segunda-feira, 13 de março de 2023

BELARMINA DE JESUS MARTINS


𝐁𝐄𝐋𝐀𝐑𝐌𝐈𝐍𝐀 𝐃𝐄 𝐉𝐄𝐒𝐔𝐒 𝐌𝐀𝐑𝐓𝐈𝐍𝐒
“𝐂𝐀𝐕𝐀 𝐄 𝐀𝐒 𝐏𝐄𝐒𝐒𝐎𝐀𝐒 𝐂𝐄𝐍𝐓𝐄𝐍Á𝐑𝐈𝐀𝐒 𝐃𝐄 𝐕𝐈𝐄𝐈𝐑𝐀 𝐃𝐎 𝐌𝐈𝐍𝐇𝐎”
Nasceu na freguesia de Soengas, em Vieira do Minho, há 100 anos, a 17 de fevereiro de 1922.
Belarmina de Jesus Martins, assim se chama esta centenária, recorda, com uma lucidez incrível, a infância, por entre brincadeiras, mas também de trabalho árduo; os pais - agricultores, e os irmãos mais novos, Daniel e Alice.
Apesar de tudo, não sabe em que data nasceu: “Isso por datas, não vai lá. Não sei ler! (…) Não andei na escola. Não havia escola, no meu tempo”, refere.
Com humor, fala do casamento. “Não tinha marido. Fui ao engano”, diz.
Teve uma filha, mas a família cresceu, numerosa, contando, hoje, com sete netos e doze bisnetos.
Cortava mato; trabalhava no campo, e fazia tudo o que podia para ajudar a filha que, depois de casar, viu o marido “ir para a tropa”.
Mulher de armas, Belarmina não desistia de lutar, por um destino mais sorridente.
Quando questionada sobre qual o segredo para chegar aos 100 anos, é perentória: “Foi lá chegar. Os anos a passar e eu a ficar velha”, partilha, com grande simplicidade.
Nestes 100 anos, o momento mais feliz foi, sem dúvida, “ter uma filha”, e o momento mais triste foi ver partir “o genro para a tropa”.
Ocupa, agora, os dias a fazer croché. Entre meias e camisolas, vai mostrando, com mestria, a habilidade que faz com as mãos. Há, ainda, tempo para rezar o terço e ir à missa. “A gente não pode perder a fé”, sublinha.
A lucidez faz com que recue no tempo, rapidamente, e com facilidade. Vai recordando momentos trágicos, a que assistiu, como foi “a morte do filho do Sr. Vilaverde, que morreu queimado, pois pôs-se a brincar com a pólvora”, mas relembra também as coisas mais simples, como a “sopa que se fazia com feijões meio cozidos”. “Ao meio-dia, íamos comer aquele caldo. Não era sopa, era caldo. O povo, antes, era muito parolinho a falar e só dizia tudo a aldrabar”, conta Belarmina, de sorriso no rosto.
Passou fome, em tempos difíceis. Servia em casa dos patrões, que também eram pobres. Mas se eram pobres, “podiam fazer eles os trabalhos”, ironiza.
“Trabalhava que nem uma moura e a passar fome. Passei uma vida muito ruim”, lamenta.
Apesar de tudo, há vivacidade e luz no rosto de Belarmina, e um sorriso sempre pronto a florescer!
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Um projeto CAVA, visto pelo olhar atento de João Sousa, fotógrafo e videógrafo, com o apoio do Instituto Português do Desporto e Juventude, I. P. (IPDJ, I. P.); O Jornal de Vieira e Rádio Alto Ave.