“(...) Para algumas pessoas, a ignorância é uma venda que confundem com
lentes correctivas”. Nada melhor que começar com uma frase de um dos
grandes talentos da literatura americana, Anthony Marra, no livro “O Czar do
Amor e do Tecno”.
Com ou sem “lentes correctivas”, o que se sabe claramente é que Trump foi
eleito, há cerca de um ano, e o “circo” continua montado, nos Estados Unidos da
América, exibindo números dignos de pertencer a um espectáculo de Victor Hugo
Cardinali.
Se, ao logo deste tempo, publicou mais de 2400 tweets e, segundo a imprensa norte-americana, passou 25% do seu
tempo como Presidente a jogar golfe, surge, imediatamente, uma pergunta: o que
terá feito no pouco tempo que lhe restou?
Se há pessoa ambiciosa, essa pessoa é Donald John Trump. Lembram-se de ter prometido, no discurso da vitória, que a economia ia
crescer o dobro? Inicialmente, a “máquina” começou a todo o gás, mas depois
“parou” (as últimas previsões de crescimento da economia dos Estados Unidos,
para o ano que decorre, já estão dentro dos valores dos últimos quatro anos).
Indo de encontro ao que escreveu Marra, no livro supracitado: “O motor fez vruuuuuum, mas a gravidade exerceu mais
força do que o motor”.
E a destruição do Obamacare? Vontade não falta a Trump, mas a vontade não
chega já que os republicanos, no Congresso, parece que não estão para alinhar
em fanfarrices. Mas a verdade é que Trump também tinha vontade de olhar para o
eclipse sem óculos, e olhou.
Agora, é o momento de baterem palmas e agitarem bandeiras: já saíram os
protótipos para o muro com o México. Esperando que não passem de protótipos, o
meu grande medo, neste momento, é se o Presidente vier a desejar pisar a Lua!
Podem arrumar as bandeiras: a NATO, que era obsoleta, afinal não o é;
provoca Cuba; com tantas demissões, o reboliço na Casa Branca é marca Trump;
espicaça, desnecessariamente, o Irão e Trump está para os imigrantes e para o
ambiente como Bashar al-Assad está para a paz.
É por estas, e por tantas outras, que a sua popularidade é a mais baixa
para um Presidente dos EUA. Anthony Marra também anotou: “Transformar eu faria em eu fiz é a gramática do crescimento”.
Em suma, a viagem de Mr. Trump começa num tweet e vai acabar numa tacada.
Comentário na Rádio Alto Ave e jornal Geresão (13/11/2017).