REIS (TERCEIRA PARTE)


No dia 10 de novembro de 1960, o Sr. Reis assentou arraial no coração da Serra da Cabreira, na Casa de Guarda Florestal do Turio, freguesia de Cantelães, onde reina a beleza. Recorda: “Tantos cavalos de raça garrana; corços; coelhos; javalis; lobos; perdizes; pombos-bravos; o ribeiro das Campainhas; as minhas árvores favoritas - as sequoias (...); os três viveiros na Cabreira, (...) lá, plantávamos pinheiro-silvestre e pinheiro-larício e semeávamos pinheiro-bravo”.

Verdadeiramente encantador! Como anotou o Padre José Carlos Alves Vieira, em relação a Cantelães, que escreveu a obra literária mais importante sobre o concelho de Vieira do Minho - o livro “Notícia Histórica e Descritiva”, nos anos 20 do século passado, e do qual transcrevo a seguinte frase: «Por toda a parte canta e salta a agua fresca e limpida, pelas varzeas de vegetação luxuriante (...)».

Mas o Sr. Reis lamenta que, anos depois, “desapareceu quase tudo, devido, nomeadamente, aos incêndios”, o que é uma dor sem fim!

Pouco tempo depois, a Serra da Cabreira acolheu a esposa do Sr. Reis. Após dois anos de namoro, chegou o momento de o Sr. Reis casar com a D. Maria Deolinda Vieira da Silva, na Igreja Matriz de Ruivães. O matrimónio, que foi celebrado pelo Padre Alberto, aconteceu no dia 8 de Janeiro de 1961, às 12h30, e a festa continuou na casa do tio do noivo, Manuel Fraga, que ofereceu o repasto, com vitela, chouriço e presunto. A D. Maria avançou, assim, para o Turio e nascem os filhos: Maria Isabel Silva Fraga, nasceu no mesmo ano do casamento, e José António Silva Fraga, nascido em 1963.

Os filhos frequentaram a Escola Primária de Cantelães, e os domingos eram marcados pela celebração da Eucaristia, na Igreja Matriz de Cantelães, onde as palavras do Padre Francisco eram ouvidas sempre com atenção. Quando a missa terminava, os quatros membros da família dirigiam-se à Loja do Serafim e compravam produtos, para os dias que se seguissem, como o bacalhau e o açúcar.

Quando queria ir ver os pais, não tinha outro remédio: ia a pé. A vida passou a ganhar mais ritmo, com a compra de uma motorizada, em 1975, o que aconteceu um ano antes de um corte raso de vários hectares de pinheiro-bravo, em Salamonde e Ruivães, resultando num enorme desgosto para o Sr. Reis e “numa receita de 7 mil contos para as duas comunidades”.

A equipa que estava no Turio executava vários serviços e contava com quatro pessoas: os irmãos Avelino e Almeno, o Almeno “Gato” e Arnaldo. Só Arnaldo e a família do Sr. Reis viviam no Turio, onde tinham forno para cozer o pão; um galinheiro; uma coelheira, entre outros.

Eis que surge um momento emocionante da conversa: “Já era mestre-florestal e, a pedido do Engenheiro Artur Fidalgo, saí do Turio, no dia 23 de Setembro de 1983, para estar perto da Administração do Parque Florestal, que ficava na vila de Vieira do Minho”.

No Turio, a ocupação humana não durou muito mais tempo e deu lugar à degradação do edifício. Com carinho e saudade, este sentimento tão português, o Sr. Reis ofereceu-me uma folha com dados relativos às casas existentes, no perímetro da Serra da Cabreira e no Parque Florestal.

A aposentação chegou no dia 27 de Fevereiro de 1987. Regressou a Vale, com a esposa, e trabalhou na agricultura. Plantando couves; batatas e milho, merecendo registo um episódio que não esquece: com recurso a uma vara, descobriu água no subsolo onde, ainda nos dias de hoje, corre o precioso líquido.

O falecimento da mulher, no dia 18 de Abril de 2015, foi o momento mais difícil da sua vida, que, apesar de tudo, prossegue com o amor dos filhos e dos funcionários da instituição que o acolheu: o Centro Social Interparoquial de Ruivães, Campos e Salamonde.